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Ferramentaria fecha 2.582 empregos entre 2010 e 2019

Crise na indústria faz cenário ser pior ao de InovarAuto, saída é Pró-Ferramentaria, dizem especialistas

Por Tauana Marin
Do Diário do Grande ABC
23/02/2020 | 00:01
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Banco de Dados/DGABC


O volume de trabalhadores no setor de ferramentaria do Grande ABC teve queda de 46,4% de 2010 a 2018, segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego compilados pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Isso representa menos 2.582 pessoas empregadas no segmento, passando de 5.564 para 2.982 funcionários.

O cenário é impactado pela desindustrialização pela qual o Grande ABC passa, em especial no setor automotivo. Tanto que os níveis de empregabilidade na ferramentaria estão inferiores ao período de implementação do InovarAuto, programa federal de incentivo do segmento.

Em 2010, cinco das sete cidades registravam 5.564 trabalhadores na área. Em 2014, um ano depois de entrar em vigor o InovarAuto, esse contingente passou para 4.559 – foi o período também em que a crise econômica eclodiu. A queda no volume de empregos entre 2014 e 2019 foi de 34,6%.

“Os números refletem o processo de perdas no setor industrial da região e a ferramentaria, por ser um setor estratégico, quando não tem investimento ou política estadual específica, faz com que as empresas migrem seus centros de pesquisa para outros locais. Hoje, sem dúvidas, a China e a Coreia (do Sul) são os países que dominam esse setor”, afirma o diretor executivo do sindicato responsável por políticas industriais, Wellington Messias Damasceno. Atualmente, há 104 empresas presentes na região.

Paulo Sérgio Furlan Braga, presidente do conselho automotivo da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), explicou que o cenário dos últimos 15 anos sinaliza forte desindustrialização na região devido à estratégia que a China adotou na política industrial nos últimos 30 anos, preparando sua mão de obra de forma escalonada.

“Isso fez com que o centro de decisão de montadoras optasse pela importação do itens pela baixa carga tributária, principalmente as dos países asiáticos, tendo base que não possuem os mesmo custos de produção do Brasil. Diante desse cenário, veio o InovarAuto (leia mais abaixo), no âmbito federal. Mas não basta. Enquanto a China e a Coréia formam 3.000 engenheiros de ferramentaria por ano, o Brasil padece de políticas inovadoras no setor industrial e empresarial”, discorreu Braga.

A crise na economia brasileira dos últimos anos e a consequente queda na produção nas montadoras instaladas na região, assim como o fechamento na Ford, em São Bernardo – no fim de outubro –, também contribuíram para que trabalhadores da ferramentaria ficassem sem ocupação.

Com o cenário, as sete cidades trazem novamente para pauta o Pró-Ferramentaria, programa do governo do Estado que visa fomentar as empresas do setor e deve estimular a criação de até 80 mil empregos em toda a cadeia produtiva do Grande ABC, de acordo com estimativa da Abimaq. O tema foi debatido na semana passada no Instituto Mauá de Tecnologia, em São Caetano. O evento foi organizado pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e pela CNM (Confederação Nacional dos Metalúrgicos) da CUT (Central Única dos Trabalhadores), em parceria com a Abinfer (Associação Brasileira da Indústria de Ferramentais), Abimaq e o APL (Arranjo Produtivo Local) de Ferramentaria do Grande ABC.

Em linhas gerais, a iniciativa do governo estadual autoriza empresas paulistas do setor automotivo a utilizar créditos acumulados de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) na compra de itens. O Pró-Ferramentaria é bandeira do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, sendo que o projeto foi sugerido pela primeira vez em agosto de 2017. O ex-governador Márcio França (PSB) assinou o decreto em novembro de 2018 estabelecendo o programa, mas o governo do Estado ainda não regulamentou as novas normas. Hoje, o programa tem decreto 63.785 de novembro de 2018. resolução 104 de dezembro de 2019.

“O programa traz bom exemplo de um caso de sucesso, já que a discussão envolve governo, sindicatos, universidades e empresas. Por causa dessa articulação, montadoras devem demandar o serviço e irão utilizar os créditos. Estamos com o Consórcio e o governo do Estado para fazer a liberação rápida. Por parte das universidades é de extrema importância que apoiem novas tecnologias na (re)capacitação desses trabalhadores, para que possam retomar a atividade industrial e voltarem a ter emprego”, contextualiza o dirigente sindical.


Rota 2030 e IncentivAuto seguem tímidos

Considerado alternativa para impulsionar os investimentos no setor automotivo nacional, o Rota 2030, substituto do InovarAuto, ainda luta para ser efetivamente implementado no País.

O programa federal prevê a devolução em créditos tributários na ordem de R$ 1,5 bilhão para empresas que investirem ao menos R$ 5 bilhões em projetos de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento).

Porém, queda de braço entre os antigos MDIC (Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços) e o Ministério da Fazenda fez com que a aprovação e a regulamentação da proposta fossem atrasadas. Houve também embate sobre a abrangência da futura legislação, que foi considerada por especialistas e dirigentes da área como mais restrita que o InovarAuto, que vigorou até 2017.

No Grande ABC, a GM (General Motors) – que possui planta em São Caetano e ameaçou sair do Brasil no ano passado –, a Volkswagen, a Scania e a Mercedes-Benz – com fábricas em São Bernardo –, estão habilitadas ao Rota 2030. Se vigorasse a pleno vapor, o projeto impulsionaria as montadoras e, consequentemente, traria impacto positivo no segmento de ferramentaria.

Outra proposta voltada ao setor, mas essa patrocinada pelo governo do Estado, é o IncentivAuto. O programa prevê a concessão de até 25% no ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre novos produtos para montadoras. Para ter acesso ao benefício, elas precisam investir a partir de R$ 1 bilhão – porém, devem atingir montante de R$ 10 bilhões para ter o benefício máximo – e gerar pelo menos 400 novos empregos. O texto foi sancionado pelo governador João Doria (PSDB) em outubro, mas os avanços visíveis ainda são tímidos.  




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