Cultura & Lazer Titulo Pultizer 2016
Premiado com o Pultizer 2016, Mauricio Lima mostra seu olhar humanitário no MIS
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10/04/2017 | 08:15
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Divulgação


Em 2015 começamos a assistir ao drama dos refugiados sírios que, por causa da guerra, foram obrigados a deixar suas casas, seu país. Mauricio Lima, fotógrafo brasileiro, durante seis meses acompanhou o êxodo de quem deixava o Oriente Médio para chegar à Europa. E foi no meio desse trabalho que decidiu acompanhar uma dessas famílias e contar sua jornada. Foi assim que ele se encontrou na Sérvia, mais precisamente em Belgrado, com a família de Ahmad e Farid Majid que tentava alcançar a Suécia. Foram 29 dias acompanhando as 13 pessoas que constituem o clã familiar. Os Majid são comerciantes e tinham uma fábrica de jeans na cidade de Afrin, perto de Alepo e Kobani, no norte da Síria. Perderam tudo na guerra e decidiram deixar o país e encontrar um parente que já morava na Suécia. Com eles, ainda na barriga da mãe estava Farida, uma menina que nasceu já em solo sueco em novembro de 2015. É a ela, Farida, que em árabe significa única, que é dedicada a mostra Farida, um conto Sírio, que abre no dia 12, no MIS, em São Paulo, dentro da programação do Maio Fotografia. 33 imagens, com curadoria da alemã Elizabeth Biodi, narram a jornada de todas as famílias sírias, mostrando o porquê de as pessoas terem que sair de suas casas, de seu país.

Mauricio Lima pertence ao time de fotógrafos que sabe que não é ele o protagonista desta história, que ele está ali para mostrar para o mundo o que acontece, quem são estas pessoas, vítimas de uma guerra que não escolheram. "O que me move, acima de tudo, é o respeito pelas pessoas que fotografo. Preciso de tempo, de vivência, para entender uma história para fotografá-la", diz em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo".

Foi ele que decidiu de que maneira contar o que estava acontecendo na Síria: "As fotos do conflito e das bombas não me interessavam, queria acompanhar uma família, uma jornada, fazer parte disso". Suas fotos pontuais, de alguma maneira dramáticas, nos apresentam rostos, gestos. Imagens de quem chega perto: "eu não gosto de imagens abertas ou gerais. Gosto de chegar perto, de individualizar, personalizar, mostrar o rosto das pessoas que fotografo". São estas as história que o tocam que ele quer contar: "sou antes de mais nada um ser humano e depois um fotógrafo. Não consigo separar esta condição", afirma.

E foi assim que, ao seguir a família Majid numa noite em que deveria atravessar a fronteira para a Hungria, algumas crianças acabaram por ficar para trás. "Estava completamente escuro, não tinha nem a luz de uma vela, por algum engano de estratégia, as mulheres passaram, os homens passaram e algumas crianças ficaram para trás. Não tive dúvidas, ajudei as crianças a passarem, quando vi que estavam bem, dei a volta e entrei legalmente na Hungria", relembra. E foi na mesma Hungria, na estação de trem em Budapeste onde milhares de refugiados se aglomeravam, que ele foi chamado por um refugiado sírio que lhe pediu: "Por favor me escute, eu não quero ira para a Alemanha, eu preciso ir para a Alemanha", numa clara alusão de que não havia escolha para ele.

Não é a primeira vez que Mauricio Lima, representado no Brasil pela Doc Galeria, responsável por trazer a exposição ao Brasil e ao MIS, apresenta seu olhar humanitário. Ele que já esteve no Iraque, no Afeganistão, na Cisjordânia vem documentando o êxodo e as consequências de povos afetados por conflitos. Em 2015, ele passou 38 dias entre o norte da Síria e o Iraque, visitou as principais fronteiras que refugiados usam: Turquia, Grécia, Bulgária, Macedônia, Sérvia, Croacia e Hungria. Aliás, seu trabalho com os refugiados lhe rendeu em 2016 o prêmio Pulitzer de fotojornalismo. Foi o primeiro fotógrafo brasileiro a ganhar este prêmio. E foi neste momento que Mauricio Lima se recolheu, não concedendo entrevistas e sem querer falar do prêmio. "Não tinha nada para dizer. Falar o quê? Claro que fiquei feliz com o reconhecimento e pelas pessoas acreditarem no meu trabalho, mas só."

Em seu trabalho, a força de uma fotografia como forma de conscientização. "Eu acredito na fotografia como um diálogo, um momento de silêncio, onde a pessoa se encontra com a imagem. A fotografia como documento, como memória."

A crítica norte-americana Susie Linfield afirma: "As fotografias podem nos aproximar da experiência do sofrimento como nenhuma outra forma de arte ou jornalismo consegue fazer". Mauricio Lima faz.

MAIO FOTOGRAFIA NO MIS

MIS. Av. Europa, 158, 2117 4777. 3ª a sáb., 12h às 21h; dom. e fer., 11h às 20h. R$ 6. Até 28/5. Abertura na quarta-feira (12), às 18h

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.




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