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Carlos Brickmann
Os ratos que rugem
Por Carlos Brickmann
12/08/2020 | 00:19
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Há malfeitorias absurdas que muita gente comete, mas nega. E há também os que a confessam com orgulho. O deputado estadual Douglas Garcia, do PTB paulista, condenado a indenizar uma pessoa que incluiu no dossiê de militantes antifascistas (como se combater o fascismo fosse crime), excedeu-se: disse que o dossiê – 56 páginas, com dados pessoais, incluindo fotografias, de aproximadamente 1.000 pessoas – foi entregue à Embaixada dos Estados Unidos pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro, o filho ‘03’ do presidente Jair Bolsonaro. Não que os Estados Unidos, ou China, ou Rússia, todos exímios na espionagem, precisem do auxílio do rapaz que disse ter sido fritador de hambúrguer numa lanchonete que não vendia hambúrgueres.
Mas está dentro da lei entregar dossiês sobre cidadãos brasileiros a uma potência estrangeira? Os Estados Unidos são aliados do Brasil, Bolsonaro se considera meio que um genérico do presidente Trump, mas cada país tem interesses próprios – por exemplo, Trump ameaça taxar produtos brasileiros a menos que concordemos em importar etanol norte-americano sem taxas. O Brasil, grande produtor de álcool, precisa comprar etanol norte-americano tanto quanto precisa de açúcar de beterraba europeu ou de importar jabuticabas. Mas Trump quer votos de agricultores norte-americanos e o Brasil é pressionado a pagar por eles.
Garcia diz que agiu em conjunto com o filho ‘03’. Eduardo Bolsonaro não disse nada. Seu pai, Jair Bolsonaro, está quieto. “Brasil acima de tudo”?

Quem fica parado é Posto

No serpentário do Congresso, o superministro Paulo Guedes, o ‘Imposto Ipiranga’ do presidente Bolsonaro, é conhecido como “semana que vem”. Das três reformas que considerava essenciais para que o País se recuperasse e voltasse a crescer, uma foi aprovada – mas não sua versão, que ele não conseguiu emplacar, e sim a do Congresso, puxada por Rodrigo Maia. A tributária levou um ano e meio, foi enviada ao Congresso e até agora nenhum especialista de fora do governo a considerou à altura da reforma que já está lá em análise, coordenada pelo economista Bernard Appy e apresentada pelo deputado Baleia Rossi, do MDB paulista. A administrativa levou um ano para ficar pronta e o presidente Bolsonaro botou-a na gaveta. Mas, por fim, tomou uma decisão: só vai enviá-la no ano que vem, talvez em fevereiro. A estratégia é esperar a eleição para a presidência da Câmara e do Senado.

A face oculta
Por que esperar a eleição? Ora, caro leitor, não faça perguntas difíceis.

O jocoso e o ridículo
Orlando Morando, prefeito de São Bernardo, um ex-socialista que virou liberal e hoje é tucano, assumiu seu lugar no time que não gosta de imprensa livre: resolveu interpelar um talentoso chargista, Luiz Carlos Fernandes, do Diário, por charge publicada em 19 de julho. A charge trata de um assunto incômodo para sua excelência, uma empresa de sua propriedade denunciada à Polícia Federal por comprar imóveis beeem baratinhos, abaixo até do valor venal. Mas Morando não fala nisso: acusa o chargista de tê-lo desenhado “de maneira jocosa”. Curioso: sua excelência prefere charges “macabras”, “soturnas”, “mal-humoradas”?
Ora, ou charge é engraçada ou não é nada. No pedido de explicações a Fernandes, Morando ameaça processá-lo por calúnia e difamação. E não se limitou a ele: acionou o editor de Política do jornal, Raphael Rocha, autor da matéria (nada como culpar o mensageiro quando a mensagem é ruim) e ainda citou o diretor de Redação, Evaldo Novelini, e o editor-chefe do jornal, Wilson Moço.

Resolvendo a questão
Este colunista sugere que o prefeito se dedique a cuidar melhor da cidade.

Mais perseguição
O ataque à imprensa não se limita ao prefeito de São Bernardo: o famoso grupo JBS, de Joesley Batista, pressiona o ótimo repórter Cláudio Tognolli, que escreveu três livros sobre a empresa: Nome aos Bois, Traidores da Pátria e A CPI do BNDES – no qual, além da JBS, ou J&F, é citado também um grupo nacional que enquanto dava lucro era privado, e foi virando estatal à medida que os lucros caíam, até que, ao fechar, tinha o BNDES como sócio principal. O delegado Ronaldo Augusto Comar Marão Sayeg, da Divisão Antissequestro da Polícia Civil de São Paulo, pediu a prisão preventiva de Tognolli. O juiz Xisto Albarelli Rangel Neto rejeitou o pedido.

Bolsonaro atende os trans
Um acordo entre a Advocacia Geral da União, a Secretaria do Trabalho e Previdência do Ministério da Economia e a Defensoria Pública da União vai permitir que travestis e transexuais incluam seu nome social na carteira de trabalho. O acordo foi celebrado em Roraima, mas valerá para todo o País, já que a carteira de trabalho digital é um sistema único, nacional. A partir de agora, a Secretaria do Trabalho e Previdência tem seis meses para tomar todas as providências necessárias para implementar a alteração. 




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