Uma blitz promovida nesta segunda-feira à tarde na unidade da Fundaçao do Bem Estar do Menor (Febem) da Imigrantes, na Zona Sul de Sao Paulo, terminou na apreensao de dezenas de instrumentos usados pelos seguranças da entidade para espancar menores. ``Sao instrumentos de tortura e a apreensao confirma a denúncia que havíamos recebido contra os monitores (seguranças) que trabalham na unidade', afirmou o promotor da Infância e da Juventude, Ebenezer Salgado Soares. Ele acompanhou a blitz junto com outro promotor, três juízes e o padre Julio Lancelotti, um dos coordenadores da Comissao Pastoral do Menor.

Entre o material apreendido estavam barras de ferro e pedaços de madeira enrolados com pano - para nao deixar marcas durante as sessoes de espancamentos-, encontrados em sacos escondidos em armários, debaixo de telhas de amianto nas alas controladas pelos monitores. ``Só eles (os monitores) têm acesso a esses locais e ficou claro que os objetos de tortura eram usados freqüentemente'. A maioria dos objetos estava na ala A da unidade. Segundo o promotor Soares, até o início da noite desta segunda-feira 69 menores já haviam denunciado que vinham sofrendo torturas desde o final de semana - o último deles nesta segunda-feira. ``Recebemos uma denúncia ainda nesta segunda-feira pela manha e ela foi confirmada. O adolescente tinha vários hematomas', disse Soares. Todos os menores que fizeram denúncias também apresentavam hematomas espalhados por várias parte do corpo e seriam submetidos ainda nesta segunda-feira à exames de corpo de delito.

A Febem da Imigrantes é uma das mais problemáticas de Sao Paulo, com fugas e rebelioes freqüentes. A causa mais comum é a superlotaçao. A unidade tem capacidade para 360 internos, mas nesta segunda-feira, no dia da blitz, estava com 1.400. ``É a primeira vez que apreendemos material usado em tortura. Num sistema fechado, quando o Estado nao investe em escolarizaçao, como reintegrar um adolescente à sociedade?', pergunta o promotor Soares.

Os menores que fizeram as denúncias de espancamento começaram a ser ouvidos à noite pelo delegado Hélio Bressan, do 97º Distrito Policial de Americanópolis, Zona Sul da capital. Ele chegou ao local acompanhado por uma equipe de peritos e médicos legistas do Instituto de Criminalística da capital. O delegado abriu um inquérito policial para apurar todas as denúncias envolvendo a Febem da Imigrantes e deverá indiciar os monitores que os menores apontarem como envolvidos nas sessoes de tortura.