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O motor do futuro
Por Rafael Marques
05/11/2021 | 00:01
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Em nota técnica publicada na 19ª Carta de Conjuntura da USCS, disponível em https://www.uscs.edu.br/noticias/cartasconjuscs, tratei das transformações tecnológicas, no que se refere aos novos motores. Há décadas discute-se mundialmente a continuidade da utilização de combustíveis fósseis, derivados do petróleo, e a adoção de outras fontes de energia para motores, sejam de carros de passeio, caminhões de carga, ônibus ou até mesmo máquinas de beneficiamento e tratores. 

A razão para este debate se deve, em princípio, à finitude dessa fonte, que ainda hoje é majoritariamente utilizada no planeta, como aponta a previsão da British Petroleum, que afirma que o petróleo vai acabar cedo ou tarde. Se não for daqui a 53 anos, será nos próximos 60, 70 ou 100 anos. 

Nesse contexto, a mudança dos motores movidos a combustão para os motores elétricos ou híbridos tem estimulado estudos tecnológicos de viabilidade dessa transformação na substituição de nossa matriz energética.

Os carros elétricos, em sua maioria, estão dotados de baterias abastecidas por eletricidade, proveniente de usinas nucleares, hidrelétricas, termelétricas, ou ainda movidos por hidrogênio, com algumas pesquisas nessa direção.

Os motores híbridos que têm sido testados podem, além de manter seu funcionamento eletrificado, alternar sua energia com o etanol, óleos vegetais e gases provenientes de fontes naturais ou da decomposição do lixo, assim como energia eólica, das marés e solar.

Mesmo os motores a combustão, ao longo da história, receberam vários implementos e modificações tecnológicas em busca de reduzir a emissão de poluentes na atmosfera e isso também está na base dos debates sobre as alterações das fontes de abastecimento automotivo. 

A eliminação dos gases de efeito estufa na atmosfera global e a preservação do meio ambiente são aspectos fundamentais que incentivam o desenvolvimento de nova matriz energética a ser adotada como prioritária no futuro. Até mesmo no horizonte de conter as mudanças climáticas, que têm afetado como nunca a vida no planeta. 

O seminário Híbrido Etanol: O Motor do Futuro – Uma Agenda de Desenvolvimento, Emprego e Sustentabilidade, realizado em Araraquara, no Interior paulista, reuniu representantes de trabalhadores, empresas automobilísticas, do setor sucroenergético, acadêmicos e do poder público, em um debate sobre a transição do motor movido a gasolina para um motor híbrido etanol, antes de chegar ao 100% elétrico.

Entre as preocupações, que envolvem todo o processo de mudança com a adoção de uma nova fonte energética para os motores, a eliminação de postos de trabalho foi mais uma diante do impacto em toda a cadeia produtiva.</CW> 

Um estudo da Boston Consulting Group mostrou que os empregos tradicionais da indústria automotiva serão duramente atingidos com o crescimento das vendas dos veículos elétricos. De acordo com o relatório, os empregos nas montadoras cairão 20% e nos fornecedores tradicionais ligados aos motores a combustão vão despencar 42% até 2030. 

Porém, o levantamento diz que os que estiverem focados em tecnologias de emissão zero vão representar um crescimento de 10% no nível de emprego, mas que fatalmente não estariam no Brasil, devido ao baixo incentivo na formação dessa mão de obra qualificada. 

Lamentavelmente, durante esses últimos três anos, toda a discussão da eletromobilidade foi paralisada, não evoluiu e, pior, o Brasil ainda não olhou para o setor automotivo como um todo nem para o combate à crise climática, para definir o padrão tecnológico que teremos nas próximas décadas e que impactos sociais e ambientais poderão ser minimizados. Essa decisão não poderá ser de cada uma das grandes marcas multinacionais que atuam no mercado brasileiro. 

Além disso, a chance de ter um carro nacional pode estar nessa transição tecnológica do setor, criando uma cadeia de autopeças robusta, como já tivemos no passado, e novos serviços oferecidos pela indústria automotiva, como a administração da frota, por exemplo. 

Com isso, uma série de novos negócios, com o fortalecimento da produção da cadeia do etanol brasileiro, pode ser implementada, para além das fronteiras brasileiras, que dialogue com os continentes sul-americano, africano, com o Oriente Médio e com outras regiões que não precisam ter como tecnologia dominante o carro elétrico 100%. Poderá ter uma mescla que vai do elétrico ao etanol, passando pelo híbrido. Para tanto, basta definir que padrão tecnológico o Brasil terá nas próximas décadas.

O conteúdo desta coluna foi elaborado por Rafael Marques, presidente do Instituto Trabalho, Indústria e Desenvolvimento, o TID-Brasil, e ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e da Agência de Desenvolvimento Econômico do ABC. É colaborador voluntário do Conjuscs (Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da USCS (Universidade Municipal de São Caetano).




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