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Ao pai com carinho
Por Melina Dias
Do Diário do Grande ABC
04/04/2010 | 07:04
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Um significativo lançamento marca os 50 anos da fundação da Livraria Martins Fontes. É Platero e Eu (296 págs., R$ 48), obra-prima da literatura espanhola do século 20, de autoria de Juan Ramón Jiménez, prêmio Nobel de Literatura em 1956.

A publicação sempre foi um desejo de Waldir Martins Fontes, um dos fundadores da editora nascida em Santos, morto em novembro de 2000. "Platero e Eu sempre foi uma das obras favoritas de meu pai. Durante anos, ele sonhou com a possibilidade de publicá-la no Brasil, e, por razões diversas, nunca chegou a fazê-lo", lembra o herdeiro Alexandre Martins Fontes.

Apesar de o autor Juan Ramón Jiménez ser reconhecido como um grande poeta, sua obra mais conhecida é um volume de prosa poética sobre a amizade entre um homem e seu burro, de uma primavera a outra, ambientada na cidade natal do autor, Moguer, na região espanhola de Andaluzia.
"Na obra de Ramón Jiménez transbordam lirismo, simplicidade, musicalidade, e sobretudo, melancolia. A mesma melancolia do fado português, que meu pai tanto amava", observa Alexandre Martins Fontes.

Cada detalhe foi pensado com extremo carinho. Optou-se por uma edição bilíngue para que o leitor tenha contato direto com a melodia e a doçura da voz do poeta. Como é dividido em 138 capítulos curtos fica fácil comparar rapidamente original e tradução, a cargo da competente Monica Stahel.

As ilustrações levam assinatura do premiado Javier Zabala. "Ao longo das últimas décadas Platero e Eu conheceu inúmeras edições no mundo inteiro. Nenhuma mais bela que esta", valoriza o editor.

O certo é que caminhantes, amantes da natureza e seres observadores devem ser tocados pelo olhar aparentemente simples do poeta sobre paisagens e figuras humanas que surgem ao longo da jornada do homem e seu burrinho andaluz.

Trecho

"Entrando na invernada dos cavalos, Platero começou a coxear. Fui para o chão.
- Mas, homem, o que houve?

Platero levantou um pouco a mão direita, mostrando a ranilha, sem força e sem peso, quase sem tocar com o casco a areia ardente do caminho. Com solicitude maior, decerto, do que a do velho Darbón, médico dele, dobrei-lhe a mão e observei a ranilha vermelha. Um espinho grande e verde, de laranjeira, estava cravado nela como um perfeito punhalzinho de esmeralda. Tocado pela dor de Platero, puxei o espinho; e levei o coitado até o riacho de lírios amarelos, para que a água corrente, com sua longa língua pura, lhe lambesse o ferimento. Depois, seguimos para o mar branco, eu à frente, ele atrás, ainda mancando e me dando suaves cabeçadas nas costas..."
Capítulo XII, O Espinho, página 27




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