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Sindicato dos Metalúrgicos vive dilema, como PT
Junior Carvalho
Do Diário do Grande ABC
12/02/2017 | 07:00
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Palco de lutas históricas por direitos dos trabalhadores e encubadora de figuras políticas como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC atravessou, no ano passado, a crise política que tirou o partido de seu principal líder, o PT, do poder e agora tenta conciliar a sobrevivência eleitoral de quadros da entidade à batalha contra reformas prometidas pelo governo de Michel Temer (PMDB), como mudanças na Previdência e leis trabalhistas.

Além de Lula, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC carrega vários triunfos eleitorais. Elegeu vereadores, deputados federais, estaduais e até prefeitos na região. Ao longo dos seus 58 anos, a instituição foi representada na política por nomes como os ex-presidentes da entidade Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho (hoje deputado federal), e Jair Meneguelli (ex-deputado). Ex-prefeito de Santo André, Carlos Grana começou a vida política na Assembleia Legislativa, após emergir do núcleo sindical. Casos semelhantes são os dos ex-vereadores Manoel Eduardo Marinho, o Maninho (Diadema) e José Ferreira (São Bernardo). Os ex-vice-prefeitos José Cicote (Santo André) e Djalma Bom (São Bernardo) e o ex-chefe do Executivo Gilson Menezes, de Diadema, também representaram o sindicalismo na política. Recentemente, o também ex-presidente do sindicato e ex-prefeito de São Bernardo Luiz Marinho.

Hoje, esse cenário está restrito a quatro nomes: na esfera federal, Vicentinho; na estadual, Teonílio Barba; e nos municípios Ana Nice (vereadora de São Bernardo) e Alemão Duarte (Santo André). Por conta da partidarização do sindicato – está intimamente ligada ao petismo –, a força de mobilização da entidade se desgastou, avalia o cientista político Rudá Ricci. Porém, esse cenário começou bem antes de Lula chegar à Presidência da República, em 2003. Rudá analisa que, na eleição de 1982, a primeira do petismo, a legenda se viu em meio a derrotas de candidatos cabeludos e barbudos. “O lema era trabalhador vota em trabalhador. Mas os trabalhadores não votaram nos trabalhadores. Isso criou crise profunda e nesse momento nasce um manifesto de reorganização do PT. Grande parte dessas assinaturas vinha de sindicalistas do Grande ABC e de Campinas. Houve o início da partidarização do sindicalismo. Eles tinham a convicção de que ou o PT se tornava deles ou ele iria acabar.”

Em meio aos problemas político e econômico no País, com demissões em massa nas fábricas, suspensão dos contratos de trabalho e redução das jornadas e dos salários, a entidade se viu diante de crise de representatividade. No ano passado, durante assembleia realizada pelo sindicato na Volkswagen, em São Bernardo, o atual presidente da entidade, Rafael Marques (PT), foi vaiado por metalúrgicos ao criticar o processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT).

Foi justamente essa ligação partidária, avalia Rudá, que prejudicou a credibilidade do sindicato, “O foco passou a ser eleição. Aí cortou a relação com as organizações de base, de vez. Ou seja, a prioridade passou a ser eleger prefeitos, deputados, vereadores, jogar máquina para fazer negociações, e depois para sustentar o governo federal”, destaca. “Falta autonomia, de eles saberem que o papel do sindicato não é eleger deputado nem defender governo.”

 

Dirigentes destacam importância
Não foram só vitórias. Em quase seis décadas de história, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC amargou momento difícil na eleição do ano passado, quando três candidatos a prefeitos na região, que possuíam origens do chão de fábrica e apoio da entidade, vivenciaram derrotas esmagadoras.

Ex-deputado estadual, Carlos Grana (PT), em Santo André, perdeu a reeleição no segundo turno para Paulo Serra (PSDB) por 78,21% a 21,79%. Em São Bernardo, terra do sindicato, o ex-diretor da entidade Tarcisio Secoli (PT) ficou na terceira colocação. O mesmo ocorreu com o ex-vereador Manoel Eduardo Marinho, o Maninho (PT), em Diadema, município onde o PT elegeu seu primeiro prefeito do País e garantiu seis gestões. Atual presidente do sindicato, Rafael Marques (PT) argumenta que o pleito de 2016 foi “atípico”, devido à crise política, com os desdobramentos da Operação Lava Jato e o impeachment de Dilma Rousseff (PT). “Foi pontual”, avalia.

O mandatário sustenta que a aproximação do sindicato com o PT é “consequência” e garante que a entidade ainda nutre poder de mobilização na classe operária da região. “A categoria continua confiando muito no sindicato. Ela entendeu que, no caso do impeachment, não tinha alternativa. Não tinha o que o sindicato defender, porque poderia ser pior. Evidentemente que há uma parcela que acha que a gente está submetido ao partido. Isso não existe, o sindicato é independente. Mas existe essa desconfiança”, frisou o dirigente. Ao longo dos anos, o sindicato carrega várias participações em movimentos políticos, como a luta pelo fim da ditadura militar (1964-1984) que, no auge, cassou dirigentes da entidade, e apoio ao impeachment de Fernando Collor de Mello, em 1992.

Ex-presidente do sindicato e ex-prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT) levanta a mesma bandeira. “O sindicato não tem a missão da influência partidária. A entidade teve, tem e sempre terá sua importância. O sindicato é forte, representa bem o anseio dos trabalhadores. É só olhar os momentos de dificuldades, em vários episódios da economia brasileira, como que o sindicato soube responder os desafios e as demandas da categoria”, analisou Marinho, ao emendar que a ausência de figuras políticas com ligação com o sindicato é “conjuntural”. “Tem vereadores e deputados (oriundos do sindicalismo) espalhados no Brasil inteiro. Outros voltarão. Isso é momento.”

FALTA FORMAÇÃO
Integrante da direção do sindicato na era pré-Lula (década de 1970), ainda no fim da década de 1950, José Fernandes, 83 anos, analisa que faltam formação de base e conscientização da nova geração de metalúrgicos. “No sindicato, existem várias lutas fundamentais. A luta pela reivindicação de melhores salários e por melhores condições de trabalhos, por exemplo. Elas são passageiras, mas precisava existir um curso de formação ideológica. Para saberem que aquilo que aconteceu no passado vai acontecer de novo”, sugeriu Fernandes, que hoje é vice-presidente da AMA (Associação dos Metalúrgicos Aposentados). 




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