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Davi, de Michelangelo, depois do banho
Rosângela Espinossi
Do Diário do Grande ABC
Com AJB
14/10/2004 | 10:26
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Se sobram motivos para qualquer turista que visitar a Itália não deixar de ir a Florença, há um mês a cidade oferece um atrativo a mais: a estátua de Davi, de Michelangelo, restaurada. Na verdade, um atrativo não seria bem o termo apropriado, afinal, a escultura completou 500 anos no dia 8 de setembro e nunca saiu do berço do Renascimento. Ícone de beleza masculina, visto por milhões de apreciadores, a estátua passou por uma limpeza profunda que custou US$ 600 mil.

A obra, esculpida em mármore, com cerca de 5 m de altura e 5,5 toneladas, volta assim a ter seu brilho original e desponta como a grande atração da temporada, já que o governo da Itália festeja os cinco séculos de Davi com grande pompa. Até dezembro, haverá concertos com apresentações de óperas, muita música clássica e shows pirotécnicos. Conferências e exposições mostram e discutem a arte. Tudo isso regado a hospitalidade italiana e cercada pela beleza de Florença. Na própria galeria, onde antes estavam as pinturas renascentistas, estão quadros de artistas contemporâneos inspirados em Davi, como George Baselitz, Luciano Fabro, Jannis Kounellis e Robert Morris. Uma espécie de contraste com mestres de tempos distantes.

Davi foi esculpido depois de um período de grande turbulência para homenagear a nova república de Florença. Michelangelo retirou seu Davi de um bloco de mármore com defeitos e que fora rejeitado anteriormente por dois conhecidos artistas da época, Agostino di Duccio e Antonio Roselino. Entre 1501 e 1504, o escultor (1475-1564) dedicou seu tempo à transformação do mármore bruto na figura perfeita e musculosa do herói bíblico, que derrotou Golias. O artista, também responsável pela pintura da Capela Sistina, no Vaticano, entre centenas de outras obras, decidiu representar Davi com porte atlético, extremamente concentrado e pronto para a luta, assim como o povo de Florença.

Michelangelo e uma comissão, formada por nomes como Leonardo Da Vinci e Sandro Boticelli, resolveram instalar a obra em frente ao Palácio Vecchio, na praça della Signoria, símbolo da república, onde ficou até 1873. Para que isso acontecesse, essa parte da cidade foi alterada: arcos destruídos, ruas alargadas e mais 40 homens e cinco dias para colocar a figura de Davi de pé em frente ao palácio. Mas o esforço foi recompensado. As imperfeições do mármore não só foram superadas, como também a estátua atravessou séculos sendo reconhecida como uma das mais importantes da história.

Restauração - O processo de limpeza da escultura foi dirigido por Cintia Parnigoni, que adotou o método úmido, processo que gerou polêmica. As substâncias líquidas foram usadas para retirar a camada de pó, cera, gesso e outras impurezas que recobriam partes da estátua. Os críticos temiam que o método provocasse um branqueamento excessivo em sua superfície. O resultado, no entanto, acalmou as vozes discordantes. E hoje, Davi exibe sua tez polida e uniforme no pódio da Academia, onde está desde que foi retirado da praça della Signoria.




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