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Metalúrgicos da Toyota vão votar suspensão de contrato

Medida provisória prevê diminuição de horas trabalhadas e redução de salários em até 25%

Yara Ferraz
do Diário do Grande ABC
10/04/2020 | 00:09
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Divulgação


Os trabalhadores da Toyota, montadora com fábrica em São Bernardo, decidem hoje se aceitam a proposta da empresa para a suspensão temporária dos contratos de trabalho por causa da pandemia do novo coronavírus. A votação será on-line. A empresa é a segunda da região que recorre à MP (Medida Provisória) 936, anunciada na última semana pelo governo federal, e que prevê redução na jornada de trabalho e nos salários de 5% a 25%.

De acordo com informações do SMABC (Sindicato dos Metalúrgicos do ABC), os trabalhadores que possuem remuneração mensal até R$ 3.115 não terão redução e continuam a receber 100% do valor. Já para quem ganha até R$ 7.000, a redução será de 5%.

“Para a grande maioria dos trabalhadores, que está nessa faixa, a proposta garante a manutenção de 95% dos salários”, informou o presidente da entidade, Wagner Santana, o Wagnão. “Ela cria uma boa referência para as negociações das demais empresas porque mantém o poder de compra do trabalhador.”

Nas demais parcelas salariais, a redução continua em progressão e pode chegar a 25%, como prevê a MP.

A planta da região produz peças e reposição de motores, além de também concentrar o setor administrativo e centro de engenharia da empresa. No total, são 1.193 colaboradores na unidade e 68 mil na base do sindicato.

Para os funcionários que recebem entre R$ 7.000,01 e R$ 9.000, o desconto será de 10%, e para os que ganham entre R$ 9.000,01 e R$ 10 mil, a queda é de 15%. A partir desta faixa, quem ganha até R$ 25 mil, recebe 20% a menos e, acima disso, tem o desconto de 25%. Inicialmente, o programa será aplicado por 60 dias. “A maioria das empresas está em férias coletivas até por volta do dia 13. Para boa parte delas, folgas ou banco de horas se tornaram a solução para continuar paradas. Porém, algumas não conseguem bancar férias e depois de um período isso acaba sendo um custo a mais para a empresa. Então, está se recorrendo à questão da suspensão do contrato de trabalho, que é uma medida que ainda carece de acertos e ajustes no Congresso. Mas já estamos negociando com vista da garantia que os trabalhadores fiquem em casa, em segurança, e permaneçam com a renda”, disse Wagnão.

Na região, a GM (General Motors, em São Caetano, foi a primeira a negociar a medida. Porém, de acordo com Wagnão, outras empresas menores da cadeia automotiva já solicitaram a suspensão temporária dos contratos. Dentre elas está a metalúrgica Delga, que produz peças estampadas em aço para a indústria automotiva localizada em Diadema e que possui 606 trabalhadores, e a autopeças Kostal, em São Bernardo, com 298 funcionários.

Os 140 colaboradores da sistemista SM, também localizada em São Bernardo e fornecedora da Volkswagen, decidem sobre o assunto, também on-line, amanhã. “Essa situação da economia só se agravou com a Covid-19. Muitas empresas já estão há algum tempo vendendo o almoço para comprar a janta”, afirmou o sindicalista.

Questionada, a Toyota confirmou que está em negociação com os sindicatos neste momento para “discutir uma proposta que garanta, em primeiro lugar, a segurança de seus colaboradores e também a sustentabilidade de seus negócios no País. Como o tema está em discussão neste momento, ainda não podemos dar mais detalhes”, informou.

Scania prorroga férias coletivas na fábrica de São Bernardo

Por causa da pandemia de Covid-19, a fabricante de caminhões Scania, que possui fábrica em São Bernardo, alterou a data de retorno das férias coletivas concedidas inicialmente de 23 de março a 13 de abril, para o dia 27. “A decisão é baseada na combinação de fatores ligados à economia, ao recém-revisado ambiente regulatório do Brasil, com extensão do isolamento em São Paulo, e a retomada da cadeia de suprimentos”, informou a empresa em nota divulgada.

No texto, a Scania também afirmou que nem o uso do banco de horas ou as férias serão suficientes para mitigar os impactos negativos, “por isso segue avaliando outras medidas em busca de alternativas em negociação com o sindicato”.

A empresa ressaltou que as concessionárias e oficinas continuam em funcionamento, e o abastecimento de peças aos clientes segue regularmente.

Todas as montadoras da região estão com a produção paralisada. Somente a GM (General Motors), em São Caetano, anunciou a suspensão temporária de contrato de trabalho com redução nos salários. As demais optam por folgas ou férias coletivas, e, além da Scania, a Mercedes-Benz também confirmou a prorrogação.

Sindicato pede medida contra aumento de convênios

FLAVIA KUROTORI
flaviakurotori@dgabc.com.br

O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC protocolou, na última semana, pedido no Congresso para congelamento dos preços dos convênios médicos. Isso porque o aumento da demanda causado pelo novo coronavírus pode abrir precedentes para reajustes abusivos. A entidade destaca que a medida é urgente, dado que os reajustes ocorrem no mês de aniversário do contrato e o reflexo da pandemia já pode começar a aparecer nas negociações de abril.

Na avaliação de Wagner Santana, o Wagnão, presidente do sindicato, os reajustes podem chegar a 100% caso os planos de saúde considerem a sinistralidade (relação do número de procedimentos em que o seguro foi acionado e o valor pago à operadora). “O aumento pode ficar estratosférico caso as internações na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) sejam consideradas e os trabalhadores não poderão pagar”, exemplificou.

Segundo o dirigente, há casos de empresas em épocas normais, ou seja, sem a ocorrência de epidemias, que chegaram a reajustar benefício em 50%. “Tudo depende do grau que o plano foi usado, mas tivemos períodos em que o número de acidentes subiu ou alguns precisaram de UTI, tornando a renegociação abusiva”, relatou.

“Historicamente, os convênios médicos agem um pouco de má-fé e, neste momento, não será diferente. Temos relatos de operadoras que negaram tratamentos e atendimentos relacionados à Covid-19”, afirmou José Santana Junior, advogado especialista em direito médico e de saúde.

Na quarta-feira, a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) exigiu garantia de atendimento a clientes inadimplentes durante a crise do novo coronavírus. A medida é uma das contrapartidas para desbloquear cerca de R$ 15 bilhões do fundo de R$ 54 bilhões de reservas técnicas de empresas do setor.

Santana Junior salientou que, caso os convênios médicos não atendam à demanda dos usuários, estas pessoas acabarão indo para o sistema público de saúde, o que pode sobrecarregar “ainda mais” o SUS (Sistema Único de Saúde). Atualmente, dois projetos de lei (PL 1.117 e PL 1.070) tramitam no Congresso visando suspender renegociações enquanto o estado de calamidade pública durar. No Senado, está em andamento a MP (Medida Provisória) 933, que congela os preços dos planos.Até que as medidas sejam aprovadas, a orientação é que o sindicato procure a Justiça em casos de aumentos abusivos. 




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