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Infestada por cupim, estátua é incinerada

Escultura de Agenor Francisco dos Santos que reproduz São Pedro foi tirada da USCS em 2006

Por Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
31/05/2015 | 07:00
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André Henriques/DGABC


Um pedaço da história de São Caetano perdeu guerra travada por 44 anos contra os cupins. Esculpida em madeira, a estátua de São Pedro, um dos símbolos da cidade e que ficou exposta no jardim da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) por 26 anos, precisou ser incinerada devido ao comprometimento estrutural em 2013. O lamentável destino da obra de arte chama a atenção para a necessidade preservação das produções artísticas como forma de manutenção da cultura.

Assinada pelo escultor Agenor Francisco dos Santos, a estátua nasceu em 1969, um ano após o artista baiano ter apresentado ao prefeito Walter Braido, que estava em sua primeira gestão, a ideia de presentear o papa Paulo VI com imagem representativa de São Pedro Apóstolo. Aceito o pedido, começou o trabalho para trazer um tronco de peroba, que media 12,20 metros de comprimento e 40 centímetros de diâmetro e pesava 31 toneladas, da cidade de Cianorte, no Paraná. A expedição, que contou com a ajuda de 16 homens, oito guinchos e três caminhões, demorou 12 dias entre ida e volta.

A chegada da tora à cidade foi um marco, lembra o sociólogo José Roberto Gianello. “Quando os caminhões chegaram foi uma festa em frente à Prefeitura da época (Avenida Goiás). Montaram um galpão lá para o Agenor trabalhar e a população podia ficar observando”. Conforme o morador de São Caetano, nem todos davam a devida importância à obra. “Tinha muita gente interessada, mas também tinha quem ridicularizava por não entender.”

Dez meses após o início dos trabalhos e com investimento de 30 mil cruzeiros, a estátua foi concluída e, com isso, começou também imbróglio sobre sua destinação. Isso porque houve recusa por parte do Vaticano em receber o item devido aos altos custos e dificuldade para transporte.

A estátua de São Pedro ficou exposta na Praça da Sé, na Capital, por alguns meses e, depois disso, foi levada ao setor de parques e jardins da prefeitura local, onde ficou esquecida. Começou ali a primeira fase de sua degradação, já que parte da estrutura ficou apodrecida.

Em 1975, com o retorno do prefeito Walter Braido ao poder em São Caetano, houve o resgate da peça, que passou por restauro pela primeira vez. “O Glenir (Domingo Glenir Santarnecchi) que era secretário de Comunicação na época, denunciou esse descaso e resolveram que era preciso resgatar a estátua”, explica a presidente da Fundação Pró-Memória de São Caetano, Sonia Maria Franco Xavier.

Sem local definido para a estátua, o diretor da USCS, Imes na época, Oscar Garbelotto, sugeriu ao prefeito que a peça fosse instalada no jardim da instituição. Foi lá que a estátua de São Pedro ganhou uma casa. Permaneceu no local por quase três décadas, tendo em vista que foi removida entre 1991 e 1996 por conta das obras da universidade. “Ela era uma espécie de símbolo de fé do morador de São Caetano”, considera Sonia.

Em 2006, devido a uma infestação de cupins, a estátua foi removida em definitivo do jardim da USCS. A ação foi respaldada pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) após análise indicar a praga e a possibilidade de queda. Conforme a universidade, após “inúmeras tentativas de recuperação”, foi constatado que o problema era irreversível e poderia afetar outras estruturas, o que culminou no processo de incineração.

“Fica o exemplo do descaso do poder público, que é atrasado. Poucos são os municípios que se interessam em preservar. As famílias dos artistas também deveriam reivindicar cuidado com as obras de arte”, destaca Gianello.

Falta consciência sobre a importância dos símbolos

Em 1996, a presidente da Fundação Pró-Memória de São Caetano, Sonia Maria Franco Xavier, lançou o livro Inventários dos Signos de Logradouros Públicos de São Caetano, com o intuito de identificar as referências patrimoniais na cidade e, com isso, ajudar na construção da memória municipal.

Segundo Sonia, uma das observações durante o trabalho de pesquisa para a obra foi a falta de consciência sobre a importância dos símbolos existentes. “As pessoas passam pelos objetos e não os enxergam. Elas precisam ser estimuladas a observar e, com isso, se tornarem espécie de guardiões da cultura”, considera.

A presidente da Fundação Pró-Memória afirma que o episódio envolvendo a Estátua de São Pedro e o descaso para sua conservação também chama a atenção para a necessidade de órgãos preocupados com manutenção e limpeza das obras de arte. 




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