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Efeito de juro maior nos EUA sobre emergentes pode ser amortecido por BCE e BoJ
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31/12/2014 | 07:10
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O processo de normalização da política monetária dos Estados Unidos em 2015, com o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) voltando a subir os juros, deve afetar os fluxos de capital para os emergentes no ano que vem, preveem economistas. Mas a expectativa inicial é que os movimentos dos investidores estrangeiros não devem ser bruscos, pois a decisão do Fed deve ser compensada em parte por novos estímulos monetários do Banco Central Europeu (BCE) e do Banco do Japão (BoJ). A volatilidade no mercado financeiro mundial, porém, deve aumentar.

O Instituto Internacional de Finanças (IIF, na sigla em inglês), formado pelos maiores bancos do mundo, projeta fluxos líquidos para os emergentes de US$ 1,207 trilhão em 2015. O nível é praticamente o mesmo do esperado para 2014, com US$ 1,201 trilhão, mas inferior a períodos anteriores a 2013, quando, por exemplo, as compras bilionárias de ativos pelo Fed estimularam a ida de recursos para os emergentes. "Um fator chave para a direção dos fluxos de capital serão as decisões de política monetária nos países desenvolvidos", afirma o IIF.

Os economistas do Fundo Monetário Internacional (FMI) destacam que não é apenas a elevação dos juros dos EUA que deve desencadear mudanças nos fluxos de capitais internacionais e maior volatilidade nos preços dos ativos em 2015. A mudança das expectativas dos agentes sobre quando este movimento deve ocorrer tem papel ainda mais importante, pois vai determinar a realocação das carteiras dos investidores. Por enquanto, a presidente do Fed, Janet Yellen, afirmou que a alta não deve ocorrer no início de 2015, mas tudo vai depender dos indicadores da economia.

O Citibank prevê "volatilidade significativa" nos mercados em 2015, mas não vê razões para "muito pessimismo" nos fluxos de capital. "É claro que o aperto monetário dos EUA irá afetar os fluxos internacionais, mas não prevemos nenhuma catástrofe", avalia o economista-chefe para mercados emergentes do Citibank, David Lubin. "A incerteza sobre os rumos dos fluxos vai continuar em 2015, mas a perspectiva de elevação dos juros pelo Fed pode, em parte, ser ofuscada pelas ações dos bancos centrais na Europa e Japão", destaca.

O Bank of America Merrill Lynch avalia que a liquidez no mercado internacional ainda vai continuar elevada, mesmo sem as compras mensais de ativos do Fed, sobretudo por conta da expectativa do BCE lançar no começo do ano que vem um programa de aquisição de papéis, avalia o economista para mercados emergentes do BoFa, Alberto Ades. Para o Fed, ele aposta em uma alta gradual dos juros nos EUA a partir de setembro do ano que vem. "Não achamos que a liquidez ficará mais apertada em 2015", disse ele, lembrando que o Banco do Japão reforçou recentemente seus estímulos monetários. Com o maior crescimento esperado para os EUA e a elevação dos juros, o dólar deve continuar forte e as moedas dos emergentes enfraquecidas.

Muitos investidores estrangeiros de varejo podem preferir esperar a alta de juros dos EUA se confirmar antes de decidir onde alocar seus recursos, avalia o gestor da Loomis Sayles & Company, que tem US$ 210 bilhões em ativos, Dave Rolley. "Eles podem aumentar a cautela antes de fazer novas aplicações. Se a expectativa e as discussões sobre o aperto monetário nos EUA levarem a muita volatilidade, vamos ver um movimento de investidores preferindo esperar a elevação se confirmar."

Rolley ressalta ainda que há uma preocupação crescente de que a alta de juros nos EUA vai levar a uma saída do capital de mais curto prazo (ou "hot money", no jargão usado pelo mercado financeiro) dos emergentes, em um movimento semelhante ao já visto em meados do ano passado, quando o Fed sinalizou pela primeira vez que mudaria sua política monetária. Mesmo assim, ele ainda vê oportunidades "muito boas", em emergentes.

Para o estrategista de renda fixa da Gramercy, gestora dos EUA que aplica US$ 2,6 bilhões em mercados emergentes, Gunter Heiland, os investidores dos EUA seguem interessados em aplicações com rentabilidade alta e por isso devem continuar alocando recursos no exterior, embora a tendência seja de maior cautela. Além disso, apesar do esperado menor ritmo de crescimento para os emergentes, estes países devem ter um ritmo de expansão em 2015 que ainda será o dobro dos países desenvolvidos, oferecendo, por exemplo, oportunidades de aplicação em bônus e ações de empresas e governos.

A gestora da OppenheimerFunds, que administra US$ 230 bilhões, Sara Zervos, avalia que vai continuar ocorrendo uma maior diferenciação entre os emergentes na alocação internacional de recursos pelos investidores. Ela afirma, por exemplo, que economias menores e mais enfraquecidas, com necessidade de financiamento, pode ser mais prejudicadas que outras maiores e com indicadores mais robustos. Sara diz que tem conversado com clientes nos EUA que estão pouco expostos a emergentes e em busca de retorno maior.




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