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Preso na serra é líder de facção no Grande ABC
Por Rodrigo Cipriano
Do Diário do Grande ABC
13/07/2006 | 07:54
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Emivaldo da Silva Campos, 30 anos, é o homem-forte do PCC (Primeiro Comando da Capital) no Grande ABC. BH, como é conhecido. Até terça-feira, era ele o encarregado em repassar as ordens dadas pela cúpula da facção para os integrantes que estão em liberdade. Ele foi preso por policiais rodoviários terça-feira à noite na subida da serra, vindo da Baixada Santista. BH dirigia um Audi A3 e estava acompanhado pela mulher, identificada apenas como Viviane, e o filho do casal.

A polícia monitorava os passos de BH desde maio, quando teve início a série de atentados promovidos pela facção criminosa. Segundo a Polícia Civil de São Bernardo, que esteve à frente da investigação, o criminoso exercia um papel vital dentro do PCC. BH era quem cuidava dos negócios da facção na região. Na lista estão o tráfico de drogas e o recebimento de mensalidade dos associados. Quem está em liberdade contribui com R$ 550. Os presos são obrigados a pagar R$ 50 para a organização.

“O papel dele era fundamental dentro da estrutura da facção. O PCC funciona como uma empresa, precisa ter dinheiro em caixa. Ele garantia esse dinheiro”, afirmou o delegado Paul Henry Verduraz, delegado assistente da Seccional de São Bernardo. Ao contrário dos outros líderes da facção, BH não consolidou sua carreira no crime como assaltante. Ficou oito anos preso, cumprindo pena por assassinato. A polícia acredita que ele tenha entrado para o PCC durante sua passagem pelo sistema penitenciário.

Além da contabilidade da facção, BH também seria o responsável por monitorar o cumprimento de ordens dadas pelos líderes da facção para os soldados, nome dado aos integrantes de baixa patente da organização. Quem não cumprisse os comandos era denunciado à cúpula e estava sujeito a castigos, que muitas vezes poderiam ser a morte. “Dentro do PCC, você cumpre ou você morre”, teria dito o criminoso à policia, durante depoimento prestado na delegacia seccional de São Bernardo.

BH teria afirmado aos policiais que considerava “absurdas” algumas ordens que eram dadas pelos chefões do PCC. Entre as determinações descabidas estariam os atentados realizados desde maio. O criminoso justificou sua obediência ao medo de represálias. Entre as ações ousadas que podem ter sido desencadeadas por BH estaria a tentativa frustrada de matar entre cinco e 15 agentes penitenciários nas imediações do CDP (Centro de Detenção Provisória) de São Bernardo ocorrida no mês passado.

Segundo a polícia, BH passou o fim de semana acompanhado pela família em uma casa alugada em Mongaguá, no litoral Sul de São Paulo. A prisão ocorreu por volta das 20h30 de terça-feira, quando ele retornava para sua casa, na zona Sul de São Paulo. O cerco foi armado pela polícia no Km 52 da Imigrantes, em São Vicente, ainda na Baixada. Sua mulher, Viviane, foi solta pela polícia, mas há indícios de que ela também tenha participação na facção criminosa. Ela seria responsável por anotar os recados enviados pelos chefões para o marido.

A SAP (Secretaria de Administração Penitenciária) não revelou para qual unidade prisional BH foi enviado depois de sua prisão. Segundo agentes penitenciários da região ouvidos pelo Diário, ele não permaneceu no Grande ABC. A polícia garante que a prisão de BH nada tem a ver com a retomada dos ataques da facção, na madrugada de quarta-feira. Segundo a versão oficial, a ofensiva teria sido um reflexo da tensão causada pelo endurecimento no tratamento dos presos nas penitenciárias.

Quarta-feira, a polícia não descartava a possibilidade de novos ataques durante a madrugada de hoje. Para reforçar o efetivo nas ruas, a PM deslocou o efetivo da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) que atuava desde terça-feira na Operação Saturação no Morro do Samba, em Diadema. A polícia ocupou a favela na tentativa de acabar com o tráfico de drogas no local, comandado por Edilson Borges Nogueira, o Birosca, outro homem-forte do PCC, preso na Penitenciária de Presidente Venceslau II, no interior.

A organização do crime

O PCC possui um exército formado por cerca de 100 mil presos e outros 500  criminosos soltos nas ruas. A articulação entre os integrantes é feita por celular.

Para participar do grupo, o associado precisa pagar uma mensalidade: R$ 550 para quem está em liberdade; presos contribuem com R$ 50. O dinheiro é utilizado para o pagamento de advogados e financiamento de ações, como os atentados e grandes assaltos.

Marcola
Marcos Willians Herbas Camacho é o líder máximo da facção criminosa.

Cumpre pena por roubos a bancos na Penitenciária de Segurança Máxima de Presidente Bernardes. Conquistou o topo da hierarquia em 2002, pregando ações  moderadas. Sua ascensão culminou no afastamento de Geleião e Cesinha, antigos líderes que pregavam uso de atentados para pressionar o Estado.

Cúpula

Pateta

José Carlos Rabelo financia as ações do PCC. Cumpre pena por roubo. A polícia relaciona o criminoso a assaltos a bancos, residências e joalherias. Pateta também teria participado em 2000 de um roubo ao Hopi Hari, Vinhedo.

Júnior
Alejandro Juvenal Herbas Camacho é encarregado pela logística do PCC. Antes de ser preso, Júnior fazia a distribuição de armamento entre os integrantes da facção e era o responsável pela importação de drogas da Bolívia e Colombia.

Macgyver
David Stockel Ulhoa Maluf é o integrante do PCC especialista em explosivos. Segundo a polícia, ele utilizaria seus conhecimentos em grandes assaltos vestindo as vítimas com coletes explosivos.

Gegê do Mangue
Rogério Jeremias de Simone seria o secretário de Marcola. Ficou conhecido em 2003 após ter escrito para Marcola um bilhete no qual noticiava ao líder da facção a morte do juiz-corregedor de Presidente Bernardes, Antonio José Machado.

Julinho Carambola
Julio Guedes de Moraes é o braço direito de Marcola dentro da facção. Acompanhou a ascensão dentro do PCC do atual líder, que culminou na destituição de Geleião e Cesinha.

Birosca
Edilson Borges Nogueira contribui com o PCC no financiamento de ações. Mesmo preso comanda o tráfico no Morro do Samba, em Diadema. A ele, são atribuídos assaltos como da Agência Central do Banespa, em São Pauo, de onde foram levados R$ 37 milhões.

Pilotos
Designação dada aos líderes da facção dentro das unidades prisionais.

Eles são responsáveis por repassar as ordens do comando para os presos.

Sintonias
Desempenham o mesmo papel dos pilotos, só que do lado de fora das cadeias. Repassam as ordens da cúpula para os integrantes do PCC que estão soltos.

BH
Emivaldo Silva Santos, preso terça-feira pela polícia, era o sintonia do PCC no Grande ABC. Ele seria o responsável pelas atividades da facção na região, como o tráfico de drogas.

Soldados
Executam as ordens dos sintonias nas ruas. São os autores dos atentados do PCC. Em alguns casos, fazem o “serviço” em troca do pagamento de dívidas com a facção, como o atraso de mensalidades. Esses últimos são os chamados ‘bin ladens‘.



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