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BRT necessita de sistema bem
integrado, avaliam especialistas

Corredores podem racionalizar a rede de transporte coletivo da região; atuação entre municípios deve ser conjunta

Por Aline Melo
Anderson Fattori
Do Diário do Grande ABC
18/05/2021 | 00:01
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Divulgação


O BRT (sigla em inglês para ônibus de alta velocidade) precisa ser um sistema bem integrado. Essa é a avaliação de especialistas ouvidos pelo Diário. Mais do que um simples corredor de ônibus, o BRT é um conceito de transporte coletivo de alta velocidade, que precisa ser monitorado e ter seus clientes também acompanhados desde o momento em que o passageiro pisa na área de embarque, até o instante em que desembarca, aponta o especialista em mobilidade e ex-secretário de transportes de Campinas, no Interior, André Aranha Ribeiro.

Ribeiro estava na prefeitura da cidade do Interior de São Paulo, em 2012, quando o projeto do BRT do município – com promessa de entrar em operação entre o fim de 2021 e o começo de 2022 – foi aprovado. Lá serão 37,9 quilômetros de vias em três corredores, com capacidade diária de receber até 110 mil passageiros. “As características do sistema de Campinas são bastante semelhantes ao que está sendo pensado para o Grande ABC”, pontuou o especialista.

Diretor do programa de cidades do WRI Brasil, instituto de pesquisas sobre cidades, clima e florestas, Luis Antonio Lindau apontou que o BRT não será um sistema que vai concorrer com outros meios de transporte (como as linhas de ônibus municipais, por exemplo), mas sim racionalizar todo o sistema de transporte.

“Precisa estar tudo bem integrado e assim deve ser concebido”, citou. A integração entre sistemas semafóricos das quatro cidades que vão receber o traçado pode ser um desafio, avaliou Ribeiro. “Mas tudo isso pode ser superado com projetos de engenharia e controle operacional”, pontuou.

Uma vez instalado e em pleno funcionamento, o sistema do BRT tem potencial de atratividade grande para quem ainda privilegia o transporte individual. De acordo com Lindau, pesquisas mostraram que um ano após a implementação do BRT de Belo Horizonte, em Minas Gerais, houve aumento de 15% no número de passageiros que trocaram o transporte individual pelo coletivo. “Foi uma pesquisa bem específica e ficou demonstrado que pessoas que utilizavam carro ou moto passaram a usar o BRT naquela cidade”, afirmou.

PLANO CONJUNTO
Em Campinas, a operação do sistema será licitada em breve, junto com todas as linhas de ônibus convencionais, por um prazo de 15 anos. “Aqui tudo estará integrado, o sistema de bilhetagem, a integração temporal gratuita com o uso do bilhete eletrônico que já é utilizado na cidade”, detalhou. “No Grande ABC, como existem diferentes sistemas municipais, isso tem que ser alinhado de forma clara entre os governos”, sugeriu.

Tanto Ribeiro quanto Lindau são unânimes em afirmar que o BRT foi um sistema concebido no Brasil, com os primeiros corredores construídos na década de 1970. No entanto, aponta que existem alguns modelos de implementação com sérios problemas no País, como o BRT do Rio de Janeiro. Inaugurado em 2012, o serviço chegou a ser paralisado este ano por falta de pagamento dos funcionários, depois de anos acumulando transtornos, como má qualidade do pavimento dos três corredores; calotes no pagamento da passagem e acidentes atribuídos a falhas de sinalização.

Para Ribeiro, o BRT do Rio de Janeiro é um exemplo de como o sistema deve ser pensado de forma integrada e global com os outros modais de transporte da cidade. Na avaliação de Lindau, um dos maiores problemas no Rio de Janeiro foi não haver garagens centrais para os veículos. “Foi feito como um serviço adicional aos que já existiam, não foi pensado como um novo serviço, com padrão de operação sobre trilhos”, finalizou. 

Modal fará interligação com outras redes

Quando entrar em operação – a previsão é início de 2023 –, o BRT vai interligar o Grande ABC às linhas da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), Metrô, Expresso Tiradentes, linhas da SPtrans e também ao Corredor ABD – veja no mapa acima. Essa integração entre os diferentes sistemas é a grande aposta do governo do Estado para criar alternativas de transporte entre os municípios do Grande ABC e a Capital.

De imediato, assim que ficar pronto, o BRT vai acessar a Linha 2-Verde do Metrô, por meio das estações Tamanduatei e Sacomã. O projeto também prevê integração com a futura Linha 20-Rosa do Metrô, que está em estudo, sem prazo definido para execução. Caso seja concretizado o traçado proposto pelo Estado, que foi elaborado e publicado em edital, o novo modal da região fará baldeação com o metrô na Estação Afonsina, em São Bernardo, e também na Estação Prefeito Celso Daniel, em Santo André, que seria o ponto inicial da Linha 20-Rosa.

O acesso até a Linha 10-Turquesa da CPTM se dará também pela Estação Tamanduatei, por onde o usuário pode seguir até a Estação Sacomã, integrando também ao Expresso Tiradentes.

Por fim, o BRT terá importante ligação com o Corredor ABD, operado por trolebus, por meio do Terminal São Bernardo, que é o ponto de partida dos ônibus articulados do BRT.

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“O BRT-ABC vai levar os passageiros de modo eficiente e absolutamente coerente com a demanda da região, de acordo com os estudos de origem-destino realizados”, comentou o secretário dos Transportes Metropolitanos, Alexandre Baldy. “Esse é o primeiro BRT, aqui no Estado de São Paulo que vai permitir a ligação de áreas importantes do Grande ABC”, comentou o governador João Doria (PSDB), na ocasião de lançamento do projeto do novo modal. 




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