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Região adere ao uso das máscaras

Decreto estadual exige item para quem está nas ruas e prevê multa em caso de infração; utilização errada também oferece riscos ao usuário

Por Aline Melo
Yasmin Assagra
Matheus Moreira
Do Diário do Grande ABC
16/05/2020 | 00:01
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O Grande ABC aderiu ao uso da máscara, uma das medidas apontadas por especialistas como eficazes na contenção da pandemia de Covid-19. O acessório é item obrigatório em ruas e estabelecimentos comerciais em todo Estado, desde 7 de maio, quando entrou em vigor o decreto 64.959. O texto prevê que as prefeituras sejam responsáveis pela fiscalização, inclusive com aplicação de multa (de R$ 276 até R$ 276 mil) em caso de descumprimento (leia mais sobre as sanções ao lado).

A equipe do Diário percorreu as sete cidades da região e verificou que quase a totalidade da população aderiu ao uso da máscara, mas também foi possível constatar que é grande a quantidade de pessoas que estão fazendo uso inadequado do item de segurança. A coordenadora do curso de enfermagem da Universidade Estácio de Sá – Campus Cotia, Ana Maria dos Santos Silva, alerta que o uso incorreto expõe as pessoas aos riscos da contaminação.
“Uma vez com a máscara, não se pode colocar as mãos nela. Se for necessário, é preciso limpar as mãos com álcool antes e depois de encostar no item de segurança”, destaca. Deixar o nariz para fora e abaixar para falar ao celular também são condutas erradas. “O nariz é uma porta de entrada para vírus e bactérias, tanto quanto a boca”, pontua.

As máscaras devem ser trocadas a cada duas horas de uso, ou sempre que estiverem úmidas. “O ideal é que as pessoas não falem usando máscara, porque vão depositando gotículas nela. Úmida, ela vira um local para proliferação de bactérias”, conclui.

Em Santo André, a psicóloga Helena Gilioli, 41 anos, avalia que o uso obrigatório das máscaras deveria ter sido implantado desde o início da quarentena. A munícipe evita ficar mais do que uma hora na rua, para não ter que trocar o item de segurança.
A comissária de voo Jeniffer Abelan, 32, moradora de São Bernardo, relata que já se acostumou com uso, uma vez que o setor aéreo foi o primeiro a adotar o item de segurança.

De São Caetano, a desempregada Tatiana Barbosa, 43, aprova a obrigatoriedade, e a aposentada Maria da Silva Souza, 67, acredita que as pessoas precisam ser mais e melhores orientadas.

Há quem ainda seja resistente, como o eletricista Gerson da Silva, 54, que, mesmo tendo sido afastado do trabalho com suspeita de Covid-19, não acredita que o uso da máscara seja indispensável. “Hoje estou usando porque saí da ótica e não tirei. Não acredito nisso”, afirma o morador de Diadema.
O auxiliar de hotelaria Micael Borges Amorim, 30, morador de Mauá, tem se esforçado para se acostumar ao incômodo que a máscara causa. “ Ajuda todo mundo, então temos que usar”, afirma.

Moradora de Ribeirão Pires, a balconista Ivonete de Paiva, 35, reclama do desconforto de ter que usar máscaras e óculos, mas reconhece a sua importância. “Ajuda a me proteger e protege aos outros.”

Em Rio Grande da Serra, o pedreiro Severino Diniz da Silva, 47, mesmo acostumado o uso do item em seu trabalho, também reclama da nova obrigação diária. “É chato de usar, mas temos que colaborar”, concluiu. 

São Bernardo e Ribeirão vão punir quem não estiver com a proteção

Entre as cidades do Grande ABC, apenas São Bernardo e Ribeirão Pires informaram que pretendem multar moradores que não usarem máscaras em locais públicos. Nos demais municípios, quando há algum tipo de punição, ela se aplica ao estabelecimento (com exceção de Mauá, que prevê pagamento de cesta básica).

A Prefeitura de São Bernardo está fiscalizando o uso do item de segurança por meio da GCM (Guarda Civil Municipal) e a aplicação de multas, que está em vigor desde ontem, será feita por meio dos talões de ocorrência da guarda e será posteriormente enviada ao departamento de vigilância sanitária. A multa para pessoa física será de R$ 100 e para os estabelecimentos pode chegar a até R$ 10 mil.

Em Ribeirão, a Prefeitura vai seguir o decreto estadual, mas até o momento nenhuma multa foi aplicada. A administração segue orientando moradores e comerciantes sobre as regras.

Santo André informou que o decreto municipal sobre uso de máscara na cidade não prevê multas, no entanto, as pessoas poderão ser abordadas e orientadas a retornar para casa, caso não esteja usando máscara. Por meio de nota, a administração lembrou que está distribuindo 300 mil itens de proteção em pontos de grande circulação e outros 300 mil são confeccionadas pelo programa Costurando com Amor e estão sendo entregues às comunidades.

Em São Caetano, o departamento de fiscalização da Seplag (Secretaria de Planejamento de Gestão) já realizou cerca de 200 orientações (40 por dia) em comércios sobre a necessidade de uso de máscaras no interior dos estabelecimentos e que, na ausência das mesmas, o estabelecimento em questão poderá ser lacrado e até mesmo multado. Até o momento nenhum foi penalizado.

A fiscalização em Diadema está ocorrendo todos os dias e os fiscais estão reforçando a necessidade e a importância de utilizar a máscara. “Não há previsão de penalidades no decreto para essa norma e sim para os estabelecimentos comerciais que permitirem a entrada sem máscaras”, informou a Prefeitura por meio de nota.

Em Mauá, estabelecimentos privados e motoristas de transportes deverão impedir a entrada e a permanência de pessoas que não estiverem utilizando a máscara, sob pena de multa de R$ 80 por infrator. A pessoa que circular sem máscara ficará sujeita a advertência com identificação do infrator, em primeira reincidência será conduzido pela GCM ou agente de fiscalização à sua residência e, em caso de segunda reincidência, será obrigado a pagar uma cesta básica, a ser revertida em favor do Fundo Social de Solidariedade. Até o momento ninguém foi autuado.

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Venda dos acessórios é alternativa ao desemprego

Com o fechamento dos comércios e serviços considerados não essenciais, vender máscaras de tecido virou oportunidade para pessoas que tiveram que parar de trabalhar com o início da quarentena.

Em São Bernardo, Antônio Marcos, 43 anos, atuava como auxiliar de estoque até o início da quarentena. Há cerca de 15 dias, vende máscaras ao lado da Praça Lauro Gomes. “Está devagar, mas pelo menos estou trabalhando”, afirmou. Marcos relatou que tem notado que muitas pessoas não usam o acessório de forma correta. “Precisava de um carro de som explicando para as pessoas como usar direito”, opinou.

Morador de São Caetano, Márcio Pereira da Silva, 39, enxergou na venda da proteção alternativa de renda extra. “Infelizmente as pessoas estão mais preocupadas se serão multadas pela falta do item do que realmente prestar atenção na importância que ele nos traz”, observa.

Miguel de Oliveira, 35, já trabalhava no comércio de São Caetano antes da pandemia, mas precisou migrar das vendas de camisetas para as de máscaras. “Ao mesmo tempo que nós, comerciantes, não queríamos estar passando por isso, pela doença e desempregos, foi uma alternativa que encontramos”, detalha.
Moradora de Diadema, Nadia Pereira de Jesus, 22, trabalhava em um quiosque de churros e sorvete, mas desde o início da quarenta está revendendo máscaras na Avenida Antonio Piranga. “No começo a gente vendia mais, porém, agora tem muita gente (vendendo)”, lamenta.

Também em Diadema, José Wilson Pereira, 44, comercializava máscaras antes do decreto, junto com roupas que vende há cinco anos em Diadema. “A margem de lucro é pequena, mas tem sido a opção para pagar as contas”, relata.

Claudia Souza dos Santos, 43, também já era ambulante e vendia bolsas e relógios. Após ficar 30 dias sem trabalhar e ver as contas se acumularem, resolveu vender máscaras ao lado do corredor do trólebus, em Diadema. “Compensava mais minha outra atividade. Em um dia bom, vendo R$ 500, mas ainda é melhor do que nada”, conclui.

O ambulante Adriano da Nóbrega, 34, também oferta suas máscaras no Centro de Diadema, no mesmo local onde costumava vender meias e panos de prato. O munícipe teve o pedido de auxílio emergencial concedido pelo governo federal aprovado, mas com problema no cartão magnético ainda não conseguiu ir ao banco sacar o dinheiro. “Vou ter que perder um dia (de trabalho) para isso”, lamentou.




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