Carlos Boschetti Titulo Análise
Brasil, cemitério de empregos e fábricas
Por Carlos Boschetti
31/03/2016 | 07:10
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A produção industrial brasileira acumula queda de 8,7% nos últimos 12 meses até janeiro. É o maior recuo desde novembro de 2009, de acordo com informações da PIM-PF (Pesquisa Industrial Mensal Produção Física Brasil), do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Embora em janeiro tenha ocorrido leve crescimento de 0,4% em relação a dezembro de 2015 – interrompendo ciclo de sete meses seguidos de quedas –, não há esperanças de recuperação consistente para o ano. Com isso, a expectativa de analistas é que prossigam o fechamento de empresas em diversos segmentos da economia e as demissões de trabalhadores.

A produção nacional recuou 12,4% na comparação com igual período do ano anterior, desempenho muito inferior ao da produção mundial, que registrou crescimento de 1,9%. A produção da Rússia, país que também passa por grave crise econômica, teve queda de 5,7% no quarto trimestre. No Chile, houve recuo de 1,5% e, na Argentina, de 0,9%. O México apresentou crescimento de 2,2%. Na América Latina como um todo, a queda foi de 4%.

Após processo de recuperação judicial malsucedido, a Mabe, fabricante de linha branca, pediu falência em fevereiro e fechou as fábricas de geladeiras Continental em Hortolândia e de fogões Dako em Campinas, ambas no interior de São Paulo. Os 2.000 funcionários estão com salários atrasados desde dezembro e também não receberam as rescisões. Há mais de um mês, um grupo deles ocupa as fábricas.

Os 770 trabalhadores da MTP (Metalúrgica de Tubos de Precisão), fechada há pouco mais de um ano em Guarulhos, em São Paulo, ainda esperam pelo pagamento integral dos salários. A MTP fornecia peças para fabricantes de automóveis e de motocicletas, segmentos cujas vendas despencaram. A empresa está na cidade há pelo menos 50 anos e já passou por vários proprietários.

A gigante no ramo de autopeças Delphi fechou duas fábricas no ano passado, em Mococa, em São Paulo, e Itabirito, Minas Gerais, e neste ano encerra a transferência da unidade de Cotia para Piracicaba, ambas em São Paulo. Ao todo, 1.700 trabalhadores perderam o emprego. O grupo ainda tem 11 unidades fabris no País.

Quando a Justiça aceitou o pedido de recuperação judicial da Proema, fabricante de autopeças, a fábrica de Diadema e uma de São Bernardo já estavam fechadas. O grupo tinha entre os clientes a Fiat, GM, Honda e Mercedes-Benz e faturava R$ 500 milhões por ano, mas desde 2014 as encomendas caíram mais de 50%. Os 750 funcionários foram demitidos sem receber as rescisões. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, a dívida salarial soma R$ 35 milhões.

A Maxion, que produz rodas automotivas em Guarulhos, em São Paulo, há 57 anos, vai desativar a linha produtiva até o fim do ano. A fábrica já empregou 3.000 pessoas e, hoje, tem 500 funcionários. A entidade negocia pacote salarial para as demissões. A empresa alega que vai transferir apenas algumas linhas.

Nos últimos 20 meses, a fabricante de implementos rodoviários Randon operou durante nove meses com semana de quatro dias na fábrica de Guarulhos, inaugurada em 1965. Também houve quatro períodos de férias coletivas de dez a 30 dias, e emenda em todos os feriados. No início de 2015, a Randon tinha 400 funcionários em Guarulhos, e agora tem 130. O sindicato dos metalúrgicos negocia com a empresa o pagamento de seis salários extras e benefícios para o pessoal que será demitido em abril, mas diz que a empresa resiste em aceitar a proposta.

Estamos vivendo período muito complicado e precisamos urgentemente de definições quanto ao rumo de nossa economia para que empresários e trabalhadores não tenham de continuar pagando as contas de erros cometidos em nossas diretrizes econômicas.
 




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