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Índios comemoram Festa do Pilar em Ribeirão Pires
Renan Fonseca
Do Diário do Grande ABC
02/05/2011 | 07:25
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Cocares, penachos, arcos e flechas se destacaram entre câmeras fotográficas, celulares e jipes, na edição mais pitoresca da Festa de Nossa Senhora do Pilar, em Ribeirão Pires. As festividades da 75° edição do evento começaram ontem às 11h na área que abriga a Igreja do Pilar. Neste ano, a novidade foi a descoberta de uma antiga tribo indígena que viveu no local por volta de 1714.

Mais de 250 índios circulavam entre a população que prestigiou a festa. A abertura contou com a versão em guarani do Hino Nacional, adaptado pelo mestre em violão clássico e historiador indígena Robson Miguel. A canção foi entoada por 237 índios (em alusão à idade da igreja) vindos do interior de São Paulo e de outros Estados.

O músico, descendente indígena, mora em um castelo na cidade e é casado com a índia Tikuna, do Amazonas. Para Miguel, a festa foi uma oportunidade de oficializar a descoberta da antiga moradia nativa. "Antes de 1700, os índios que moravam aqui tinham o costume de plantar uma árvore de grande longevidade em memória aos falecidos", explicou o Miguel sobre o Cemitério do Pilar, área que se encontra atrás da igreja e que agrupa várias araucárias. "Assim, provo que aquele local foi o lugar onde foram enterrados os pajés", continuou o músico.

DOS ESTADOS UNIDOS
Entre o grupo de índios que cantaram o Hino Nacional adaptado, uma figura se destacava pela tonalidade da pele e vestimentas.

Ao contrário das tradicionais penas e peças feitas com palha, o cacique Lobo Velho trajava calça e jaqueta de couro de animal silvestre. Ele lidera grupo com mais de 20 índios da tribo Kariboca, com tradição dos índios norte-americanos. A tribo está instalada no distrito de Palmeiras, em Suzano, a pouco mais de 60 quilômetros de São Paulo.

"Nosso líderes espirituais são dos Estados Unidos. Mas a energia é a mesma nas tribos fora daquele país", contou.

 

Adaptação do hino foi feita em três dias por músico indígena 

Onheró Kuri pavé é a tradução não literal para o trecho "deitado eternamente em berço esplêndido" do Hino Nacional escrito em guarani e cantado ontem por 237 índios na Festa do Pilar, em Ribeirão Pires. A versão foi composta pelo músico Robson Miguel, que se empenhou por três dias para fazer a adaptação.

O músico, renomado nas seis cordas, logicamente não teve dificuldades para estudar as notas da composição do Hino Nacional. "O problema foi a simbologia. Por exemplo, na cultura indígena não existe berço, então, em alguns trechos tive de interpretar a letra", explicou Miguel.

A ideia de traduzir o hino surgiu da paixão pela cultura indígena. "Faço parte de uma tribo e sou casado com uma índia. O hino cantado em guarani tem o sentido de inclusão. O índio, quando canta o hino da Pátria, sente que faz parte do País", explicou.

Antes da apresentação de ontem, Miguel corria de um lado para outro ajudando na arrumação dos índios e fazendo pequenos ensaios. Quando conversava com alguém da organização da festa, Miguel falava em português. Com os amigos indígenas, o tupi e era a língua melhor entendida.




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