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Vídeo caseiro combate o uso de drogas
Por Bruno Ribeiro
Do Diário do Grande ABC
01/06/2008 | 07:06
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Andréa Iseki/DGABC


As histórias de cinco pessoas que abandonaram o lar para mergulhar no vício do crack estão sendo mostradas para crianças de sete escolas estaduais de Santo André. Os depoimentos gravados em 2006 estão em um minidocumentário de 20 minutos produzido voluntariamente por dois policiais militares da cidade. Além de tristes, as histórias têm um final chocante: dos cinco personagens, quatro já estão mortos em decorrência da dependência da droga.

O vídeo faz parte do trabalho de policiamento comunitário do sargento Nilson Francisco Carvalho e da soldado Andréa Marchezelli Peres. Quando assumiram a função, há dois anos, decidiram melhorar o relacionamento com os jovens das escolas da área, a região da Vila Sacadura Cabral.

"Após contato com as escolas, decidimos nos aproximar das crianças com o intuito de mostrar que não existem só policiais que chegam dando tapa na cara dos outros na periferia. Queríamos inverter essa imagem, afinal a influência que o traficante exerce sobre essas crianças é enorme", diz Carvalho. Essa aproximação começou ensinando os jovens que eles são cidadãos e têm direitos civis.

"Falávamos o que não poderia ser feito por um policial durante uma vistoria, como as agressões, por exemplo, e dávamos os telefones da Ouvidoria e Corregedoria da PM para denúncias, caso sofressem abuso", conta Carvalho.

O passo seguinte deste programa foi a apresentação de vídeos mostrando o outro lado do glamour de ser um traficante. Os policiais passaram a exibir sessões do filme O Senhor da Armas, que mostra quem é que lucra com o comércio bélico, e do documentário Falcão - Meninos do Tráfico, produzido pelo rapper MV Bill.

"Mas as crianças não se identificavam muito com as histórias, que são de realidades diferentes das deles. Por isso, fizemos o nosso próprio filme", explica Carvalho.

A produção foi doméstica. A câmera usada foi emprestada pelo pai de Andréa, e a edição foi um favor de um conhecido de Carvalho. As cinco entrevistas foram feitas com usuários de crack moradores de rua na mesma região das escolas. O que a dupla não sabia era que, assim como em Falcão, a maioria dos personagens estaria morta em dois anos.

"As crianças ficam chocadas com as histórias. E não é nada que elas não conheçam. Em uma sala, perguntamos quem já tinha visto alguém fumar maconha. Todos levantaram a mão", afirma Carvalho.

Ao todo, 5.000 jovens já assistiram ao vídeo. Além do contato maior das crianças, o melhor resultado para a dupla foi a experiência com três jovens que aproximaram-se dos PMs e, mesmo já encaminhados para o consumo e até para o tráfico, saíram da marginalidade e continuaram a estudar. O retorno que os policias têm do trabalho está nas redações apresentadas pelos alunos ao término das atividades. Carvalho e Andréa guardam todas.Os relatos começam revelando rancor com a Polícia Militar, mas terminam elogiando a atitude solitária da dupla.

Apesar de iniciativas como a dos policiais serem uma esperança para que as fileiras de traficantes e usuários parem de aumentar, ainda há pessoas que não pensam assim. "Teve casos de professores e diretores de escola que zombaram do trabalho. E mesmo colegas de farda, que não gostam muito da idéia de passarmos telefones da corregedoria para o caso de abusos", lamenta o sargento.




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