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Pague, pague sempre mais

Hoje, você é obrigado a votar, mas é de graça; vota em quem quiser, em pessoas que podem até decepcionar, mas que mereciam sua confiança

Carlos Brickmann
10/05/2009 | 00:00
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Hoje, você é obrigado a votar, mas é de graça; vota em quem quiser, em pessoas que podem até decepcionar, mas que mereciam sua confiança. Agora querem que você continue sendo obrigado a votar, mas seja obrigado a pagar para isso e obrigado a votar nos escolhidos das excelências que dirigem os partidos.

O projeto do voto em lista com financiamento público é exatamente isto: você vota só no partido, e os candidatos do partido são escolhidos por Renan Calheiros, Roberto Jefferson, Ricardo Berzoini e outras excelências. A campanha passa a ser paga com dinheiro público, aquele que deveria financiar saúde, transporte, estradas, segurança. E o eleitor - bem, a gente já sabe que se lixam para ele.

A ideia por trás do financiamento público é que, assim, desaparecem as contribuições de empresas para a campanha, que mais tarde pediriam uma retribuição aos eleitos. Na prática a teoria é outra: o primeiro-ministro alemão Helmut Kohl caiu porque, além do dinheiro público, recebia um por fora para irrigar a propaganda de seu partido. E isso na Alemanha, que tem polícia.

O voto de lista até seria aceitável se fosse misto, como na Alemanha: parte dos deputados é escolhida pelo partido (o que permite aos líderes fazer campanha por todos os candidatos, e não só para si) e parte pelo eleitor, com voto distrital. O custo da campanha cairia dramaticamente (o que não significa que a bandalheira desapareceria). Seria um passo no bom caminho. Mas que cada um pague suas despesas: o Brasil não precisa de mais um ralo de dinheiro público. S

O TESTE DO CIGARRO
O governador José Serra enfrenta sua maior prova política: patrocinou uma lei que, na prática, só permite fumar em casa e nas ruas. O prefeito Gilberto Kassab enfrentou forte movimento contra o Cidade Limpa, mas, com fiscalização e pulso firme, ganhou. Antes pouco conhecido, foi reeleito. Serra enfrenta o poderoso lobby do fumo. Se conseguir fiscalizar, passa no teste (se perder, ficará na lista dos que prometem e não cumprem). É briga grande.

PREÇO ALTO - E BOM
O Banco Central se alinha à Petrobras para que a gasolina não caia de preço. A Petrobras quer recuperar as perdas quando o petróleo bateu US$ 150 o barril, e precisa de recursos para novos investimentos; o BC acha que as cotações são voláteis e é preciso manter preço estável. Há outro motivo, que ninguém defende em público, mas é o melhor: gasolina mais cara estimula transporte público, viabiliza combustíveis alternativos e reduz a poluição.

OLHA A CARTEIRA!
Uma eleição com financiamento público custaria entre R$ 1 bilhão e R$ 2 bilhões de reais. A gente não saberia onde aplicar melhor estes bilhõezinhos?

COMO AUMENTAR DESPESAS
Alguém precisa informar aos senhores parlamentares que dinheiro não nasce em árvore. A proposta de criar mais 7.000 vagas de vereador em todo o País é uma vergonha. O que é preciso é reduzir o número de parlamentares, em vez de aumentá-lo. São Paulo já funcionou direitinho com 21 vereadores; para que precisa dos atuais 55, fora as novas vagas? E por que 513 deputados, e não, digamos, 250? Por acaso a Câmara fica menos democrática? E, se os Estados Unidos têm dois senadores por Estado, por que o Brasil tem três? Por ser mais rico?

SÓ DEVOLVER?
Essa história de parlamentar apanhado distribuindo passagens aéreas pagas com dinheiro público e prometendo devolver o que foi gasto é meio esquisita. Ou a coisa feia era legal e os flagrados não deveriam devolver nada, ou a coisa feia era ilegal e a devolução não resolve: a ilegalidade continua existindo. Mas, cá entre nós, nem é preciso discutir a coisa feia. Alguém imagina uma empresa ou entidade dando passagens de serviço para outra coisa que não seja serviço?

DEIXA O BARCO CORRER
Mas não pense que o Congresso é pior que os outros poderes. Enquanto todos se preocupam com os parlamentares, o governo do Distrito Federal fez acordo com a Escola de Samba Beija-Flor para levar ao Sambódromo do Rio um enredo sobre os 50 anos de Brasília. Só para começar a conversa, são R$ 7,5 milhões.

EL PADRE DE LA PATRIA
Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Lugo, de Brasil e Paraguai, não chegaram a nenhum acordo sobre Itaipu. O Brasil fez sozinho o projeto e sozinho construiu a usina hidrelétrica, deixando para o Paraguai pagar sua parte em energia. O Paraguai quer refazer o contrato e obter mais vantagens que as combinadas. O curioso é que Lula e Lugo se reuniram sem que as decisões tivessem sido tomadas, o que não é praxe na diplomacia: normalmente, os presidentes só se reúnem quando tudo está resolvido.




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