Política Titulo Retrospectiva
Gravação de Joesley quase derruba Temer da Presidência

Reunião secreta discutiu silêncio de Cunha e, por pouco, não causa impeachment de peemedebista; caso JBS atinge mais políticos

Por Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC
31/12/2017 | 07:00
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 Uma gravação feita na calada da noite e no Palácio do Jaburu, residência oficial da vice-presidência da República, em março, quase derrubou do poder o presidente Michel Temer (PMDB). O peemedebista se reuniu, fora da agenda, com o empresário Joesley Batista, um dos donos do grupo J&F, controlador da JBS, e falaram sobre diversos assuntos, entre eles um possível pagamento de mesada para que o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso na Papuda, em Brasília, continuasse seu silêncio, sem cogitar delação premiada.

A informação foi publicada originalmente pelo jornal O Globo e estremeceu o governo. Temer veio a público dizer que não renunciaria ao cargo assim que ouviu trechos da conversa que tivera com Joesley – isso porque o áudio não deixou claro se o presidente consentia com a compra do silêncio de Cunha.

O caso deflagrou a maior crise do governo Temer, que entrara em seu primeiro ano completo – o peemedebista assumiu no segundo semestre do ano passado após impeachment de Dilma Rousseff (PT). Duas denúncias propostas por Rodrigo Janot, então procurador-geral da República, foram analisadas pela Câmara. Temer teve de negociar com deputados para que as investigações fossem suspensas, uma vez que o Congresso precisaria dar aval à PGR para continuar com a apuração. Troca de emendas e cargos garantiu o mandato de Temer. Mas custou o avanço da reforma da Previdência, bandeira da gestão do PMDB.

Mas os pagamentos da JBS atingiram em cheio outros políticos. Assessor especial de Temer, o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB) foi flagrado recebendo pasta com R$ 500 mil, dinheiro que seria propina para Temer. O senador mineiro Aécio Neves (PSDB) foi gravado pedindo R$ 2 milhões a Joesley para pagar sua defesa na Operação Lava Jato. Outros R$ 51 milhões foram descobertos em apartamento em Salvador mantido pelo ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB).

O escândalo também atrapalhou planos de Joesley, investigado por manobras fiscais na Bolsa de Valores. Sua delação premiada foi colocada em xeque e benefícios, anulados.

 

Austeridade e mudança no Consórcio

 

O primeiro ano de governo dos novos prefeitos do Grande ABC ficou marcado pelo discurso de austeridade nas contas públicas e corte de gastos, cargos em comissão e privilégios, como telefone corporativo e carros oficiais.

Com a renovação de cinco prefeitos nas sete cidades, Paulo Serra (PSDB-Santo André), Orlando Morando (PSDB-São Bernardo), José Auricchio Júnior (PSDB-São Caetano), Atila Jacomussi (PSB-Mauá) e Adler Kiko Teixeira (PSB-Ribeirão Pires) apontaram herança de R$ 720 milhões em restos a pagar. Além dos problemas financeiros, a eleição no primeiro turno do prefeito da Capital, João Doria (PSDB), de ser gestor e não político, ajudou na implementação de políticas de redução de despesas públicas.

Outro fato que marcou a política do Grande ABC foi o desligamento de Diadema do Consórcio Intermunicipal. Alegando dificuldade no pagamento do rateio e falta de contrapartida à cidade, o prefeito Lauro Michels (PV) decidiu retirar o município do colegiado regional disparando críticas ao presidente da entidade, Orlando Morando, seu ex-aliado. O tucano, por sua vez, abriu assento à Capital dentro do órgão regional e também abriu a Casa do Grande ABC em Brasília, escritório para aproximação na Esplanada dos Ministérios.

No fim do ano, vereadores da região decidiram mudar a rota do discurso de austeridade para fazer valer liberação do STF (Supremo Tribunal Federal) ao 13º salário e a um terço de férias à classe política. Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra chegaram a aprovar projetos instituindo os benefícios. Mas alerta do TCE (Tribunal de Contas do Estado) freou o ímpeto dos parlamentares. Tanto que o texto foi vetado em Mauá e Ribeirão.

 

Atuação de Trump com Kim Jong Un e com Jerusalém gerou apreensão

 

Como era previsto, a atuação do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, movimentou o cenário internacional. A relação tensa entre o republicano e o presidente da Coreia do Norte, Kim Jong Un, gerou apreensão no mundo, já que o norte-americano não poupou provocações ao norte-coreano – em especial no Twitter –, enquanto o líder asiático avançava com sua política bélica nuclear.

Em novembro, Kim Jong Un autorizou teste de míssil balístico de longo alcance. O projétil apenas não atingiria a América do Sul. Por outro lado, os Estados Unidos insistiam em sanções econômicas.

Trump também decidiu considerar Jerusalém como capital de Israel – até então, a embaixada norte-americana estava sediada em Tel-Aviv –, o que gerou forte tensão com a Palestina. Jerusalém é alvo de disputa entre palestinos e israelenses em séculos. A decisão ocasionou fortes protestos, com mortes de palestinos, além de reação da comunidade internacional.

 

LINHA DO TEMPO

 

Janeiro
Morre Teori Zavascki, ministro do STF, em queda de avião. Ex-deputada Vanessa Damo registra BO contra José Carlos Orosco Júnior, então marido, por agressão.

 

Fevereiro
Maria Bernadette Vianna toma posse como presidente da FUABC e promete abrir caixa-preta. Morre a ex-primeira-dama Marisa Letícia, vítima de AVC.

Março
Alexandre de Moraes toma posse como ministro do STF, em substituição a Teori Zavascki. São Bernardo institui lei que multa quem for flagrado pichando a cidade.

Abril
MPF acata representação que acusava Volks de colaborar com ditadura. Morrem Alberto Betão, ex-vereador de Mauá, e Raimundo da Cunha Leite, ex-prefeito de S.Caetano.


Maio
Ex-presidente Lula e juiz federal Sérgio Moro ficam frente a frente, em depoimento sobre o triplex do Guarujá. Câmara de Ribeirão Pires deixa ex-prefeito Clóvis Volpi inelegível.

Junho
Ribeirão Pires opta por arquivar projeto do teleférico. TSE decide, por quatro votos a três, rejeitar ação de abuso de poder da chapa Dilma-Temer na eleição de 2014.

Julho
O ex-prefeito de São Bernardo Luiz Marinho e empresários são denunciados no caso do Museu do Trabalhador. Lula é condenado a nove anos de prisão no episódio do triplex.

Agosto
Ministério da Cultura aceita mudança do Museu do Trabalhador de São Bernardo para Fábrica de Cultura. Vereador Roberto Rautenberg, de Santo André, deixa a Câmara.

Setembro
Tempestades Harvey e Irma deixam rastro de destruição no Caribe e Estados Unidos. Maria Bernadette renuncia ao comando da FUABC. Carlos Maciel assume.

Outubro
Referendo aponta vitória da independência da Catalunha da Espanha. Prefeito de Diadema, Lauro Michels (PV) decide mexer no estatuto e compra briga com servidores.

Novembro
Gaeco realiza operação contra Mario de Abreu, secretário de Meio Ambiente de São Bernardo, que acaba demitido. Vereador de Santo André, Willians Bezerra (PT) é baleado.

Dezembro
Argentina confirma morte de todos tripulantes de submarino desaparecido. Governador Geraldo Alckmin assume PSDB nacional e consolida projeto ao Planalto.




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