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Fila por vaga em creche cresce 59%

Em um ano, deficit para crianças de zero a 3 anos
saltou de 6.411 para 10.208 cadastros em 4 cidades

Daniel Macário
Do Diário do Grande ABC
30/01/2017 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


O número de crianças de zero a 3 anos na fila de espera por vagas em creche em quatro municípios do Grande ABC (Santo André, São Caetano, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra) cresceu 59,23% em relação ao ano passado. Números fornecidos pelas administrações municipais apontam que, entre 2016 e 2017, o deficit de oportunidades em unidades educacionais saltou de 6.411 para 10.208 cadastros.

Santo André, que no ano passado registrava fila de espera estimada em 5.529 vagas, quase dobrou o problema. Segundo a Prefeitura, neste ano, 9.184 crianças de zero a 3 anos aguardam oportunidade de ir à escola.

São Caetano, por sua vez, que sempre destacou não possuir fila de espera, concentra hoje deficit de 600 vagas, segundo a secretária de Educação do município, Janice Paulino Cesar.

Na contramão, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra reduziram os números. O primeiro município tinha 582 crianças na fila de espera em 2016 e neste ano possui 364. Já Rio Grande baixou o deficit de 300 para 60 vagas.

SOLUÇÃO DISTANTE

Considerado por especialistas consequência da falta de investimento por parte de gestores públicos na Educação Infantil, a longa fila de espera é gargalo antigo, mas que continua sem solução a curto prazo. “Ninguém quer construir creche, pois muitos governantes já se acostumaram a ver mães pagando escolas privadas. O que vemos hoje em cenário nacional é uma completa falta de políticas públicas voltadas à Educação Infantil, algo que dificilmente será solucionado de maneira imediata”, avalia Cláudia Coelho Hardagh, especialista em Educação da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Paulo Sérgio Garcia, professor no mestrado em Educação da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), exemplifica a falta de comprometimento de municípios da região com a Educação Infantil ao avaliar os planos municipais para a área. “Na maioria das cidades do Grande ABC, os municípios estipularam que pretendem, nos próximos dez anos, aumentar a oferta de vagas em creche em 50%. Portanto, ninguém pensa em zerar. Só querem amenizar”, avalia.

APOIO DA UNIÃO

Embora tenham ganhado apoio do governo federal com a criação, em 2007, do Proinfância (Programa Nacional de Reestruturação e Aquisição de Equipamentos para a Rede Escolar Pública de Educação Infantil), municípios da região seguem com dificuldades para executar obras de creche (leia mais abaixo). Para especialistas, embora o programa tenha contribuído, as cidades ainda patinam por não investir recursos próprios na área. “O Proinfância teve e tem papel importante, mas não tem como solucionar essa problemática sem empenho dos próprios municípios. Quem melhor para conhecer as áreas com dificuldades de acesso à Educação Básica se não os próprios prefeitos?”, questiona Garcia.

OUTRAS CIDADES

Até o ano passado, São Bernardo amargava deficit de 4.300 vagas em creche, enquanto Mauá, 3.000; e Diadema, 4.000. Os números não foram atualizados pelas administrações.

Sem opção, mães abandonam trabalho para cuidar dos filhos

Sem perspectiva, mães que aguardam pela abertura de vagas em creches no Grande ABC são obrigadas a abandonar postos de trabalho por não conseguirem arcar com o custo de unidades privadas ou cuidadoras para os filhos.

Na Rua Caetano de Campos, Vila Nova Conceição, em Diadema, quatro jovens mães enfrentam situação semelhante. Embora residam a menos de 50 metros da Creche Irmã Dulce 2, que passa por obras de ampliação há três anos, todas seguem sem expectativa de conseguir vaga em creche para voltarem ao mercado de trabalho.

“Não consigo nem fazer entrevista, pois não tenho com quem deixar meu filho. Até ligaram aqui para eu participar de um processo seletivo, mas uma cuidadora custa cerca de R$ 400”, desabafa a jovem Sheila Leite Ribeiro Rocha, 21 anos, mãe do pequeno Nathan, 1.

A situação de Sheila se repete na casa das vizinhas Kerollyn Elizabeth Vieira Santana, 19, mãe de Sara, 2 meses; Débora Vitória Nascimento Santana, 15, mãe de Miguel, 7 meses; Débora Cardoso Dias, 28, mãe de Enzo, 3 meses, e Guilherme Felipe 1 ano e 4 meses. Em busca de apoio para sanar o problema, o grupo de mães já recorreu à Defensoria Pública do município. No entanto, até o momento não tiveram retorno.

Em Santo André, a jovem Paula Giovanna Francisca da Silva, 17, enfrenta duas dificuldades. Além de não conseguir vaga em creche para a filha Melanny, 2, a balconista também encontra barreiras para voltar à escola. “Parei de estudar há dois anos por conta da gravidez e quando quis retornar não consegui. Só neste ano, depois de muita batalha, é que voltarei aos estudos.”

Vizinha de Paula, a dona de casa Andreia da Silva Tomé, 39, diz não perder a esperança em ver sua filha Sofia, 2, na creche ainda neste ano. “É difícil você ver as outras crianças na escola e ela não. Quero que ela brinque e aprenda para ter um futuro melhor. Sei que depender de políticos é difícil, mas não perco a esperança. Vamos conseguir”.

Obras atrasadas adiam resolução do problema

Obras para a construção de creches paralisadas ou em ritmo moroso nas sete cidades têm adiado cada vez mais a solução definitiva para o problema da longa fila de espera por vagas destinadas a crianças de zero a 3 anos.

Em Santo André, das 16 unidades destinadas à Educação Infantil anunciadas em junho de 2013 pelo ex-prefeito Carlos Grana (PT), com expectativa de criação de 3.190 vagas, apenas cinco foram entregues. Outras cinco estão em fase de construção e têm previsão de conclusão para 2017. As demais sequer foram licitadas para o início das obras.

Com investimento do Proinfância, a construção da Creche Jardim Santo André é um exemplo do cenário caótico. A obra, que no momento tem 65,68% de suas intervenções concluídas, segue em ritmo moroso. A expectativa era de que a creche ficasse pronta no fim de 2015.

Em Diadema, a construção da creche Sagrado Coração de Jesus, no bairro Casa Grande, e a ampliação da creche Irmã Dulce 2, na Vila Nova Conceição, ambas iniciadas em 2012, apresentam situação ainda pior. Previstas para serem entregues em outubro de 2013, ambas estão com obras paralisadas há um ano. A Prefeitura, que não se manifestou sobre o problema, publicou, no ano passado, “rescisão amigável” do contrato com a empresa Ematec Engenharia e Sistemas de Manutenção Ltda, que executava o trabalho.

Na semana passada, o prefeito de São Bernardo Orlando Morando (PSDB) encontrou, durante vistoria, a obra para a construção da creche do Riacho Grande parada. O prédio de dois andares e que terá 11 salas de aula foi anunciado pela gestão anterior e deveria ter sido concluído até dezembro do ano passado. A Prefeitura se comprometeu a dialogar com a empresa responsável pela construção para negociar os valores e retomar os trabalhos em breve.  




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