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Cacique deposto, povo infeliz
Por Rodolfo de Souza
21/11/2019 | 07:00
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Depuseram o cacique e a nação indígena ficou órfã. Ele se foi, ao que tudo indica, para não morrer. Mas de longe assiste ao caos instaurado no seu país e não se conforma com a truculência das pessoas que tomaram o poder. Gaba-se, a deusa que se apoderou da cadeira de chefe, de ter sangue nórdico, ariano e de não ser índia como a maioria do povo daquele país. Falou como se fosse um desprestígio ser gente da terra, ter cheiro de campo e de trabalho. Ouvindo, inclusive, o seu discurso, tem-se logo a impressão de que está em lugar errado, que a Noruega talvez fosse destino melhor para tão seleta criatura.

E, por causa de tudo isso, o povo se revoltou. Partiu para cima dos soldados com o intuito de mostrar que o seu país é indígena sim, desde sempre, e que não é uma minoria branca que ditará as regras. Só que a minoria branca detém o dinheiro, que é sinônimo de poder em qualquer parte deste planeta redondinho. E, consequentemente, quem teve o privilégio de fazer da grana o seu berço, exerce comando sobre os seres mortais, inclusive, os que carregam armas. A luta é, pois, desigual. Paus e pedras contra o grosso calibre que soldados usam para tirar a vida dos seus conterrâneos, dar cabo de pessoas simples como eles próprios. Talvez até passe pela cabeça de uns e outros tal pensamento quando usam da força para deter a fúria do povo humilde. Mas ordens são ordens, afinal.

E eu que nada entendo de política e politicagem, procuro estar sempre atualizando meus conhecimentos por meio de veículos diversos que me informam, sob diferentes ângulos, o porquê de conflitos internos e externos. E toda essa ótica diferenciada e rica me possibilita tirar minhas próprias conclusões a respeito disso e daquilo. E, com relação à situação do país vizinho, tudo me leva a crer que o cacique ainda era a melhor opção para aquela gente, uma vez que ela experimentou, sob seu comando, crescimento que pátria Tupinambá não vê há muito tempo.

Entretanto, alguns técnicos de plantão, jornalistas consagrados por décadas de investigações, trabalhos em campo e muitas linhas redigidas, se apegam ao fato de cheirar a ditadura um homem ser eleito presidente consecutivas vezes. Admito que sim. Todavia, é bom lembrar que a oposição daquele país é composta por pessoas que não suportam povo, que não tem a menor afinidade com ele. E, considerando que uma nação é feita de gente, soa meio estranho, meio paradoxal o golpe que levou ao poder a garbosa figura ariana.

Mas espere! Talvez eu esteja cometendo aqui uma injustiça. Enquanto viajava por estas linhas, dei, como é de praxe, uma escapadinha para outras telas do meu papel virtual, com a intenção de buscar informações atualizadas. E eis que dou de cara com a notícia de que a deusa nórdica revelou à imprensa que poderá convocar eleições diretas nas próximas horas.

Pronto! A população já pode dormir em paz. Ou não?! Pensando bem, quem promoveu o golpe noutro dia é justamente quem promove agora novas eleições... Um tanto sinistro, não acha, caro leitor?




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