Imagino que durante as férias você tenha ouvido falar do Acordo Ortográfico e das mudanças que ele impõe na maneira de grafar algumas das nossas palavras. Vamos falar disso, sim, mas não agora. Vamos falar disso depois do Carnaval, em março, está bem?

Por enquanto, vamos ver assuntos um pouco mais leves do que os de costume? Podemos? Então vamos lá. Há um caso que sempre comento neste espaço quando as águas estão mais calmas. Trata-se de palavras que grafamos com toda a certeza do mundo de determinada maneira, até descobrirmos que...

Um desses casos é o de hortênsia, nome de uma flor, que também se usa para batizar mulheres... O nome da grande ex-jogadora de basquete Hortência (com c) fez muita gente acreditar que a flor também se grafasse com c, mas... Mas a flor se escreve com s (hortênsia) e o nome próprio também deveria ser escrito com s. Essa palavra vem do francês. Na verdade, o naturalista Commerson deu à flor o nome de uma dama francesa (Hortense).

Vejamos outro caso. Em certas épocas do ano, em algumas regiões do País, é comum a presença de forte nevoeiro, sobretudo de manhã cedo e no fim da tarde. Pois bem, há uma palavra terminada em -ção que se usa para designar esse nevoeiro. Já sabe qual é? Essa palavra começa com ce ou com se? Afinal, é serração ou cerração?

Esse é um dos tantos casos de palavras que nos enganam. Como os nevoeiros são muito comuns em regiões montanhosas, nos trechos das rodovias que cortam serras, somos levados a supor que a grafia correta seja serração, com s. Pois não é.

A palavra que nomeia esse fenômeno é cerração, com c. Cerração vem de cerrar, verbo que tem muitos significados (fechar, juntar-se, tapar, encobrir). A cerração nada mais é do que algo que fecha, tapa, encobre a paisagem, a visão. E serração? Existe? Existe, sim. É o ato de serrar, isto é, cortar algo empregando uma serra.

Palavras como cerrar e serrar ou cerração e serração são parecidas na pronúncia e na escrita, mas muito diferentes no significado. Na dúvida, é sempre bom consultar um dicionário.

Quer ver outro caso? O de seção, sessão e cessão. Xi! Complicou? Nem tanto, espero. O problema é que o espaço acabou. Vamos continuar a conversa nas próximas duas ou três colunas. Em março, vamos tratar do Acordo Ortográfico.

No próximo domingo, a gente volta a conversar. Até lá.

Palavra Certa é escrita pelo professor Pasquale Cipro Neto, que assina a coluna Ao Pé da Letra, no caderno Dia-a-Dia, do Diário