Cultura & Lazer Titulo
Caco Ciocler sem freios
Danielle Araújo
Da TV Press
07/08/2005 | 10:54
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Até pouco tempo atrás, Caco Ciocler considerava seu personagem de América (Globo) um desconhecido. A única informação que o ator de 33 anos tinha até a metade da novela era a de que Ed é um intelectual. Completamente perdido, ele resolveu fazer as cenas meio por "instinto". Só depois que a autora Glória Perez apimentou sua relação com a protagonista Sol, interpretada por Deborah Secco, ele foi entender o real sentido de seu personagem na trama. "Demorei para perceber a tática da Glória. Ela mantém um freio em algumas histórias. Sinto agora que ela está soltando o meu freio", diz. E Ciocler não esconde de ninguém ter gostado da virada de Ed, que antes quase não tinha história na novela. Leia os principais trechos da entrevista:

PERGUNTA: Por que você acha que Ed prefere aceitar dinheiro de uma imigrante desconhecida do que o da namorada?

CACO CIOCLER: Realmente, seria bem mais fácil se ele aceitasse o dinheiro da May de uma vez. Que drama, né!? Isso mostra o lado obsessivo do Ed, que ao mesmo tempo preza pela justiça e bem-estar. Embora a situação seja um pouco surreal, o bom disso tudo é que trouxe uma grande transformação para o meu personagem. A Sol traz para o Ed a alegria, a espontaneidade, o solar, a latinidade mesmo. Acho interessante o encontro entre dois diferentes, que aprendem a gostar um do outro. Hoje em dia, vivemos numa coisa meio hipócrita de respeitar as diferenças. Isso é muito pouco. A gente só vai evoluir quando a diferença não for motivo de afastamento e respeito, mas sim de interesse. Por isso, de uma certa forma, gostei desse novo rumo que o meu personagem teve.

PERGUNTA: Mas o fato de a novela ser uma obra aberta dificulta na hora de justificar as ações do seu personagem?

CIOCLER: É como se fosse um quebra-cabeça. Como nunca sabemos o destino dos nossos personagens, temos de solucionar algumas questões sozinhos. As primeiras cenas do Ed e da Sol já tinham um suspense no ar. Mesmo porque na hora de editar as cenas, os diretores colocavam uma música, ela em câmara lenta... Eu até pensava: ‘Minha nossa, a gente já está casando. Como vou solucionar isso!?. Sendo que ainda tenho cenas com a May dizendo que ela é a minha mulher e que aquilo é só uma brincadeira. Tive duas opções: ou o Ed virava um cafajeste ou ficava encantado com a Sol sem ter consciência. Senão, ele ia virar um canalha mesmo.

PERGUNTA: O público pode até não achá-lo canalha, mas namorando a mocinha da trama fica difícil escapar do perfil de galã. Você tem alguma resistência a esses papéis?

CIOCLER: Não é que tenho resistência. Mas não me sinto na verdade um galã, no sentido clássico da palavra. Sei que a média de idade das minhas fãs é de 45 a 65 anos. Meu fã-clube é de senhoras, não de garotas. Acho que sou o genro que todas elas gostariam de ter. Não tenho perfil previsível de galã, mas até aceitaria fazer um ou outro. Cumpri essa função com o Bento de A Muralha, que foi bem legal. Mas o meu medo é de acabar fazendo só isso. Então, tento fugir um pouco desses papéis. Fico no meio-termo entre o que seria um galã e um ator. Os galãs, coitadinhos, geralmente têm papéis um pouco chatos. É difícil não emburrecer. O papel de galã priva você de fazer outras coisas. Isso me assusta. Não quero ficar engessado. Quero sempre fazer personagens diferentes. Posso até fazer mal, mas farei. Correr risco na minha profissão é fundamental.

PERGUNTA: Alguma vez você se arrependeu de ter assumido um risco?

CIOCLER: Sinceramente, nunca. Acho que já fiz coisas boas e ruins na TV. Gosto de arriscar, por isso me atiro em muitos trabalhos sem pensar. Em O Quinto dos Infernos, por exemplo, atirei no escuro. Ou ia ser ruim ou genial. Por acaso, foi legal. Mas já fiz a mesma opção e o resultado foi terrível. O exemplo disso é Esplendor. Tinha acabado de fazer A Muralha e me colocaram para roubar a Letícia Spiller do Floriano Peixoto. Aí, entrei fazendo um esquisitinho. Usava um bigodinho. Nossa, não gosto nem de lembrar. Não funcionou mesmo.

PERGUNTA: Trabalhar em TV expõe muito o ator. Isso já trouxe algum problema?

CIOCLER: Não me sinto à vontade ao andar na rua e ser olhado por todo mundo. Às vezes, quero passear com o meu filho, Bruno, sem ser visto. Até para ele é chato. Apesar de sempre achar que ninguém está nem aí para mim, de repente percebo que faço parte dos acontecimentos. As pessoas vêm falar a meu respeito, formar uma opinião. A fama roubou algo precioso da minha rotina. Sempre gostei de ir a lugares como anônimo. Até porque gosto de reparar no jeito do outro, que é meu material de trabalho. Mas quando você é um artista conhecido, perde isso.




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