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Música por instinto e prazer
Por Dojival Filho
Do Diário do Grande ABC
24/06/2005 | 08:37
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A tradição marca o compasso da intuição na pauta musical da cantora e compositora Márcia Cherubin, única representante de Santo André na etapa final do prestigiado Festival de Música de Tatuí, no interior do Estado. Em sua 14ª edição, realizada no início deste mês, o evento, que é parte do calendário oficial da Secretaria Estadual de Cultura, recebeu 1.010 inscrições de diversas regiões do país. Sem dominar nenhum instrumento e trabalhando apenas com melodias registradas em um gravador (mais que um recurso, instrumento de trabalho indispensável para a intérprete), Márcia classificou a canção Bairro do Macuco, feita em homenagem à vida simples das pessoas que moram em um vilarejo em Cerqueira César, outra cidade do interior paulista.

“Olha quem vem lá/ De chapéu de sol, cigarro de palha, moço brejeiro e de pé no chão”, canta em um dos trechos da música, segunda faixa do CD demo Pobre Chão, co-produzido por ela no primeiro semestre do ano passado, em parceria com Diego Venâncio (voz e violões) e Humberto Lima (baixos, baterias, percussões e pianos) e Giba Brito (arregimentação da voz). “O festival teve um nível muito bom. Me senti super à vontade e orgulhosa, por estar ao lado de nomes convidados como o Bira (contrabaixista do sexteto do Programa do Jô) e dos músicos da Orquestra do Conservatório (Conservatório Dramático e Musical Doutor Carlos de Campos, renomada instituição da cidade organizadora do evento)”, disse Márcia.

Composto por 15 faixas, o trabalho desvela delicadamente todas as influências da artista, que, em uma busca quase arqueológica, reveste de inventividade a tradicional música popular brasileira, retomando características cristalizadas a partir da década de 60: abordagem de temas regionais, preocupação com a qualidade harmônico-melódica, arranjos bossa-novísticos, africanidade, alusões à vida campestre, preciosismo poético e canções de protesto.

Apostando em conceitos há muito estabelecidos, o CD poderia perfeitamente enveredar pelo caminho da obviedade, resultando em um trabalho burocrático e despersonalizado. Felizmente, não é o que acontece, graças ao talento latente da compositora e de suas interpretações cheias de gana.

Qualidade – Caso atípico no mercado, a cantora, de 42 anos, não busca o sucesso puro e simples, repleto de concessões à vulgaridade artística que permeia o mainstream, sufocado por regravações e hits tão instantâneos quanto supérfluos. A estabilidade financeira (Márcia trabalha na General Motors há 25 anos e, atualmente, é gerente regional de vendas da empresa) faz com que ela priorize a qualidade e escolha o público para quem quer falar. Pérolas para ouvintes exigentes.

“O prazer de cantar está à frente do estabelecimento de uma carreira. A partir das minhas músicas, quero mostrar alguma coisa importante para mim e o meu país”, afirma a cantora, para quem a atuação musical também representa a exteriorização de um objetivo acalentado desde a adolescência, quando descobriu com amigos os monstros sagrados que norteiam sua interpretação: Elis Regina, Edu Lobo, Chico Buarque, Tom Jobim, Leila Pinheiro e os mineiros do Clube da Esquina. Para concretizar o sonho, contou com a ajuda fundamental das professoras de canto Débora e Érica.

Sobre o futuro, Márcia diz que pretende continuar, sem pressa nenhuma de atingir a fama, divulgando suas composições em espaços culturais e bares que privilegiem a boa música.




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