A captação líquida da poupança apresentou queda na comparação anual de 89% em janeiro, com saldo de R$ 275 milhões. Este resultado é a diferença entre os depósitos na modalidade e as retiradas. E o aumento do crédito no País é uma das explicações para o recuo.

Em janeiro do ano passado, a captação líquida da poupança atingiu saldo de R$ 2,6 bilhões. E em dezembro, os números foram ainda maiores, com R$ 6,3 bilhões. O resultado de janeiro foi o mais baixo dos últimos 21 meses. Em abril de 2009, a captação foi negativa em R$ 941 milhões.

Os dados foram divulgados ontem, em relatório, pelo BC (Banco Central do Brasil).

CAUSAS - De acordo com o pesquisador Fabiano Guasti Lima, do Instituto Assaf, existe a possibilidade de quatro aspectos terem influenciado na queda de 89% na relação anual.

"Pode estar relacionada ao endividamento das famílias. Muitos consumidores aproveitaram o momento de crédito farto e aproveitaram os saldões de começo de ano", explicou o especialista.

Ele acrescenta que as dívidas em parcelas formadas no ano passado também podem ter influenciado no maior volume de retiradas da caderneta em janeiro.

JUROS - O medo do aumento das taxas de juros também pode ter impulsionado a retirada das economias da poupança, analisou Lima. "Embora a inadimplência esteja controlada no País, acredito que o resultado pode ter ocorrido em razão dos juros, que estão subindo."

No dia 20, os diretores do BC decidiram pelo aumento da taxa básica de juros Selic. Esta medida ocorreu, justamente, para encarecer o crédito no País e diminuir a demanda dos empréstimos. Tudo isso para desacelerar o processo inflacionário aos consumidores. A taxa anual passou de 10,75% para 11,25%. E conforme análise da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), o aumento surtiria efeito na maioria das modalidades de crédito ao consumidor.

Lima acrescentou que as contas sazonais de janeiro, como o IPVA (Imposto sobre Propriedade de Veículo Automotor) e o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) também pesaram no bolso do consumidor, que pode ter sacado suas economias. Por outro lado, quem aproveitou o dólar em baixa para viajar e fez dívidas também encontrou a solução nas reservas.

TESOURO - No entanto, o professor de Economia Alcides Leite, que ministra aulas na Trevisan Escola de Negócios, apresenta o Tesouro Nacional como um dos motivos para a queda na captação. Por nota, ele avalia que houve aumento na atratividade das aplicações em renda fixa, que elevou o rendimento com a engorda das taxas de juros.