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População acha que beber água direto de bicas é mais saudável

Tradição de pegar recurso em fontes, poços artesianos e minas é mantida no Grande ABC

Bia Moço
03/02/2019 | 07:13
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Denis Maciel/DGABC


Todas as pessoas devem se lembrar de ao menos uma vez na vida terem tomado ou buscado água direto da bica, poço artesiano ou minas. Diferentemente do que acontecia no passado, quando a população não tinha outra forma de obter o recurso natural, os que mantêm a tradição acreditam que o hábito preza pela saúde, pois, na visão deles, a bebida é mais saudável do que as adquiridas em mercados ou filtros.

A equipe do Diário visitou bicas de água em São Bernardo e São Caetano. Das 20 pessoas ouvidas, todas têm a mesmo opinião: água direto da fonte é sinônimo de recurso 100% natural.

A fonte independência Antenor Eichenberger Junior, na Avenida Kennedy, em São Bernardo, estava lotada. Em 15 minutos, pelo menos 50 pessoas passaram pelo local. Seja para encher garrafinha, galões ou somente para beber água, todos os frequentadores elogiam a qualidade.

Aposentada, Olivia Paiva, 56 anos, mora no bairro Alvarenga. Com cinco galões de 20 litros, ela contou, animada, que toda semana busca água para ela e mais quatro vizinhos. “Temos o recurso de graça, não gastamos com compra e filtro. A água daqui é saudável, e ainda ajudo meus vizinhos, que não têm como vir pegar.”

O ajustador mecânico Wladimir Garcia, 46, há 15 anos – quando saiu do bairro Ipiranga, na Capital, e decidiu morar no município são-bernardense – aderiu ao hábito. “Acho que as prefeituras deveriam investir mais em bicas. Além de ser um recurso natural e que deve ser disponibilizado à população, ainda ajuda pessoas de rua.”

Em São Caetano, a bica Ivaí, no bairro Santa Paula, também mostrou que está aprovada, já que o movimento é intenso. O representante comercial Luiz Carlos de Abreu, 62, disse gostar de tomar a água fresquinha. “É muita facilidade. Acho que a água saída de bica é mais confiável e saudável.”

O mesmo pensa a administradora Kátia Mota, 41. Na companhia de suas duas filhas, Eloisa, 8, e Maite, 3, a moradora do bairro Santa Maria levou cinco galões para encher. “A água daqui é boa, leve e mais gostosa de que se comprarmos. Quero deixar esse exemplo às minhas filhas.”

NA REGIÃO

Em Santo André, há 55 poços artesianos cadastrados, que são monitorados pela Prefeitura através de lançamentos no Programa Sisagua (Sistema de Informação do Ministério da Saúde), que registra os dados de qualidade da água.

São Bernardo revitalizou a fonte independência, que hoje conta com 24 torneiras. É abastecida por um poço artesiano e possui capacidade para fornecer 80 mil litros de água por dia. São Caetano conta com 11 bicas e sete poços artesianos, as quais fazem análises da água por laboratório contratado.

Existem ainda três minas e 28 poços artesianos cadastrados na Vigilância Ambiental de Diadema. Segundo a Prefeitura, a condição dos equipamentos, atestada por empresas cadastradas, é satisfatória. Já as minas não possuem condições satisfatórias referentes à potabilidade, já que estão inseridas em locais próximos à rede de esgoto ou locais que não possuem saneamento.

As prefeituras de Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra não forneceram informações sobre o tema até o fechamento desta edição.

Urbanização acabou com nascentes

Professor da Universidade Metodista e consultor na área de saneamento e resíduos sólidos, Carlos Henrique de Oliveira ressalta que a tradição de beber água direto da fonte se perdeu principalmente pelo processo de urbanização. Para ele, as cidades, conforme foram crescendo, acabaram com as nascentes e os chamados olhos d’água, o que considera política equivocada.

“Muitas destas nascentes receberam intervenções de forma a permitir que a população pudesse se abastecer das águas destes locais. Com o passar do tempo – e também pelo processo de urbanização –, várias destas nascentes acabaram por ter a qualidade e a quantidade das águas comprometidas”, considerou Oliveira.

Para o professor, esse comprometimento ocorreu por diversas razões, sendo a principal a contaminação dos lençóis freáticos por falta de saneamento básico.

“Em razão disso, antes de utilizar as águas das bicas, é fundamental que as prefeituras façam análise da qualidade das águas e verifiquem qual a possibilidade de uso, de forma a orientar a população e evitar doenças, como casos de diarreia, vômitos, infecções intestinais e outras manifestações”, explicou.

Para o especialista, infelizmente, a região viu reduzida a cultura que está presente em outros países, como Roma, Nova York e Paris, que dispõem de melhor controle do produto oferecido. “São exemplos de cidades que mantêm bicas para a população, garantindo a qualidade das águas para consumo. Em um País tropical, como o Brasil, essa seria alternativa de acesso à água muito importante.” 




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