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Daniela Mercury agita em Sto.André
Por Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
20/11/2004 | 11:10
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O que é que essa baiana chamada Daniela Mercury, leonina, um ano distante das quarentonas apesar do corpinho de 30, tem? O tabuleiro que guarda o segredo, a cantora leva neste sábado ao Status Music Hall (Tel.: 4997-5609), em Santo André, para quem quiser espiar e descobrir (ou rever). O show desta noite pertence à turnê Eletrodoméstico, a partir da qual a curvilínea menestrel deixa de ser "apenas" dama de copas do axé e da MPB caetaneada para acampar em outras pradarias musicais. Com início marcado para a 0h (os portões serão abertos às 22h), a performance no Grande ABC é restrita a maiores de 16 anos e, até a tarde desta sexta, ainda havia ingressos disponíveis para todos os setores da casa.

Com Eletrodoméstico, Daniela Mercury entrega-se à experimentação de uma vez por todas. O título do espetáculo, homônimo ao disco lançado no ano passado, condensa música gringa (o eletro) e música nativa (o doméstico), para resultar em composições naturalizadas brasileiras, quaisquer que sejam as suas origens.

Em terras de Chico Science e Ben Jor, pode não parecer grande coisa. Mas só o fato de Daniela regravar e rearranjar, por exemplo, o pop-rock It Ain't Over Til It's Over, do norte-americano Lenny Kravitz, já aponta para a conduta repensada de uma intérprete cujo conforto popular está mais que garantido graças a uma carreira fiada em trios elétricos e no requebro das ladeiras do Curuzu. Arrojo, para dizer o mínimo.

Uma Daniela experimental também quando visita os patrícios na seleção do novo repertório. Quando doa a voz a Marcelo Yuka e Falcão (O Rappa) e à cadência particular de ambos no registro da canção Eletrodoméstico; quando emprega-a em favor de Lenine e Dudu Falcão, ao interpretar Meu Plano; e quando abraça os tribalistas Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown, na sua versão para To Remember.

Inevitável - A nova baiana, antes de se pretender aglutinadora de ritmos e culturas, não poderia evitar o pontífice da miscelânea, Jorge Ben Jor. Não teve dúvida e, do repertório do samba-rocker, Daniela decidiu gravar Ive Brussel. Na mesma toada, reencontrou Caetano Veloso e Gal Costa em sua versão para Baby, o hino tropicalista cuja letra recomenda, entre outras coisas "a piscina, a margarina, a Carolina".

Desse modo, Eletrodoméstico, disco e show, assimila a música histórica e a música reciclável, vertentes jamais paralelas, pois a ordem do dia é estabelecer constantes e mútuas intervenções. Daniela eletrificou-se (melhor seria dizer eletronizou-se), não há dúvida. A evidência estará no show, em que a cantora exibe esse itinerário rumo à pós-modernidade marcado pelas novas composições e inusitadas regravações.

Mas, mesmo eletrificada, a baiana não abandona os foliões e os últimos românticos, ao executar ao vivo inevitáveis hits, como Rapunzel, O Canto da Cidade, Você não Entende Nada, Nobre Vagabundo e Swing da Cor.




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