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Cotidiano
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Amizade é isso
Rodolfo de Souza
12/12/2019 | 07:00
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Num momento crucial da história deste planeta absurdamente arredondado, em que se destila ódio e rancor de polo a polo, de repente nos vemos frente a frente com um gesto ímpar de amizade. Atitude que, por vezes, surge só para lembrar que ainda há esperança, que nem tudo está perdido. E é justamente quando estamos imersos até o pescoço nesse mar de desespero, prestes mesmo a entregar os pontos, é que somos surpreendidos pela atitude de alguém que nos bota a nocaute com a beleza de uma iniciativa que surge, assim, de esgueira, como quem não quer nada, sorrateira, a nos pegar de jeito.

Refiro-me, pois, a um presente que recebi de uma amiga que mangou de mim todas as vezes em que, inadvertidamente, me apropriei de sua caneca para o merecido café do intervalo das aulas. Eu brincava com ela, por causa de sua estima pela tal caneca que vinha, volta e meia, parar nas minhas mãos, sem que eu me desse conta. Afinal, são muitas dependuradas no quadro, lá na parede. É só escolher. 

Sabe, há uma tendência, nos dias de hoje, de se evitar copos de plástico, por motivos mais do que esclarecidos, e os locais de trabalho, aos poucos, se empenham na tentativa de colaborar para que sejam eliminados de vez um dia. Por isso, optou-se pelas velhas canecas e xícaras de louça na hora do cafezinho, lá no batente de todos os dias. 

Eu só não sabia que uma ação em favor do meio ambiente serviria, logo mais, para inspirar este escritor, que está sempre em busca do detalhe, do pitoresco que lhe venha ao encontro para que dele possa se apropriar e transformar em palavras. E, caso não saiba, amigo, palavras têm alma. E o cotidiano sempre nos presenteia com fatos que facilmente se transformam em crônicas que costumam tocar também a alma da pessoa de inteligência refinada. 

E foi mesmo a sutileza de um instante único na vida que me obrigou a tomar nas mãos esta branquíssima folha digital para deitar nela uma ode à amizade. Até porque, o ato teve origem numa espontaneidade que me surpreendeu e quase me tirou o chão. Artistas, aliás, são mesmo tolos sensíveis.

Pois foi assim que se deu o evento: depois de fazer uso da caneca da professora em algumas ocasiões, é que, um dia destes, corri para o quadro assim que ouvi a voz da pessoa que chamava por mim lá do corredor. Pensei que me repreendia, dada a minha intenção de surrupiar seu objeto querido. Corri para brincar com ela, fingindo que o procurava, já que vinha em minha direção. Enganei-me, contudo. Minha amiga, ao invés de me puxar a orelha, aproximou-se do quadro, pegou sua caneca e a ofereceu de presente a mim. Talvez ela não tenha percebido a beleza daquilo, e como me tocou. Fato é que, cansado de tanto sentimento negativo a permear a vida de todos que nos rodeiam, vi ali uma abertura, uma clareira no céu repleto de nuvens escuras que só fazem acumular, mais e mais. 

Oxalá todas as pessoas notassem a grandeza que há nos pequenos gestos. Possivelmente tornassem melhor este mundo tão sacrificado.




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