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Fernando: ‘Tenho muito a falar’

Técnico acusado de abuso sexual e assédio é convocado a depor em CPI e para audiência na Câmara

Por Dérek Bittencourt
10/05/2018 | 07:00
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Andrea Iseki/Banco de dados


Fernando de Carvalho Lopes quebrou o silêncio. Ontem, com exclusividade, o técnico acusado de abuso sexual e assédio moral a dezenas de ginastas – e que aguarda convocação para ser ouvido pela polícia – conversou brevemente com o Diário. Convocado a prestar depoimento na CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) instalada no Senado que investiga crimes relacionados a maus-tratos a crianças e adolescentes no Brasil, e convidado a participar de audiência pública que pretende debater os escândalos vinculados à ginástica artística brasileira na Câmara dos Deputados, o treinador do Mesc (Movimento de Expansão Social Católica) e ex-ASA São Bernardo e Seleção Brasileira confirmou presença em ambas.

“É a oportunidade de falar e temos muita coisa para falar. Mas tudo no seu momento”, afirmou Fernando, em tom bastante sereno.

O treinador, no entanto, pretende prestar depoimento à polícia antes de cumprir as agendas em Brasília. “Vou atender tudo o que for necessário. Mas a ideia é que marquem depois, e primeiro que eu preste contas na delegacia. Sou quem mais quer falar”, emendou. “Não adianta colocar a carroça à frente dos burros. Hoje a primeira pessoa a quem vejo necessidade de prestar conta é a delegada. Sou inocente”, finalizou ele.

De acordo com o advogado do técnico, Luis Ricardo Davanzo, o convite da Câmara chegou ontem – logo após aprovação da emenda apresentada pelo deputado federal Evandro Roman (PSD, do Paraná) – para audiência no dia 16. Entretanto, o defensor pediu adiamento “para depois do depoimento (à polícia)”. “Ele vai atender ao convite, mesmo não sendo obrigatório. Contudo, considerando que não foi ouvido e embora não tenha data, só pretende fazê-lo depois”, justificou. “Ele tem que aguardar ser ouvido pela autoridade policial, precisa ter acusação fechada, que não está ainda. O ideal seria que eventuais manifestações tanto da Câmara quanto do Senado aguardassem a conclusão do inquérito e, por consequência, a formação da acusação. Como vai se manifestar para outras autoridades antes da policial?”, questionou o advogado.

Presidente da referida CPI, o senador Magno Malta (PR, do Espírito Santo) disse ao Globoesporte.com que as investigações sobre as acusações a respeito de Fernando devem ser firmes. “Onde tem fumaça, tem fogo. E a nossa experiência diz que tem fogo. Ninguém arruma 40 pessoas para atacar alguém. Temos que ir fundo. Acho que onde tem 40, poderiam ter sido 39, mas poderiam ser 41, ou 42, ou 50. Precisamos ir fundo porque essa investigação tem que ser exemplar”, disse ele.

Outro nome aprovado pela CPI e convidado pelo Senado a participar foi o do ginasta andreense Diego Hypólito, que compete por São Bernardo. Em declarações recentes, ele confirmou ter passado por casos de humilhação e constrangimento por parte de atletas mais velhos no início da carreira. “O Diego é um convidado nosso, ele vem se quiser. Mas conversei por telefone com ele antes de fazer o convite, e se colocou à disposição para falar”, revelou Magno Malta.

BUSCA E APREENSÃO

Na sexta, Fernando de Carvalho foi surpreendido com a chegada de policiais civis para cumprir mandado de busca e apreensão na casa dos pais – onde reside –, em São Bernardo. Foram recolhidos CDs, DVDs, pen drives, HD externo e fita cassete. A polícia ainda não divulgou o conteúdo. “Se tivessem fotos relacionadas à pedofilia, seria caso de prisão em flagrante. Presumo que, pela delegada não ter pedido (prisão), não deva ter”, sugeriu Davanzo.

Atletas pedem banimento do treinador

Três das supostas vítimas de abuso sexual e assédio moral de Fernando de Carvalho Lopes, entre 1999 e 2016, entraram com pedido de instauração de inquérito no STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) da ginástica, para pedir o banimento do treinador.

Representante dos atletas, o advogado André Sica falou ao Diário sobre os procedimentos. “As infrações cometidas repercutem em várias esferas. Pedimos instauração de inquérito no STJD tomando por base as infrações que estavam sendo apuradas na esfera criminal. E, depois, que seja dada entrada nas ações cíveis indenizatórias para ressarcir danos cometidos”, disse.

“Cada caso, nas esferas criminal e desportiva, tem sido apurado em conjunto, mas na cível, são individualizados de acordo com o dano sofrido. Por exemplo: o que teve carreira interrompida, seja ressarcido por isso, ou o que sofreu, mas continuou, tem outro ressarcimento”, explicou Sica.

O treinador já foi afastado pelo Mesc (Movimento de Expansão Social Católica), viu o conselho tutelar de São Bernardo sugerir ao Ministério Público que ele não mais trabalhe com crianças ou adolescentes e pode ser exonerado da Prefeitura de Diadema. Desde 2016, processo do Conselho Regional de Educação Física para cassar o registro de Fernando corre em sigilo. 




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