Em 2008, quando Luiz Marinho (PT) se elegeu prefeito de São Bernardo, a Tratenge Engenharia Ltda tinha três anos e tentava se consolidar no mercado de construções de rodovias, edifícios e equipamentos públicos. Dois anos depois, venceu concorrida licitação para construir o Hospital de Clínicas da cidade. E, em 2012, dois anos mais tarde, doou R$ 50 mil para a campanha de reeleição do petista no município.

Admitida pela administração Marinho em agosto de 2010, a Tratenge Engenharia iniciou os trabalhos em setembro, com compromisso de entregar a suntuosa estrutura localizada no bairro Alvarenga em 18 meses – ou seja, em março de 2012. Porém, quatro adiamentos foram anunciados pela terceirizada. Não há informação sobre punição à companhia, a despeito de, no contrato original, ter direito a receber R$ 124,8 milhões.

O complexo hospitalar teve as seguintes datas de inauguração: março de 2012, novembro do mesmo ano, maio deste ano e, agora, novembro. Mesmo contando com aportes federal e estadual e tendo recebido R$ 26,4 milhões só em 2013.

Marinho foi o candidato que mais recebeu recurso da empresa, que contribuiu para postulantes a vereador em Belo Horizonte, em Minas Gerais (o tucano Leonardo Silveira de Castro Pires, o socialista Daniel Diniz Nepomuceno e o petista José Tarcísio Caixeta), e para Jair da Silva Oliveira Monteiro, conhecido como Coalhada (PT), que concorreu à prefeitura de Águas da Prata, no interior de São Paulo.

A prática de doação de prestadoras de serviço à campanha do prefeito é recorrente na gestão Marinho. Empresa que venceu licitação para fornecimento de salsichas de peru congeladas, New Quality Indústria e Comércio de Carnes e Produtos Alimentícios Ltda doou R$ 25 mil para a tentativa de reeleição do petista. A terceirizada havia sido anunciada vencedora do edital um dia antes da realização do pregão presencial – o Ministério Público investiga o caso.

O Diário tentou entrar em contato com representantes da Tratenge no fim da tarde de ontem, mas responsáveis não estavam mais na sede da empresa, no Jardim Europa. O secretário de Saúde, Arthur Chioro (PT), não foi localizado pela equipe de reportagem.

RECLAMAÇÕES

Marinho justificou adiamentos de entrega por falta de recursos estaduais para colocar em pé a estrutura de 11 andares, num terreno de 8.000 metros quadrados, com previsão de atendimento de até 7.000 pacientes por mês. O governo do Estado garantiu aporte de R$ 23 milhões para a obra e pode anunciar mais verba para conclusão do Hospital de Clínicas na quinta-feira, em agenda do governador Geraldo Alckmin (PSDB) no Grande ABC.