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Os sem-noção

1 - Os policiais militares de Salvador podem ter toda a razão a seu lado. Mas uma corporação armada não

Carlos Brickmann
08/02/2012 | 00:00
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1 - Os policiais militares de Salvador podem ter toda a razão a seu lado. Mas uma corporação armada não pode desafiar o Governo. Isso não é greve: é motim. E deixar uma cidade sem polícia, com aumento do número de crimes, é pior que motim: é considerar que seu próprio trabalho é inútil. Então, por que pagá-los?

2 - O governador baiano Jaques Wagner pode ter toda a razão a seu lado ao condenar o motim e exigir disciplina da tropa. Mas não pode esquecer que, quando estava na oposição, apoiou uma greve igualzinha. Agora é a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar. Que não se faça de vítima.

3 - Os erros que levaram à calamidade são antigos e nacionais: pagar a um PM pouco mais de R$ 2 mil mensais para que arrisque sua vida todos os dias é obrigá-lo a morar na favela, a viver endividado, a perguntar-se se vale a pena lutar por quem não lhe paga. Isso vale em todos os Estados. E os governadores, seja qual for seu partido, pagam mal à PM; avaliam por baixo a vida dos outros.

Em outras épocas, quando governador não tirava férias para ajoelhar-se e gritar "Caramuru" na frente de Fidel Castro enquanto seu Estado pegava fogo, o mineiro Milton Campos teve de enfrentar uma greve da PM por falta de pagamento. Seus assessores lhe recomendaram que enviasse um trem blindado, cheio de soldados, à cidade onde se reunia o comando da greve.

Sempre ponderado, Milton Campos forjou uma frase clássica:

"Não seria melhor mandar para lá o trem pagador?"

Pressão total

Jaques Wagner já não é a pessoa mais firme do mundo, e está sendo submetido a forte pressão federal, para que não faça concessão alguma. O Planalto teme que os eventos baianos se repitam nos Estados. Motivos para que a greve se espalhe, há: a PM ganha mal mesmo e pede a aprovação da PEC-300, uma emenda constitucional que determina que recebam pelo menos o salário pago hoje em Brasília, o maior do país. A PEC-300 está no Congresso e o Governo manobra para impedir que seja votada (se for para o voto, quem terá coragem de votar contra o aumento?) Teme-se que Rio, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Alagoas, Acre e Espírito Santo sigam os passos dos baianos.

Baixo nível

Bem que a TV Cultura de São Paulo tentou dar voz a pelo menos dois lados, na greve da PM baiana: o Jornal da Cultura, de Maria Cristina Poli, convidou o historiador Marco Antônio Villa e o diretor da Infraero (e ex-deputado) Aírton Soares para debater o caso. Aírton não deixou Villa falar: gritou sem parar, interrompeu no início, aos berros, as frases do outro convidado, falou por cima, impediu que o telespectador sequer ouvisse o que ambos tinham a dizer (em TV, como em rádio, interromper a fala do outro é falta de educação - mais do que na vida diária, pois gera tamanho ruído que não é possível entender nenhum dos dois). Soares levou vantagem: não tinha o que dizer e censurou quem tinha.

Questão no ar

O Ministério Público faz questão de fazer investigações. Quando alguém vai preso, o Judiciário decide se continuará preso ou não. Como se sentirão os PMs (e os policiais civis, que ganham salários tão ridículos quanto), sabendo que o MP paga a um procurador em início de carreira nove vezes o salário de um PM? Ou quatro vezes o salário de um delegado de primeira classe? E que os juízes não precisam entrar em greve, porque raramente o Governo nega seu aumento? E estão todos no mesmo ramo: segurança pública e combate à criminalidade.

Aprendendo a voar

Agora, vai: um dos consórcios privados que, com dinheiro do BNDES, vão tocar os aeroportos que a presidente Dilma privatizou, foi buscar know-how na Argentina. Outro procurou a mundialmente famosa expertise da África do Sul.Já o menor dos aeroportos licitados traz o savoir-faire dos franceses.

De empresa pública a privada

E como se fez a privatização dos aeroportos? Nos três consórcios, a Infraero tem 49%. Num deles, que opera o maior dos aeroportos, Guarulhos, juntam-se três fundos de pensão estatais, Previ, Funcef e Petros - ou seja, quem manda é o Governo. Quem paga, também: o BNDES entra com 80% dos investimentos, com aqueles jurinhos legais que o caro leitor não vai achar em lugar nenhum.

O mundo gira

O tempo passa, o tempo voa, nem a poupança Bamerindus continua numa boa. Houve tempo em que, se o time perdesse, podia ser aniversário até do presidente do clube: ninguém iria fazer festa em público. Se este colunista fosse torcedor do Santos, estaria irritadíssimo com a comemoração logo após a derrota.

Quanto é?

Há cinco portais na Internet (CGU, Senado, Instituto Ethos, Tribunal de Contas da União, Ministério dos Esportes) com informações sobre os gastos da Copa de 2014. Cada um traz uma informação diferente e muita gente ficou confusa. Bobagem: este colunista sabe quanto vai custar a Copa. É o triplo do cálculo sério mais alto. Haverá escândalo, inquérito e gente com o bolso cheio.




Comentários

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