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Alunos aprendem a escrever histórias

Na Emeief José Maria Sestílio Mattei, crianças criam outras versões para contos clássicos

Por Mirela Tavares
Do Diário do Grande ABC
30/11/2011 | 07:00
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No mundo do ‘era uma vez...' da turma matutina do 3º ano da Emeief José Maria Sestílio Mattei, do bairro Jardim Cristiane, em Santo André, Chapeuzinho Vermelho salva o Lobo Mau da morte e tornam-se grandes amigos; a mãe da Cinderela morre em um acidente de carro; e a madrasta da Branca de Neve manda o soldado dopar a enteada com nada mais, nada menos do que um boa noite Cinderela.

As novas versões dos contos de fadas foram escritas por alunos com idades entre 8 e 9 anos e fazem parte de um dos livros do projeto Em busca do Saber, desenvolvido pela professora Andreia Menarbini. Com o objetivo de estimular, mais do que a técnica, o prazer em ler e escrever, todo trabalho foi desenvolvido de forma conjunta entre os alunos e contou com o apoio tanto do corpo diretivo da escola quanto dos familiares.

"Sempre tivemos como filosofia a leitura como prioridade, mas o projeto da Andreia apresenta muitos resultados realmente práticos, principalmente no que se refere à integração com a família", afirma a diretora Margarete Aparecida Mennucelli Jacob.

Para a assistente pedagógica Cláudia Rodrigues da Silva Nascimento, mais do que ter sala com 100% de alunos que dominam a leitura e a escrita, Andreia tem o mérito de ter desenvolvido neles a preocupação com a qualidade do que leem e do que escrevem. "Eles produzem textos com riqueza de detalhes, usam elementos da realidade em que vivem e têm muito cuidado com ortografia e gramática", diz.

"Ao ler, a criança abre as portas para todas as outras áreas do conhecimento e ganha autonomia para aprender ainda mais", afirma Andreia. Ela ressalta a importância do apoio do corpo diretivo da escola e principalmente dos familiares para o desenvolvimento de um projeto tão trabalhoso. Isso porque a dinâmica requer, além de grande produção de textos, análises em conjunto do material, criação de murais de leitura, sarau, discussões críticas e alto grau de conscientização individual quanto à responsabilidade de cada um nos trabalhos.

"E tudo isso de forma divertida, dentro do repertório deles", salienta Andreia, acrescentando que os alunos também passam a ser mais solidários, a ter mais respeito pelos demais e a compartilhar principalmente suas próprias vivências.

Interesse pela leitura faz avó voltar a estudar

Maria Eduarda da Silva Santos, 8 anos, não só desenvolveu o interesse pela leitura como despertou na avó, Sueli da Silva Santos, a vontade de aprender a ler e escrever. "Estou pensando em fazer um supletivo no ano que vem", diz ela.

Orgulhosa do desempenho de Maria Eduarda, Sueli acompanha de perto as atividades e não para de elogiar a professora Andreia. "Ela é maravilhosa e eu gostaria que ela acompanhasse minha neta até a faculdade." 
Noely Mendes, mãe das alunas Thais, 8 anos, e Thainá, 10, compartilha do mesmo desejo e não economiza elogios à escola e principalmente a Andreia. "Ela é excepcional", diz.

Já o aluno Yago Eduardo dos Santos da Silveira, 8 anos, também inclui a família nas atividades de escrita e leitura.

Brincadeiras do passado ainda fazem sucesso

O pai de Emanuel Alves Rodrigues, 9 anos, brincava com carrinho de madeira; a mãe preferia jogar mãe da rua. Emanuel joga bola, mas gosta muito do videogame.

Os alunos da Emeief Elaine Cena Chaves Maia, no Jardim Santo Alberto, em Santo André, pesquisaram entre seus parentes os tipos de brincadeiras de criança mais comuns em suas épocas. Montaram painel listando, por meio de desenhos, as estripulias das duas gerações e compararam o resultado. A bola aparece nos dois lados; o parquinho, com os balanços e escorregadores, só na parte dos pais; rolimã e pula elástico são coisas da antiga; o skate é mais recente, e o videogame está em quase todos os registros das crianças.

Só Heitor Porfírio Maia, 9 anos, não entrou na lista da geração tecnologia. "Gosto de brincar de esconde-esconde, pega-pega, pular corda e jogar bola. Às vezes meu pai me leva para soltar pipa. Mas não costumo jogar videogame."

A atividade deu início ao projeto Espaço de Ser Criança, coordenado pela professora Karen Ramos. A ideia nasceu depois da visita que a sua turma do 4º. ano fez ao Sesc Santo André para ver a exposição Pedro

Bandeira está pra brincadeira, uma mostra dos brinquedos e brincadeiras que o escritor Pedro Bandeira inventava nos seus tempos de infância. "Os alunos perguntavam: mas professora, ele não jogava videogame?

E alguns estranharam que Pedro tivesse brinquedo de lata. Onde foi parar nossa infância?", questiona a professora. A experiência permitiu a Karen refletir também sobre os espaços que a nova geração vem perdendo com as mudanças de hábitos. "A maioria mora em apartamento e boa parte das casas é construída em meio lote, sem quintal".

A educadora resolveu brincar mesmo. Incluiu entre as disciplinas previstas na grade escolar jogos trazidos pelos próprios alunos e brincadeiras que permitiam a eles a construção de outras regras, realização de textos instrucionais, elaboração do raciocínio e da lógica e valorização do trabalho em grupo. Todas as matérias, da Geografia ao Português, se transformaram em brincadeira. O peso de aprender Matemática foi aliviado com o Jogo do Dragão, com enfoque no raciocínio lógico e antecipação de jogadas. A equipe pode elaborar novas regras e montar o jogo com material reciclável. "Aprendi muitas coisas estratégicas com esse jogo. E outro dia a professora ensinou fração com bala de goma. Foi gostoso", conta Emanuel, com cara de sapeca. (Selma Viana)

Para professora, jovens perderam medo de perguntar

Para instigar mais a curiosidade da garotada, a professora organizou ainda visitas à Brinquedoteca do Parque Escola, em Santo André, ao Parque do Ibirapuera e à Bienal de Artes de São Paulo.

Na área pedagógica, Karen diz que o que mais a fez se entusiasmar com os resultados do projeto foi que as crianças perderam o medo de perguntar. As brincadeiras tornaram-se desencadeadoras de questionamentos. "A multiplicação dos ‘porquês' deles foi o maior ganho do projeto. Na brincadeira eles não têm medo nem vergonha de fazer perguntas."

Mesmo sendo adepta de brincadeiras mais saudáveis, ela reconhece que os jogos de videogames, quando não são violentos, têm os seus benefícios: "O videogame estimula algumas percepções visuais e sonoras e a psicomotricidade." (Selma Viana)




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