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Batalha polêmica
Por Ana Carolina Rodrigues
Do Diário do Grande ABC
25/03/2007 | 07:02
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A produção custou cerca de US$ 65 milhões e bastaram menos de dez dias para que arrecadasse quase o dobro de seu orçamento só nos Estados Unidos. Mesmo assim, o que mais chama a atenção em 300 – além da atuação de Rodrigo Santoro num dos papéis de destaque – é a polêmica que o filme de Zack Snyder tem provocado.

Programado para estrear em telas nacionais no próximo dia 30, 300 coleciona uma série de acusações. Foi descrito como “filme hollywoodiano antiiraniano”, Snyder foi chamado de nazista, e autoridades iranianas não poupam esforços para propagar a idéia de que o longa deflagra uma espécie de confronto psicológico entre os Estados Unidos e o Irã por apresentar os persas de maneira considerada negativa, em uma obra criada e produzida em mãos norte-americanas.

Baseado na graphic novel homônima de Frank Miller, mesmo autor da HQ que virou filme Sin City, 300 traz às telas a história da sangrenta batalha das Termópilas, ocorrida em 480 a.C. e que culminou com o sacrifício de 300 espartanos num conflito em que o exército liderado por Leônidas (Gerard Butler) deteve o avanço das tropas persas comandadas pelo rei Xerxes (Rodrigo Santoro) que tinha um só objetivo: conquistar a Grécia.

E não é só a representação brutal e sanguinária dos persas que tem deixado os iranianos irritados. As insinuações sobre a possível homossexualidade de Xerxes, que se julgava um verdadeiro deus, também causou revolta. Nas cenas, Santoro, que só dá o ar da graça quando o filme já rolou pelo menos uma hora, aparece maquiado, usando vários piercings e peças de ouro por todo o corpo.

E como 300 é marcado pela forte presença de efeitos especiais, Xerxes é representado como se fosse um gigante. A voz de Santoro também não é a mesma que os brasileiros se acostumaram a ouvir na tela da Globo ou em sua recente estréia na série Lost: houve modificação digital para que ficasse mais grave. A idéia é fazer a sala de exibição tremer, segundo afirmou Snyder em recentes entrevistas.

O outro lado - Enquanto a discussão a respeito de 300 não pára de ganhar corpo, o diretor do filme não vê motivo para tanta polêmica. Segundo vem afirmando há tempos, a única pretensão do longa-metragem era levar aos cinemas uma representação fiel da obra de Frank Miller. Sobre as leituras políticas, sim, Snyder acha que são possíveis, mas não são o foco principal da produção que tem por objetivo transpor às telas toda a fantasia contida na graphic novel de Miller, caso contrário Xerxes não seria representado como um gigante.

Intolerância - 300 não está sozinho quando o assunto é polêmica por conta de uma estréia ou publicação que trate de história ou religião. Quando A Paixão de Cristo, de Mel Gibson, ganhou as telas, uma enxurrada de críticas foi levantada sobre a representação das últimas 12 horas da vida de Jesus Cristo.

Um caso famoso ocorrido em 1989 colocou o escritor Salman Rushdie numa situação extrema quando o livro Versos Satânicos foi considerado pelo Irã uma blasfêmia contra o islamismo. Por conta disso, foi decretada contra o anglo-indiano um fatwa (perseguição constante que inclui até a pena de morte). Depois de mais de dez anos vivendo na clandestinidade, só em setembro de 1998 o então presidente iraniano Mohammad Khatami encerrou o caso – mesmo assim o tradutor japonês de Versos Satânicos acabou morto por um radical da causa islâmica e outros dois editores da publicação escaparam de atentados.



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