O governo do Estado já se arma para iniciar o processo de liberação da Coronavac na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Hoje serão realizados os últimos testes da fase 3 do imunizante desenvolvido pelo laboratório chinês Sinovac Biotech e na segunda-feira os resultados serão enviados para a agência. A expectativa é que até 15 de dezembro São Paulo tenha autorização para imunizar profissionais da saúde e depois ampliar para outras faixas da população. Mas João Doria (PSDB) deixou claro ontem que a liberação pode transceder a área da ciência e, caso o processo demore além do esperado, vai tentar encurtar o caminho.
“O que não vamos admitir é a politização da vacina. Não há hipótese de o governo de São Paulo e eu, como governador, aceitarmos qualquer colocação postergatória, do Ministério da Saúde ou da Anvisa, para não iniciar a vacinação o mais rapidamente possível. Estamos falando de salvar vidas e, para isso, São Paulo utilizará todos os recursos necessários. Primeiro, no entendimento com o diálogo republicano, mas se isto não ocorrer, saberemos como utilizar mecanismos outros para fazer valer a vacina, ao menos para os brasileiros que vivem aqui”, comentou o tucano.
A suspeita cresceu após o Ministério da Saúde ter ignorado o imunizante chinês em cronograma divulgado quarta-feira. O calendário apresenta apenas a vacina de Oxford, que está em fase de testes e será produzida pela Fiocruz. Há previsão que 100 milhões de doses sejam enviadas ao Brasil no primeiro semestre de 2021 e de 100 milhões a 165 milhões de doses no segundo semestre. Além disso, a pasta não liberou recursos que estavam sendo negociados para fortalecer a parceria de São Paulo com os chineses.
A posição do Ministério da Saúde motivou carta assinada pelo Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) e enviada ontem ao ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, pedindo que o governo federal compre a primeira vacina contra Covid que ficar pronta e for aprovada pela Anvisa.
Com a polêmica, Doria disse que irá a Brasília na quarta-feira conversar com representantes do Ministério da Saúde e da Anvisa. “Vamos em missão de paz, mas com a certeza que desejamos ter a vacina para os brasileiros de São Paulo e do Brasil.”
Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que avalia constantemente novas possibilidades para um imunizante e “permanece em contato com o Butantan e outros institutos nacionais que buscam parcerias com laboratórios estrangeiros”. Segundo a pasta, a vacina que ficar pronta primeiro, atendendo todos os critérios de segurança e eficácia exigidos pela Anvisa, “será uma opção para aquisição”.
“Cabe dizer que a pasta já firmou duas parcerias – com AstraZeneca e Covax Facility –, que somam aquisição de 140 milhões de doses para a população brasileira. O ministério acompanha mais de 200 estudos que buscam a identificação de vacina contra a Covid, com o objetivo de encontrar cura efetiva e segura para a doença. A intenção é disponibilizar aos brasileiros, tão cedo quanto possível, vacina eficaz, em quantidade e qualidade para atender a população”, afirmou.
São Paulo investiu US$ 90 milhões (cerca de R$ 507 milhões) em contrato de fornecimento de 46 milhões de doses da Coronavac até dezembro. A farmacêutica vai enviar, até o fim do ano, 6 milhões de doses da vacina já prontas, enquanto outras 40 milhões serão formuladas e envasadas em São Paulo. Outras 14 milhões de doses devem ser fornecidas até fevereiro.