Alfred Hitchcock (1899-1980) é daqueles casos que ou se conhece ou se desiste de saber até que ponto o cinema pode chegar enquanto expressão. O diretor britânico, mestre em trabalhar o cinema como caixinha de ilusões, é tema de um breve ciclo que São Bernardo estréia nesta quinta-feira no Teatro Martins Pena, com entrada franca. São seis filmes de Hitch, com um esforço para contemplar quase todas as suas fases, com filmes como Rebecca – A Mulher Inesquecível (1940), Os Pássaros (1963), O Terceiro Tiro (1956) e Um Corpo que Cai (1958).

Começa nesta quinta-feira com Os 39 Degraus (1935), exibido às 20h e reprisado às 16h do sábado. Produção inglesa, rabisca algumas das principais preocupações de Hitchcock, a começar pela síndrome de bode expiatório de seus protagonistas, vítimas de grande conspiração. Robert Donat vive o sujeito que entra de gaiato no plano de assassinato de um diplomata grego. Até mesmo seu interesse amoroso (Madeleine Carrol) desconfia de sua jurada inocência.

Os 39 Degraus é da fase britânica da obra de Hitch, quando este ainda não contava com a escora produtiva de Hollywood que o acabou revelando para o cinema popular e para a patota da nouvelle vague e sua formulação da política de autor.

Também para este fim de semana está prevista a exibição de Janela Indiscreta (1954; nesta sexta-feira e sábado, às 20h). Aí a história é outra. Hitchcock já tinha amadurecido artisticamente antes de realizar este classudo exercício de metalinguagem.

James Stewart vive o fotógrafo que, imobilizado por um acidente, testemunha da janela de seu apartamento o que lhe parece o assassinato de uma mulher. Aula de cinema, com o próprio prazer cinematográfico como disciplina: Stewart é o espectador, impotente diante do que vê adiante; a janela é a tela, só se vê o que seus limites permitem; a vizinhança é o conteúdo que preenche o vazio da janela. São poucos os filmes completos nessa vida; Janela Indiscreta é um deles, sem dúvida.