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Técnicos contestam aceleradores de e-mail
Bruna Queiroz
Especial para o Diário
12/07/2005 | 08:11
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Os aceleradores de e-mails, serviço que promete poupar tempo e aliviar bolsos de internautas, são anunciados por provedores como uma opção para usuários de conexão discada que necessitam baixar arquivos com mais rapidez, mas não podem desembolsar o valor cobrado pelo serviço de banda larga. Porém, o desempenho é contestado por especialistas ouvidos pelo Diário. "Os aceleradores de e-mails proporcionam uma melhora de poucos segundos na transferência de dados. Isso é uma ilusão", afirma João Almeida Santos, coordenador do curso de Comércio Eletrônico da Universidade Metodista de São Paulo.

O mecanismo por trás desses aceleradores funciona como um processo de zipagem. "Eles atuam como descompactadores dos dados da mensagem, o que faz com que esses dados fiquem menos pesados ao retornar para o internauta. Por isso a transferência fica mais rápida no tráfego da rede", explica Gerson José Bottecchia, analista de sistemas do Centro de Operações do banco Itaú.

O iG foi o provedor pioneiro a oferecer esse serviço. Está disponível desde março de 2004 como um pacote de ferramentas que inclui também acelerador de navegação, antipopup e antibanners publicitários em um único software. "A diferença na aceleração de e-mail é sentida nas mensagens grandes e com anexos, em que recebimento e envio ficam muito mais rápidos", explica Rodrigo Matos, gerente de produtos do iG.

O serviço é oferecido em dois planos: sem ou com suporte telefônico, por R$ 9,90 ou R$ 15,90 mensais, respectivamente – valores inferiores aos cobrados pelos serviços de banda larga. O provedor UOL lançou produto semelhante no ano passado. O Acelerador UOL, que é gratuito, promete rapidez no recebimento e envio de e-mails e também funciona como segurança extra, já que as mensagens são criptografadas.

Apesar de ambos os provedores afirmarem que o serviço de teve ótima aceitação do público, Bottecchia questiona essa avaliação: "De cada dez usuários de internet, cinco já usam banda larga. Nesse caso, não é vantagem para grande parte dessas pessoas dispor do serviço de aceleração de páginas ou de e-mail".

Precário – Dejalcir José Lourencentti, professor de Rede de Computadores do Centro Universitário Fundação Santo André, explica que os aceleradores de e-mail seguiram o advento do e-mail de 1 gigabyte. Foram desenvolvidos para contrabalancear o maior volume de mensagens. "Os provedores buscaram um mecanismo que fizesse com que o usuário ficasse o menor tempo possível conectado ao servidor de e-mails da empresa para abrir mensagens."

Mas, para o usuário mesmo, Lourencentti não vê vantagem no serviço, sobretudo em razão da ineficiência da conexão discada no Brasil. "O sistema de conexão discada no Brasil ainda é muito precário. Em algumas regiões do Grande ABC, as condições são ainda piores, pois a conexão dificilmente ultrapassa os 56 kbps como tempo máximo de transferência de dados. Nessas condições, não adianta o usuário ter um acelerador de e-mail se há um conjunto de fatores desfavoráveis como contrapeso. Não há muita percepção das vantagens."

Morador de Santo André, Lourencetti usa duas conexões de internet em casa, uma de banda larga e a outra discada. Nessa última, experimentou o acelerador de e-mail do UOL. "Em termos de velocidade na transferência de mensagens, não resolveu o meu problema." A alternativa apontada pelo professor é o usuário optar por uma conexão de banda larga light, por ter preço mais baixo que a banda larga tradicional, e proporcionar mais resultados que o acelerador.

Santos compartilha de opinião semelhante. Acredita que o uso dos aceleradores é uma ponte de transferência para a banda larga: "Depois de quatro ou cinco meses usando o serviço de acelerador de e-mails, a pessoa chega à conclusão de que é melhor abandonar a conexão discada."

A rapidez prometida pelos aceleradores não é muito sensível, sobretudo para quem usa a internet para trabalhar, destacam os especialistas. Essa ligeira melhora seria insuficiente para proporcionar economia na conta telefônica, uma das vantagens prometidas pelos provedores.

Matos, do iG, sustenta que há redução de 75% de gastos com pulsos telefônicos, mas explica que isso só acontece "se o usuário fizer, com o acelerador, o mesmo volume de transferências que fazia sem ele". "Mas, no caso de a pessoa aproveitar o ganho de tempo com o serviço para baixar mais mensagens, ela passará o mesmo tempo conectada, e não haverá economia financeira, só de tempo."




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