Política Titulo São Bernardo
‘Deixo o PT e devo ser vice de Morando’, diz Mauricio Soares

Em entrevista exclusiva, ex-prefeito cita
motivos pelos quais abandona administração

Por Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC
20/02/2016 | 07:00
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André Henriques/DGABC:


Ex-prefeito de São Bernardo por três mandatos, Mauricio Soares anuncia saída do PT, do governo do prefeito Luiz Marinho (PT) e revela que há diálogo “avançadíssimo” para ser vice na chapa do PSDB na eleição de outubro, encabeçada pelo deputado estadual Orlando Morando.

Em entrevista exclusiva ao Diário, Mauricio cita os motivos pelos quais ele, desta vez, entregou a carta de desfiliação ao partido (ainda não aceita pelo diretório) e pedir exoneração da administração petista (que deve ser oficializada na segunda-feira). Entre as reclamações, a gota d’água, segundo o político de 76 anos, foi o fato de ter sido escanteado na equipe que vai trabalhar pela eleição do secretário de Serviços Urbanos e Coordenação Governamental, Tarcisio Secoli, escolhido por Marinho para ser prefeiturável pelo PT.

Mauricio rechaçou estremecimento com Morando pelo episódio de 2008, quando foi retirado da cabeça da chapa governista à época e, depois, migrou para campanha de Marinho. “(Eu briguei) Só com o (William Dib, ex-prefeito). O Dib me abandonou, passou a apoiar o Orlando, levou junto com ele os vereadores e os secretários. Mas eu com o Orlando não briguei.”

No fim de 2015, o sr. havia declarado que deixaria o PT, mas recuou de sua decisão. O que motivou o sr. a falar novamente que vai sair do partido?

Manifestei claramente meu desconforto em permanecer no PT. O destino do PT está ligado aos trabalhadores. O PT sempre pregou a lisura no procedimento com o dinheiro público, participação popular e prioridade às áreas sociais. O que vimos foi que o PT começou a ser condenado por corrupção, processado. Para mim chega. Com essa companhia não quero andar. Denunciei também a questão do perfil autossuficiente, que não respeitam ninguém. Caso da Nilza (de Oliveira, secretária de Orçamento e Planejamento Participativo e primeira-dama), do Zé Albino, da Odete (Gialdi, titular da Saúde), da Cleuza (Repulho, ex-responsável pela Educação). Não dá para trabalhar com eles porque são muito arrogantes. Pedi ao Marinho que tirasse esse pessoal. Eles querem ser mais realistas que o rei. Conversei com o prefeito, ele não cedeu nada (sobre demissão dos secretários), mas ele falou que iria dar mais atenção à Fundação Criança. Ele cumpriu em partes o acordo. Hoje (ontem) pedi exoneração. Saí do governo. Nem o gabinete do prefeito nem o partido quiseram receber meu documento.

O que levou o sr. a tomar essa decisão neste momento?
O prefeito deu atenção, mas o PT continua com casos, casos e casos de corrupção. Não dá. A população tem de ser tratada com respeito. O Marinho é muito autoritário. Não recebe com carinho as pessoas. Não gosta de crítica. Ninguém gosta, mas estamos num País democrático, temos de conviver. Isso foi indo, indo, indo e o último ponto foi a questão da coordenação da equipe (da campanha de Tarcisio Secoli, escolhido por Marinho para ser prefeiturável pelo PT). Ele (Marinho) fez do jeito que queria, não consultou as pessoas. Sou mais velho na profissão, nas últimas seis, sete eleições na cidade, em todas, têm meu dedo, minha participação, minha vitória. Inclusive nas dele, nas duas vezes, principalmente na primeira (em 2008). Ele não me pôs para fazer nada na campanha.

Qual será sua participação na eleição de outubro?
Não sou candidato a prefeito. Tem o PSDB, na pessoa do Orlando Morando, com quem já firmei um acordo. Constitui um grupo, ele liderando para prefeito e eu, provavelmente, liderando como vice-prefeito, representando outro partido. Esse diálogo está avançadíssimo. Está feito, acho que não tem volta mais. Pode ser que venha chapa Orlando e Mauricio. A única dúvida sou eu. Porque como vou ficar sem partido agora, precisamos ver como ficará. Procurei o PSB antes de romper com o PT. Eu já fui filiado lá. A tendência é PSB mesmo. O PHS é partido simpático, não está envolvido com nada.

Em 2008, o sr. rompeu com o então prefeito William Dib (PSDB) e apoiou Marinho justamente quando Dib anunciou que Morando seria o candidato. Agora o sr. se apresenta como possível vice do deputado. Por que houve essa mudança?

Orlando e eu tivemos diferenças, mas não políticas ou ideológicas. Mas de prática. Sou filho de operário de fábrica, sindicalista. O pai dele tinha armazéns e o Orlando seguiu a esteira do pai, ainda é dirigente da associação de supermercados. (Em 2008) Não viabilizou candidatura a prefeito e o Dib resolveu lançar meu nome. Depois convenceram o Dib que o Orlando era melhor candidato do que eu. O Dib me abandonou, passou a apoiar o Orlando, levou junto com ele os vereadores e os secretários. Eu fiquei, de repente, sem cargo de prefeito, sem ser candidato e sem partido. Foi questão de dar troco. Precisava dar uma reação. E a reação que tive foi de me filiar novamente ao PT e fazer do Marinho prefeito. Mas eu com o Orlando não briguei.

A briga foi só com o Dib?
Foi só com ele, fiquei bronqueado com o Dib. Pode perguntar a quem quiser. Eu não sou de brigar. Só brigo quando não tem jeito.

Esse acordo com o Morando já foi passado para todos do seu grupo político? O sr. acha que todos vão aceitar?
Não conversamos longamente sobre esse assunto, porque o principal é os dois cabeças se entenderem. Não achei que o PT fez governo como queria. Foi de muita obra e pouca atenção ao social. O Marinho é o prefeito das grandes obras, ele teve facilidade grande junto aos governos de Lula e Dilma, recebeu financiamentos. Muitas obras foram feitas, outras estão em andamento e muitas estão paradas. Ser prefeito com muito dinheiro é fácil. Duro é ser prefeito com dinheiro regrado, com crise batendo na porta e a gente fazer bons governos.

Quando o sr. anunciou ruptura com o PT no fim do ano passado, o sr. conversou com o Dib. Acha que é possível ele ingressar nessa frente ao lado de Morando?
Da minha parte, não quero afastar ninguém. Vamos conversar com o Osmarzinho (Osmar Mendonça), que trabalha com o Dib. Vamos dar um jeito. Sou só um provável candidato. Pode até haver abertura para estender. Eu posso ser intermediador da conversa.

O sr. conversou com Marinho sobre sua decisão?
Hoje (ontem) não consegui falar com o prefeito. Queria conversar, mas me disseram que ele iria para São Paulo. Mas com Tarcisio eu falei. Ele ficou chocado com as decisões que avancei, sem falar com o prefeito, sem falar com ele. Mas também quero dizer que desde que começou essa campanha do Tarcisio eu me coloquei à disposição. Senti que ele ficou chateado.

Essa decisão é irrevogável?
Sabe o que é, mestre? Quando alguém que deveria dizer a sua tarefa sempre se recusou e distribuiu todas as tarefas sem falar comigo, há um descompromisso. Você assume compromisso com outra facção e, agora depois de assumir o compromisso, fala que vai voltar atrás, chama o Orlando, retira tudo... Não posso fazer isso. Falei justamente isso para o Tarcisio.

Como o sr. enxerga o 2º turno?
É possível que cheguemos e o Alex também. O PT é mais difícil. Nosso adversário pode ser o Alex ou o PT. Numa hipótese menor, o PT.

Não dá para voltar atrás?
Não dá. Tenho de cumprir o compromisso. O cara que nunca cumpre compromisso não adquire credibilidade. Até no PT, se eu voltasse para trás agora e fizesse conversa com eles, todos iriam falar que eu não resisto a uma boa conversa.

Por que ir com o Morando e não com o Alex?
O Orlando conversa, o Alex não. Pelo menos comigo nunca conversou. Eu não conheço o Alex, apesar de ele ter sido vereador, deputado. Conheci bem o pai dele (Otávio Manente, morto em 2011), que foi meu secretário. Mas o filho dele não é de firmar compromisso, de cumprir acordos. É o que se ouve.

O sr. teme ser criticado por estar com o PT?
O PT não estava fechadinho na dele e agora está com todo mundo? Esse negócio de partido na política, o eleitor não dá muita bola. Vota mais na pessoa. Se tenho eleitor cativo, que gosta de mim, vota em mim de novo. Se eu for para o partido Z, o pessoal sabe diferenciar. No Brasil não tem essa relação. 




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