Quem já viu um Festival de Inverno de Paranapiacaba já viu todos. Se essa afirmação fosse submetida a um daqueles testes escolares nos quais se pede para apontar verdadeiras e falsas em uma lista de sentenças, ela se localizaria sem pestanejar no topo das mentirosas. Por quê? Tomemos como base o último sábado, sábado, início do segundo fim de semana do 6º Festival de Inverno da vila ferroviária andreense, ao qual compareceram cerca de 29 mil pessoas.

Nenhum outro festival foi tão ensolarado quanto este. Verdadeiro. O sol e o céu limpo de sábado, que repetiram o clima do fim de semana inaugural, foram excelentes companhias para o visitante. Por outro lado, fez o comércio de roupas de inverno reduzir a marcha. “Esse solzinho atrapalha um pouco”, diz Maria Helena Silva, que está no festival pela quinta vez com uma barraca de gorros, luvas e cachecóis e estima uma queda de 30% a 40% este ano na procura pelos artigos que vende. “A gente agradece por esse sol bonito, mas não vê a hora que chegue a noite”, completa.

Nenhum outro festival foi palco de panfletagem eleitoral. Falso. Não é de hoje que candidatos a um cargo público distribuem santinhos e espalham bandeiras de autopromoção pelo evento de natureza cultural na Vila.

Nenhum outro festival teve um protesto tão veemente quanto o da Casa de Cultura Câmara Cascudo. Verdadeiro. O centro cultural em questão, que promove rodas de poesia, manifestou-se em meio à festa, com direito a marcha fúnebre e estandarte no qual se lia: “Estamos escluídos (sic) pela subprefeitura”. “Há quatro anos pedimos para participar da programação e a organização nos exclui. Dizem que a casa não entra no perfil”, afirma Nilton Claudino da Silva, professor, artista e fundador da Casa Câmara Cascudo.

A subprefeitura do Parque Andreense e de Paranapiacaba confirma a solicitação de ingresso no FIP. Ressalta, no entanto, que a casa fica em área residencial e que a mesma não cumpriu com os horários estabelecidos, provocando reclamações da vizinhança.

João Ricardo Guimarães, sub-prefeito da Vila, diz que a programação do grupo não está dentro do padrão de qualidade do festival: “Mas nada impede que eles façam suas atividades, que convidem os visitantes a ir até o espaço.”

Blues combina com a Vila – Nenhum outro festival teve um dia todo de programação oficial dedicado quase que exclusivamente ao jazz e blues. Verdadeiro. Exceto pela banda percussiva Som Catado, as atrações musicais do sábado em Paranapiacaba militavam nos dois gêneros musicais com maior ou menor veemência. De Aquilo Del Nisso a Mário Armstrong, de Irmandade do Blues a Prado Blues Band - a propósito, a Prado fez uma das apresentações mais elétricas e eletrizantes de toda a história do FIP. É impressionante como blues e o cenário londrino da vila combinam.

Nenhum outro festival teve uma programação paralela tão contundente. Verdadeiro. A Feira de Vinil, os estandes de poesia e os quartéis-generais provisórios de associações culturais da região, como a Casa 7 (Cooperativa de Ação nas Sete Artes) e a Cidadão do Mundo, que exibiam ao ar livre filmes de Buster Keaton, marcaram presença e chamaram presença. Foi tarefa para Hércules circular nos galpões dos “paralelos” nos horários de pico.

Nenhum outro festival vai deixar tanta saudade. Parcialmente verdadeiro. Já houve outras edições memoráveis para a agenda cultural da região. O que é totalmente verdadeiro: esta, a sexta versão do evento, está entre elas.