Política Titulo Ex-prefeito
Não podia se falar em greve, lembra Gilson

Em depoimento à Comissão da Verdade de Diadema, ex-prefeito lembrou período repressivo

Por Rogério Santos
Do Diário do Grande ABC
08/02/2014 | 06:27
Compartilhar notícia
Celso Luiz/DGABC


“Construíram um golpe contra a classe trabalhadora.” Esse foi o sentimento do ex-prefeito de Diadema Gilson Menezes (PSB), ao relembrar a ditadura militar no Brasil (1964-1985), ontem, durante depoimento à Comissão da Verdade de Diadema. Para ele, a organização sindical foi fundamental para enfraquecer o regime autoritário e reforçar o desejo de mobilização popular.

O depoimento foi interrompido por falta de energia. Mas o imprevisto não tirou a emoção do ex-sindicalista ao relembrar a atuação política nos anos de chumbo. “Naquele tempo não se podia nem falar a palavra ‘greve’. Se um grupo de pessoas se reunisse na rua para conversar, já era motivo de perseguição”, disse Gilson.

O ex-sindicalista revelou que não integrou nenhum grupo organizado contra o regime militar, mas enalteceu seu engajamento político, amparado pela atuação política dos sindicatos, um dos principais alvos do regime autoritário, principalmente na década de 1970.

“Apesar da dificuldade encontrada, a organização dos trabalhadores foi muito importante naquela época de incertezas”, relembra.

Militante político desde os anos 1960, Gilson Menezes disse que foi preso apenas em 1980, quando passou um mês no Dops (Departamento de Ordem e Política Social). Ressalta que não foi torturado, ao contrário de tantos outros opositores aos militares. “Fui convocado para me apresentar (ao Dops) porque era presidente do fundo de greve do Sindicato dos Metalúrgicos (do ABC)”, ressaltou.

Dois anos após a prisão, Gilson foi eleito prefeito de Diadema, tornando-se o primeiro petista a governar uma cidade brasileira.

Segundo ele, naquele momento que antecedeu o fim da ditadura, Diadema viveu uma fase de intensa organização popular, com a participação dos moradores nas discussões políticas da cidade.

O ex-prefeito elogiou a iniciativa do Legislativo em registrar os depoimentos de quem vivenciou o período de repressão política. “Quero contribuir com a memória dessas lutas. A sociedade tem que se lembrar daquele momento, para que nunca mais tenhamos uma ditadura militar no Brasil.”

O depoimento de Gilson Menezes era um dos mais esperados pela Comissão da Verdade local, presidida pela vereadora Cabrera (PT).

O grupo iniciou as atividades em novembro e colheu o depoimento de outros munícipes relatando a luta pela volta da democracia no País. “Nosso trabalho expira em março, mas pediremos a prorrogação por mais seis meses para continuarmos colhendo esses importantes depoimentos”, disse a petista.

APAGÃO
A plenária começou às 9h30 e estava prevista para terminar às 12h. Mas foi interrompida 20 minutos após Gilson começar a falar. Funcionários da AES Eletropaulo tiveram de realizar reparos na rede, interrompendo o fornecimento de energia elétrica no entorno da Câmara.

A atividade foi encerrada, mas o socialista se comprometeu a retornar na próxima semana para continuar a explanação. Além de Gilson, o secretário de Educação, Marcos Michels, também será ouvido pela comissão.
 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;