Economia Titulo Primeira
Diadema antecipa o retorno do comércio

Prefeito Lauro Michels contraria determinação do governo do Estado, que vale até dia 10

Flavia Kurotori
Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
23/04/2020 | 01:06
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 O governo do Estado decidiu flexibilizar a quarentena válida até o dia 10 de maio e anunciou, ontem, a retomada gradativa da atividade econômica a partir de 11 de maio. Apesar de a determinação valer para os 645 municípios do Estado, decreto do prefeito de Diadema, Lauro Michels (PV), autoriza a reabertura de estabelecimentos de comércios e serviços desde hoje.

De acordo com a Prefeitura da região, o decreto, assinado ontem, permite o funcionamento de consultórios, salões de beleza e serviços de estética, escritórios de contabilidade, comunicação visual, advocacia, imobiliárias, lavanderias, vidraçaria, serralheria, lava-rápido e estacionamentos. Porém, o documento exige que funcionem com horário marcado e sem espera, além de respeitar normas de higiene, como disponibilização de álcool gel e uso de máscara pelos clientes e colaboradores.

O prefeito anunciou ontem, em vídeo nas redes sociais, que irá seguir a normativa do Estado e manter a quarentena até 10 de maio, mas com permissão para volta dos serviços gradativamente. “Escritórios de advocacia, consultorias e marcenarias poderão funcionar desde que respeitem as regras da Vigilância Sanitária”, exemplificou o prefeito.

Ontem, mesmo antes do decreto de flexibilização, o Diário flagrou comércios funcionando normalmente na cidade durante o dia.

As demais prefeituras da região seguem as determinações de quarentena do Estado. Paulo Serra (PSDB), prefeito de Santo André, destacou que o município está “mais adiantado” na discussão, já que protocolou ontem documento no MP (Ministério Público) com planejamento de reabertura de alguns segmentos do comércio. “Queremos validar as atividades que não prejudicam o isolamento físico, comprovando que aumentamos a capacidade de atendimento na saúde (por meio dos hospitais de campanha) e que, a partir da próxima semana, teremos testagem em massa”, explicou o chefe do Executivo.

Segundo Paulo Serra, as medidas incluem estabelecimentos que podem atender com portas fechadas, horário agendado e individualmente.

“Acho necessário (o debate). (A flexibilização) Obrigatoriamente precisa estar alinhada com a proteção e saúde das pessoas. Não podemos repetir o que houve na Itália. Em determinado momento, a quarentena lá (na Itália) afrouxou e o resultado foi péssimo. Manaus, por exemplo, não fez sua lição de casa, não teve quarentena, não teve isolamento, e olha o que aconteceu”, afirmou o prefeito de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB)

ESTADO
O governador João Doria (PSDB) afirmou que os novos protocolos serão discutidos por uma equipe de economistas. A abertura será definida de acordo com critérios, que vão separar as regiões em zonas (veja mais na arte ao lado). Entre eles, o número de casos de Covid-19 e a disponibilização de leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

O governador destacou que é importante que os municípios respeitem a quarentena. O Plano São Paulo permite a reabertura gradual de alguns setores a partir do dia 11. “É um plano que segue a ciência e vamos estabelecer o diálogo com os municípios. Se não tiver o convencimento, adotaremos medidas legais”, disse Doria, ao ser questionado sobre cidades do Interior que tendem a relaxar as medidas.

Associações veem dia 11 muito longe

O anúncio sobre a flexibilização da quarentena, feito ontem pelo governo do Estado, não tranquilizou os comerciantes da região. Isso porque, na avaliação das associações comerciais, as medidas são vagas, demoradas e sem garantia, uma vez que dependem do comportamento da Covid-19 em cada município.

“Não vimos nenhum tipo de detalhamento ainda, ficou só para o dia 8, fora que está atrasado, 11 de maio é muito tarde considerando que já temos empresas fechando e outras demitindo”, analisou José Roberto Malheiro, presidente da ACE (Associação Comercial e Empresarial) de Diadema. “Muitos patrões não terão como segurar os funcionários até lá.”

Valter Moura, presidente da Acisbec (Associação Comercial e Industrial de São Bernardo), lembrou que a maioria dos comércios adotou férias coletivas. “Mas (o período) termina semana que vem e alguns comércios cogitam demitir. Temos o caso de uma empresa que irá dispensar 20 dos 40 funcionários e, se voltar, ele (o empresário) disse que pode recontratar.”

Segundo o governo estadual, a flexibilização dependerá da situação de cada cidade. Assim, há o temor que o Grande ABC não seja contemplado pelas mudanças. Conforme o Diário já publicou, a letalidade da Covid-19 é maior na região (7,4%) do que no Estado (6,5%) e no País (4,5%).

“Hoje, a flexibilização é uma opção, mas o dia 11 está a quase 20 dias e podemos ter outro cenário, não temos garantia”, afirmou Pedro Cia Junior, presidente da Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André).

Para a indústria, medida demorou

Para as sucursais do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) no Grande ABC, a medida anunciada pelo Estado é extremamente necessária, mas a retomada deveria ser feita já na próxima semana. As indústrias dependem do comércio para destinar o fluxo da produção e defendem a flexibilização.

O diretor do Ciesp de Santo André, também responsável por Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, Norberto Perrella, afirmou que muitas das empresas não devem aguentar, caso a abertura gradativa seja realizada apenas no dia 11. Na média, o faturamento caiu cerca de 70%. “A indústria depende diretamente do comércio começar a vender. Mas a maioria deve estar com estoque, então até comprarem novos produtos, existe um delay, que pode demorar cerca de 60 dias”, disse.

O diretor do Ciesp de Diadema, Anuar Dequech Júnior, também defendeu que a reabertura seja mais rápida. “A economia, da mesma forma que a saúde, é extremamente importante para a população. Claro, que sem deixar de tomar os cuidados necessários, mas a economia precisa recomeçar, e tem que ser já. Nós já estamos faturando um terço do total do valor médio.”

O diretor do Ciesp de São Bernardo, Cláudio Barberini Junior, também afirmou que a retomada gradual é de “extremamente importância”. “O Estado tem sido omisso, e nós esperamos uma ação neste sentido. Antes tarde do que nunca, mas algo precisa ser feito. Até porque a população está com redução de salários e as compras não serão feitas normalmente.”




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