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O cinema nacional mora ao lado
Por Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
26/01/2002 | 15:03
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O cinema nacional passa pela região em 2002 com três grandes produções a serem realizadas esse ano. Há um quarto longa, que não foi filmado por aqui, mas é encabeçado por profissionais oriundos do Grande ABC: Os Narradores do Vale de Javé, da diretora Eliane Caffé, andreense que escreveu o roteiro com o dramaturgo Luís Alberto de Abreu, de Ribeirão Pires. Está em fase de montagem e deve ficar pronto em julho. Os demais estão entre a pré-produção e a fase de roteiro.

Carandiru, de Hector Babenco, é o mais adiantado dos outros três filmes que serão realizados no Grande ABC. O diretor não dá entrevistas por enquanto, mas os cenários que reproduzirão as celas do presídio do Carandiru estão sendo construídos nos estúdios da Cia. Vera Cruz, em São Bernardo. As seqüências nesse cenário devem começar a ser rodadas em 9 de abril (previsão) e o filme contará com 10 mil figurantes.

Depois de Babenco, Carlos Reichenbach deve ocupar o espaço. No mesmo estúdio, serão construídos os interiores de uma fábrica têxtil para o seu Aurélia Schwarzenega. E até fevereiro, Tata Amaral pretende terminar a primeira versão do roteiro do primeiro musical nacional sobre a cultura hip hop, rebatizado como Antônia (antes era Lila Rapper) e que se passa em Santo André.

Javé – Os Narradores do Vale de Javé é uma co-produção da BCA Produções, do Rio, e da Gullani Filmes, de São Paulo, com a Laterite Production, da França. Nele, Eliane Caffé volta ao sertão brasileiro. Em seu longa de estréia, Kenoma, a seca moldava o cenário para a história do artesão que queria criar uma máquina auto-suficiente em energia (moto-perpétuo) para produzir alimentos. Em Narradores é a abundância da água que provoca a história.

No povoado de Javé a tradição é parte da vida das pessoas, que a transmitem de geração para geração. De repente, se vêem ameaçadas pelo progresso. Cientes de que sua região será inundada pelas águas de uma represa, os moradores decidem narrar suas histórias – mitos e lendas transmitidos oralmente – para um escritor.

Semi-analfabetos, eles confiam o que sabem a Antonio Biá (José Dumont), cujo trabalho é escolher, entre as versões de uma mesma história, qual delas será escrita em um livro, que levará o nome de seu narrador, garantindo-lhe lugar na posteridade.

“Eles sabem que o progresso chegará, e pode ser avassalador. A luta de cada um é deixar a própria história escrita e salvá-la no livro, mais do que salvar Javé”, afirma Eliane. Além de Dumont, estão no elenco Nelson Xavier, Dirce Migliaccio, Gero Camilo, além de outros atores e moradores das cidades baianas Gameleira da Lapa, na região do rio São Francisco, e Lençóis, na Chapada Diamantina, cenários do filme.

Abreu e Eliane começaram a escrever a história após as filmagens de Kenoma, também escrito pela dupla. “Eliane encontrou um personagem no Vale do Jequitinhonha (MG) que, para manter seu emprego como carteiro e o movimento da agência dos Correios local, escrevia cartas para pessoas de outras cidades e recebia correspondência de outros lugares. Então, pensamos em um personagem como esse, que tivesse destreza de escrever em um lugarejo de analfabetos”, diz Abreu.

Outra leitura possível para o filme é a de um interior que deixa de existir, perdendo seu bucolismo e sua criatividade artística original. “Hábitos, relações humanas, até a arquitetura está mudando. A base dessa cultura é oral e isso está se perdendo”, afirma Abreu. “O homem urbano se expressa diferentemente do homem do campo, mas as histórias de ambos não deixam de ser universais. Queremos mostrar esse interior em contraste com a cidade, em seu lado arcaico, essencial, singelo”, diz Eliane.




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