Cultura & Lazer Titulo
Desordem mundial
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
18/01/2007 | 20:11
Compartilhar notícia


Babel narra três histórias contemporâneas interligadas, tensas ao extremo, envolvendo seis famílias, três continentes – fronteira Estados Unidos e México, Marrocos e Japão – e destinos sobrepostos graças a um único gesto. Incensado pelo Globo de Ouro de melhor filme, Babel estréia nesta sexta-feira com boas chances ao Oscar, cujos indicados sairão na próxima terça-feira.

A bíblica Babel é a lendária região onde foi iniciada a construção de uma ambiciosa torre que tocaria o céu. A audácia humana provocou a ira divina, e Deus fez os envolvidos na obra se expressarem em várias línguas, semeando confusão e dispersando os povos em vários idiomas e culturas, parando a obra.

Babel, o filme, aproveita essa premissa da incomunicabilidade entre os povos e conclui a trilogia de interconexão de destinos do diretor mexicano Alejandro González Iñárritu e do roteirista Guillermo Arriaga, que têm nos premiados e igualmente excelentes Amores Brutos (2000) e 21 Gramas (2003) seus outros vértices. O estilo narrativa de sobreposição de tramas foi usado também pelo vencedor do Oscar do ano passado, Crash – No Limite, para quem quiser se deter na coincidência.

Iñárritu localiza seu drama em limites extremos, geográficos ou íntimos, para mostrar como o isolamento individual é intenso mesmo na multidão, como o medo de todos e tudo cega caráter e visão das coisas, e como a comunicação, entre povos a princípio, e entre indivíduos em particular, gera mais desentendimento que concórdia. Além de traumas não-resolvidos nem pela tecnologia nem pela economia.

Atores profissionais e amadores contracenam numa ‘babel’ de quatro línguas. Brad Pitt e Cate Blanchett encabeçam como os nomes mais conhecidos. Atores mexicanos, como Gael García Bernal e Adriana Barraza, e japoneses, como Rinko Kikuchi e Kôji Yakusho, não são estereotipados. No Marrocos, atores amadores escalados na multidão dividem cenas com Pitt e Blanchett.

Com diferenças culturais gritantes e fronteiras mais vigiadas, um simples gesto de boa vontade inicia uma tragédia. Um tiro de rifle nas montanhas marroquinas atinge acidentalmente uma turista norte-americana (Cate) em férias com o marido (Pitt), desencadeando uma sucessão de eventos casuais, que mexem com a vida de pastores de ovelhas e dois garotos (Boubker Ait El Caid e Said Tarchani), e se interrelacionam com pessoas em outras partes do mundo.

Na tensa fronteira norte- americana, uma babá mexicana (Adriana) vai ao casamento de seu filho levando os filhos de seus patrões estadunidenses em férias, mas a rigidez na fronteira encrenca com seu sobrinho (Bernal); Tóquio, uma solitária adolescente surda (Rinko), em meio a esse agito, tenta se relacionar sem parecer um monstro diante de seu pai.

Sob Iñárritu-Arriaga, as cenas são intensas o tempo todo, como a turista que recusa gelo no Marrocos por temer as condições sanitárias da água; o garoto classe média norte-americana que vê pela primeira vez uma galinha sendo morta no México; a menina japonesa que tira a calcinha e mostra as partes íntimas na lanchonete. Difícil ficar indiferente a esta experiência narrativa.

BABEL (idem, México/EUA, 2006). Dir.: Alejandro González Iñárritu. Com Brad Pitt, Cate Blanchett, Boubker Ait El Caid, Said Tarchani, Adriana Barraza, Gael García Bernal, Rinko Kikuchi, Kôji Yakusho. Estréia nesta sexta-feira no Grande ABC e circuito paulistano. Duração: 142 min. Classificação etária: 16 anos.



Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;