Economia Titulo Alimentos
Protesto na Craisa deixa
sacolões desabastecidos

Comércio de frutas, verduras e legumes do Grande ABC e
produtores do Interior tiveram perdas que chegaram a 25%

Leone Farias
Tauana Marin
17/04/2013 | 07:00
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Um dia sem poder abastecer na Ceasa (Central de Abastecimento) da Craisa (Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André) trouxe prejuízos ao comércio de frutas, verduras e legumes da região e também a produtores do Interior. Diversos sacolões e hortifrúti ficaram com falta de mercadorias para oferecer aos clientes ontem e contabilizaram perdas de até 25%.

Comerciantes da Craisa fizeram manifestação em frente à empresa municipal ontem pela manhã, em ato que tomou faixas da Avenida dos Estados (no sentido de Santo André para a Capital) para protestar contra as condições estabelecidas na licitação dos espaços da Ceasa (veja mais ao lado).

Devido à falta de abastecimento da Ceasa, o Sacolão Primavera, de Mauá, ficou com prateleiras vazias. "Tive prejuízo de 25% no total de vendas. Faltaram hortaliças e legumes. Ainda bem que tenho outro fornecedor de São Paulo e amanhã (hoje) meu estabelecimento terá todos os alimentos para venda", desabafou o proprietário Vinicius Ribeiro.

A funcionária da Horti Granjeiro Irmãos Kono, instalado no mercado do Rudge Ramos, em São Bernardo, Marina Kono, também reclamou da falta de verduras. "Nossos clientes que compram itens para salada do almoço ou jantar ficaram sem. Tomara que tudo se normalize", esperava. Outro trabalhador do hortifrúti também reclamava. "Fomos lá (na Ceasa) às 4h e estava tudo trancado. Estamos sem nada aqui", afirmou. Se a central de abastecimento da região continuasse fechada hoje, o estabelecimento teria de tentar comprar itens em feiras e, só na quinta-feira, ir ao Ceagesp, na Capital. Os trabalhadores do local, porém, garantiram que vão aguardar reunião com a Prefeitura na tarde de hoje e, até lá, o abastecimento será liberado (veja mais ao lado).

A empresária Silvana Mariângela de Assis, proprietária do Sacolão Adriático, no bairro Jardim do Estádio, em Santo André, também sentiu o problema. "Estou sem morango, uva, caqui, ameixa, e a maça está acabando, provavelmente terei prejuízo", disse ainda sem calcular as perdas. "É muito longe ir ao Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) e tem que ficar lá a noite e o dia inteiro", acrescentou.

PRODUTORES - O prejuízo também atingiu produtores que foram ontem à Ceasa para vender suas mercadorias. Foi o caso de Alex Almeida, que veio de Capela do Alto (perto de Sorocaba) com três caminhões carregados de frutas e encontrou as portas do local fechadas. Um dia parado, ontem, já vai significar perdas para ele. "Não fomos avisados de nada. A laranja ainda resiste, mas acho que vou perder as bandejas de mandioca e de milho. Se soubesse nem teria trazido", disse. Ele calcula os prejuízos em R$ 10 mil a R$ 15 mil.

 

Ceasa retoma operações hoje, após manifestação

A Ceasa volta a funcionar hoje, após mobilização dos atacadistas que vendem mercadorias no local e funcionários dos boxes ontem pela manhã. O protesto é contra as condições estabelecidas na licitação dos espaços da Ceasa.

A Prefeitura abriu concorrência pública no sábado para a concessão dos 55 boxes, estabelecendo como preço mínimo do termo de outorga R$ 90 mil por boxe (cada um com 90 m² ou cerca de R$ 1.000 o m²) pelo prazo de dez anos. Há mais dois boxes com 270 m², que serão licitados pelo mínimo de R$ 302 mil. Além disso, há taxas que somam R$ 7.000 mensais de rateio de despesas comuns (por exemplo, pagamento de água, luz e aquisição de materiais para serviços de reparo e manutenção). Fora isso, o aluguel será reajustado, passando de R$ 1.800 para R$ 2.750. O recebimento das propostas será dia 17 de maio.

QUEIXAS - Vendedores reclamam dos valores. "Sabemos que precisa de licitação, mas queremos o preço justo. Pensávamos em R$ 30 mil, R$ 40 mil. O comércio está devagar. Se não chamarem para negociar, vamos continuar a mobilização", afirmou o vice-presidente da Associação das Empresas da Ceasa do Grande ABC, Júlio César da Costa Pereira. "Está muito alto, para as condições dos comerciantes que estão trabalhando lá. Do que jeito que foi colocado, ninguém (empresas que revende hortifrúti no local) vai ter como pagar", disse o presidente da associação, João Batista de Lima. "É um absurdo. Vão ser R$ 10 mil por mês para pagar", observou o comerciante Edson da Silva Cruz, que tem boxe de frutas.

O superintendente da Craisa, Hélio Tomaz Rocha, disse que o edital segue a Lei de Licitações e notificações do Ministério Público e orientações do Tribunal de Contas do Estado, e que os valores tomam como base pesquisa com outras Ceasas (por exemplo, a de Minas Gerais). Ele acrescentou que também toma como referência licitação aberta em 2006 para alguns boxes vagos, em que houve lances de R$ 20 mil, de R$ 39 mil, mas também houve um de R$ 60 mil pelo prazo de cinco anos.

"Atualizando o valor (R$ 60 mil), daria R$ 74 mil, mas para cinco anos. Se fosse por dez anos, daria o dobro", salientou a diretora operacional da companhia, Ivani Pereira Cerveline. Montante pode ser parcelado em 13 vezes (20% no ato mais 12 parcelas). "Não é sangria desatada", disse Rocha.

 

Empresa registra prejuízo de R$ 835 milhões

Além das perdas dos clientes que compram suas mercadorias na Craisa, a Ceasa também registrou prejuízo significativo. Segundo informações da Prefeitura de Santo André, estima-se que a Ceasa comercialize por dia, em média, volume de 496 mil quilos de produtos, o equivalente a movimentação média de R$ 835,4 milhões. Considerando que a empresa ficou fechada por um dia, R$ 835,4 milhões é o prejuízo médio de ontem.

NEGOCIAÇÃO - Após manifestação em frente à Craisa, por volta das 9h30, os comerciantes e seus funcionários rumaram em passeata para o Paço Municipal, para continuar em protesto e buscar diálogo também com os vereadores e com a administração municipal.

A Prefeitura recebeu comissão de representantes dos permissionários e informou, após o encontro, que os valores estabelecidos como outorga mínima foram determinados a partir de pesquisa de mercado e que a redução do valor mínimo ocasionará no aumento da concorrência, mas propôs a revisão das formas de pagamento das concessões.

Contatado depois da reunião, o presidente da Associação das Empresas do Ceasa do Grande ABC, João Batista de Lima, disse que a administração municipal ouviu as queixas em relação aos valores e prazos de pagamento e que vai oferecer proposta hoje, às 16h, em novo encontro.

 




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