Cultura & Lazer Titulo Artesanal
Arte entregue de mão em mão

Artista plástico regional, Wali oferece sua arte há 16 anos nas ruas do Grande ABC

Por Vinícius Castelli
18/03/2019 | 07:21
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Nario Barbosa/DGABC


Independente, artesanal, produzida sem apoio financeiro algum e apresentada na raça, no velho esquema do ‘boca a boca’, ou melhor, de ‘mão em mão’. Assim é feito o trabalho do artista plástico e poeta de São Caetano Wagner Guilherme da Costa, 63, conhecido no cenário artístico como Wali.

Começou a pintar há cerca de 40 anos. A escrita é outra coisa que sempre o cativou, influenciado por nomes como Machado de Assis (1839-1908) e pelo realismo dos textos do escritor colombiano Gabriel Garcia Márquez (1927-2014). Iniciou a produção incansavelmente na juventude. Mas Wali precisava de um emprego, para pagar as contas e cuidar dos filhos. Primeiro vendeu roupas e depois abriu uma loja de autopeças.

Passou anos afastado da arte. “Não tinha tempo. Era só trabalho. Estava alienado”, diz. Tempos depois, com os filhos já crescidos e devidamente educados, baixou as portas do comércio de uma vez, deixou o estresse de lado e mergulhou de volta no universo artístico. Foi quando escreveu dois livros independentes: Trépido e Intrépido. Do primeiro vendeu 2.000 cópias. Do seguinte. 700. Tudo na raça.

Wali trabalha na rua há 16 anos. Vive da venda de sua arte. Começou apresentando para as pessoas marcadores de livro. “Foi uma sugestão da minha filha, Rayra. Fazia e vendia tudo”, relata. Em seguida voltou a pintar quadros e a aceitação foi boa. Passou a fazer livretos com poesias e capas com pinturas produzidas à mão. Foi a maneira que encontrou de juntar a escrita com as artes plásticas. Cada edição é costurada por linha colorida e preparada com muito cuidado.

Wali diz que seus textos são subjetivos. “Poesia é algo da alma. Você põe para fora. Eu gosto de trabalhar com realismo fantástico”, explica. Ele sai de sua casa, em Ribeirão Pires, toda manhã. Pega o ônibus e segue para uma cidade da região. Cada dia está em um lugar. Em Santo André, por exemplo, costuma ficar na Praça do Carmo e na Rua Elisa Flaquer, no Centro. Coloca a produção fresquinha em sua bolsa e conversa com os passantes. “Tem gente que dá atenção numa boa. Principalmente as mulheres. Quando falo que é poesia elas conversam, dão uma olhada. Dos homens, a maioria passa batido. Mas quando um para, compra. Eu sempre abordo de maneira leve, perguntando se a pessoa quer uma poesia hoje”, explica o artista.

Wali vende, em média, sete exemplares por dia. Cada um custa R$ 10 e é ilustrado por 28 poemas autorais. “Até agora já foram embora 2.067 livrinhos”, afirma. Mas ele diz que já aconteceu de pagarem menos por sua arte. “Se vejo que alguém ficou muito interessado na minha obra a gente conversa. Tudo depende de cada situação”, diz. “Uma vez vendi um quadro por R$ 0,05. O cara gostou tanto, mas tanto. E só tinha isso no bolso. Vendi mesmo assim. Ele nem acreditou”, relata. “Quando alguém compra minha arte, aquilo me satisfaz. É o que me segura nisso”, diz, sobre trabalhar na contramão do comércio artístico. Esta é sua autenticidade.

EXPOSIÇÃO

Wali integra uma exposição itinerante ao lado de 25 artistas das sete cidades da região, a Coleta ABC, com curadoria assinada por Dener de Souza e Henrique Celso. Contemporâneas, as obras registram o momento atual do Grande ABC, sempre influenciadas pelo cotidiano urbano. Os trabalhos estavam até o mês passado na Pinacoteca de São Bernardo. Em abril (com data a confirmar), será montada em Diadema e, em seguida, Santo André. Pintura, grafite, fotografia, ilustração em papel e até performances compõem a exposição. 




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