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Comunicação na ‘idade da pedra’

Moradores de Ribeirão Pires enfrentam a falta de serviços de internet e TV a cabo

Por Bia Moço
Especial para o Diário
06/11/2017 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


Velocidade, agilidade, sinal e avanços são alguns pontos necessários para se ter boa comunicação. Na era digital tudo depende de uma base tecnológica estruturada, mas embora todas essas facilidades pareçam estar presentes no dia a dia da população, não é em todo lugar que acontece de forma eficaz. A falta de serviços de internet e TV a cabo é uma questão que tem dado dor de cabeça e complicado a vida dos moradores de Ribeirão Pires, além de inibir o desenvolvimento econômico.

A equipe de reportagem do Diário percorreu os bairros do município, inclusive o Centro – onde a Prefeitura disponibiliza rede wi-fi aberta –, realizou testes e não conseguiu conexão. A população ouvida é unânime em afirmar que, enquanto o mundo está conectado e permite às pessoas trocar informações em tempo real com facilidade, Ribeirão Pires ainda vive na idade da pedra.

A cidade conta com 120 mil habitantes e cerca de 3.000 empresas (entre micro, pequenas e médias). Para Arthur Lopez, proprietário de escola de programação para crianças, o uso da rede é indispensável para que possa trabalhar, mas a luta diária para que o sinal funcione tem dado dor de cabeça. “A empresa de telefonia que atende aqui é a Vivo, e só oferece pacotes da tecnologia Speed, bem inferior à de fibra óptica – que tem conexão rápida e ininterrupta. Para conseguir oito megas (o máximo oferecido pela empresa) é uma luta.”

Lopez explica que, além das dificuldades com a conexão de internet, não existe oferta de TV a cabo na cidade. “Os municípios vizinhos (Rio Grande da Serra, Mauá, Suzano, Santo André e São Bernardo) têm, por que aqui não. A cidade chegou até a ser cabeada pela NET (empresa de canais pagos), que por algum motivo retirou os cabos que já estavam instalados e não ofereceu o serviço. Os moradores são atendidos apenas por TV via satélite, coisa que praticamente já é do passado. Dois serviços de internet por fibra óptica atuam de forma bem inibida. Precisamos evoluir.”

 

CAMPANHA

As dificuldades são tantas e as reclamações, idem, que a Aciarp (Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Ribeirão Pires) decidiu entrar no circuito para tentar achar caminhos que levem o município a um patamar, senão igual, pelo menos mais próximo do que existe em termos de comunicação digital. Não por acaso, deflagrou campanha para coletar histórias de comerciantes que são prejudicados pelo serviço de internet oferecido. A ideia é pressionar o poder público e provar às empresas de telecomunicação que existe alta demanda na cidade por serviço eficaz. E que as soluções sejam imediatas.

“Já recolhemos depoimento de boa parte dos empresários. Levamos a questão à Câmara e já conversei com nosso secretário de Desenvolvimento Econômico para que nos apoie a conseguir uma internet de qualidade para nossa cidade”, comentou Gerardo Sauter, presidente da Aciarp.

Segundo ele, a maior parte dos depoimentos abarca praticamente as mesmas reclamações, sobretudo que as empresas não têm sinal de internet estável, e o máximo que conseguem contratar são quatro megas, mas o que chega para conexão é apenas 20% disso. “Avaliamos que isso impede que muitas empresas se instalem em nossa cidade, o que prejudica, inclusive, nosso crescimento econômico.”

O diretor administrativo do Colégio São José, Anderson Rodrigues Grecco, 43 anos, explica que o município tem enorme dificuldade com relação à comunicação. “Além da baixa velocidade de internet, o sinal sempre cai, o que dificulta muito o trabalho. E olha que estou relatando um problema da área central, mas tenho conhecimento de que alguns bairros afastados não tem sequer acesso à internet.”

Para ele, problema que atrapalha o desenvolvimento econômico do município. “Empresas que poderiam se instalar em Ribeirão devem observar esta situação e acabam optando por outras cidades. Por exemplo, empresas de tecnologia de ponta que necessitam, e muito, de um sistema funcional nesta área”, avaliou Grecco.

Meire da Silva Dias, 40, é proprietária de lanchonete na região onde está instalado o wi-fi da Prefeitura. A moradora do bairro Quarta Divisão explica que nunca consegue conectar na rede aberta da cidade, e que em sua casa não tem sinal. “Aqui uso minha internet paga, que mesmo assim não é lá essas coisas. Em casa até desisto, pois não chega sinal. O que estou mais acostumada a ver, aqui no Centro, é o povo assim, com as mãos para cima, buscando sinal.”

 

Empresas tentam justificar falhas na oferta de serviços

A VIP Telecom, de Mauá, é responsável pelo sinal óptico no município, mas, de acordo com moradores, o serviço é limitado à região central, e tem preço abusivo. Procurada, a empresa justificou que é nova no mercado, com seis anos de atuação. “Já atingimos milhares de clientes nas cidades de Mauá, Suzano, São Paulo (em São Mateus) e Ribeirão Pires, atendendo principalmente nas regiões mais carentes de tecnologia, mas para isso foi necessário empregar tecnologias com rápida pulverização e custo baixo, utilizando a tecnologia FTTC (a fibra óptica chega até um ponto próximo ao cliente e o acesso à residência é feito por cabos metálicos).

A Vivo informou que parte da população já é atendida pela tecnologia em FTTC, que melhora a rede, levando fibra óptica até as centrais, permitindo oferta de ultra velocidade. Já a NET explicou que segue com os planos de atuar em Ribeirão Pires, porém, essa expansão depende de algumas análises e estudos, mas que no momento não há previsão de datas.

Em nota, a Prefeitura de Ribeirão Pires esclareceu que trabalha em agenda permanente junto às empresas do setor de telecomunicações com o objetivo de ampliar a oferta de serviço de telefonia e internet na cidade.

A SmartLink, que oferece internet por fibra óptica na cidade, não se pronunciou. 




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