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Suicídios no Grande ABC aumentam 29% em 10 anos

Projeto de lei apresentado em Santo André pretende criar campanha permanente de combate à depressão na cidade

Por Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
09/08/2021 | 00:01
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Celso Luiz/ DGABC


O número de suicídios no Grande ABC aumentou 28,6% em dez anos. Segundo dados da Fundação Seade, em 2007 a região registrou 77 casos. O número passou para 99 em 2017, data mais recente do levantamento. Atentar contra a própria vida, normalmente, está relacionado a quadros depressivos. A depressão é apontada por muitos especialistas como o mal do século e o mundo todo tem registrado um aumento nos casos após o início da pandemia de Covid. Acompanhamentos com psiquiatra e psicólogos estão entre os tratamentos recomendados.

A professora do curso de psicologia da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) Sirlene Lopes Miranda afirmou que estudos realizados no Brasil durante a pandemia apontam para aumento de sinais de ansiedade e depressão entre profissionais de saúde, bem como ampliação no nervosismo/ansiedade e problemas de sono na população adulta brasileira durante esse período de crise sanitária.

“A pandemia mostrou mais as vulnerabilidades emocionais das pessoas e potencializou outras fontes de sofrimento decorrentes do estresse profissional, econômico, situações de luto e mudanças bruscas nas relações sociais. Com isso, a procura por informações e atendimento preventivo em saúde mental vem ganhando mais evidência”, destacou a docente.

Sirlene lembrou que nem sempre é possível apontar a causa do quadro depressivo e que existem várias formas de manifestação da doença enquanto diagnóstico da saúde mental. Pode estar relacionada a fatores genéticos, mas a sua manifestação envolve várias questões, sendo multifacetada e multicausal. A especialista aponta que, assim como em outras enfermidades, o diagnóstico precoce é aliado da recuperação. “A busca por ajuda qualificada auxilia no processo de um diagnóstico diferencial, aquele que identifica se os sinais depressivos estão ou não relacionados a outros aspectos e problemas de saúde mental e/ou física”, detalhou Sirlene.

O receio de buscar ajuda médica é um dos tabus muito comuns em pessoas com depressão. Na avaliação da psicóloga, para alguns indivíduos, recorrer a tratamentos psiquiátricos e/ou psicológicos pode ser visto como algum desajuste ou sinal de fraqueza emocional.

“Na realidade, é um sinal de autoconhecimento e resiliência”, frisou a docente. Sirlene ponderou que não é preciso viver sob controle do imperativo social de sermos fortes e perfeitos. “Essa fortaleza e perfeição inexistem e o anseio em obtê-las torna-se uma fonte de sofrimento emocional.”

PROJETO DE LEI
O vereador de Santo André Rodolfo Donetti (Cidadania) apresentou na última semana projeto de lei que propõe a criação de uma campanha permanente de informação, prevenção e combate à depressão. Batizada de lei Thiago Vaz, em homenagem a um jovem empresário da cidade que se suicidou este ano e que estava em depressão, a proposta visa incentivar o diálogo constante sobre o tema na cidade, envolvendo as secretarias de Educação e Saúde, instituições de ensino e outros atores. “A depressão é uma doença que cresce no Brasil e no mundo e nosso objetivo com esse projeto é salvar vidas”, afirmou o parlamentar. 

Região teve mais de 3.000 casos de depressão ou ansiedade em 2021

Segundo dados de prefeituras de quatro cidades do Grande ABC, 3.025 pessoas foram diagnosticadas no primeiro semestre deste ano com sintomas de depressão e/ou ansiedade. São Bernardo, São Caetano, Diadema e Ribeirão Pires afirmaram que contam com rede de assistência à saúde mental. Santo André não repassou os números e informou que a assistência na cidade não trabalha com a perspectiva do diagnóstico psiquiátrico e, sim, dos cuidados realizados, independentemente do sofrimento psíquico do indivíduo. 

Santo André conta com cinco Caps (Centros de Atenção Psicossocial) e um pronto-socorro 24 horas para emergências psiquiátricas, além de 32 UBSs (Unidades Básicas de Saúde), que são porta de entrada para a rede especializada.

Em São Bernardo, 112 pessoas iniciaram tratamento para depressão até julho deste ano e o acompanhamento é feito nas 33 UBSs, bem como nos nove Caps da cidade. São Caetano informou que no primeiro semestre deste ano 779 pessoas receberam a hipótese diagnóstica de depressão e 1.263, de transtorno misto ansioso e depressivo. A cidade conta com dois Caps e equipes de saúde mental. Durante a pandemia, o município disponibilizou um serviço de escuta para profissionais de saúde e população e o ambulatório pós-Covid também cuida de sequelas emocionais.

Em Diadema, 271 moradores foram diagnosticados com depressão ou transtorno de ansiedade. A cidade conta com cinco Caps, duas residências terapêuticas, enfermaria de retaguarda de saúde mental com dez leitos no HMD (Hospital Municipal de Diadema), entre outros serviços. Todas as 20 UBSs fazem parte da rede de atenção psicossocial. O município constituiu um grupo de trabalho pós-Covid visando a implantação da linha de cuidado com fluxos assistenciais das pessoas com sequelas (físicas e/ou psicológicas) decorrentes da doença.

Ribeirão Pires registrou 600 casos de depressão no primeiro semestre e reforçou as equipes dos Caps para atender à demanda. 

Mauá e Rio Grande da Serra não responderam até o fechamento desta edição.




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