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Congresso do MST reúne mais de 11 mil em Brasília
Do Diário do Grande ABC
10/08/2000 | 00:35
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Apagaram-se as luzes. Perfilados, homens e mulheres invadem a arena central do Ginásio Nilson Nelson por duas entradas diferentes. Passos cadenciados. Nas maos, archotes feitos de bambu iluminam os rostos e as camisas vermelhas, vazadas pelo mapa branco do Brasil, com ferramentas agrícolas e a sigla MST. É o início de um ritual assistido por cerca de 7 mil integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra. É chamado por eles de "mística", uma cerimônia coletiva na qual vários integrantes do movimento colaboram para o resultado final.

Ao som de uma gravaçao do Bolero de Ravel, uma mulher vestindo uma túnica cor de terra, mascarada, dança. A cerimônia continua. Indios, negros, sem-terra sao agregados à encenaçao. "A mística é a realidade que enfrentamos frente à perspectiva, o futuro que poderemos fazer nesse país. É a nossa utopia", explicou Gilmar Mauro, um dos dirigentes nacionais do MST.

A representaçao simboliza a realidade da luta pela terra. É um ritual binário: há o bem e o mal. Há uma luta. Do lado do bem estao os trabalhadores que lutam pelo fim do latifúndio. Uma criança é erguida no palco; a esperança. Ao lado do mal, os proprietários, o estado, as elites, os privilegiados. E, ao fim, a bandeira do MST tremula nas maos de um, nas maos de dois, nas maos de muitos homens e mulheres sem-terra.

A encenaçao foi uma das muitas que animam esta semana o 4º Congresso Nacional do MST, em Brasília. Durante a abertura dos trabalhados de discussao, sempre há um estado que organiza uma representaçao. Quase todos carregam na cabeça uma boina, onde se vê o rosto de Che Guevara, o homem que se tornou o maior símbolo revolucionário das Américas.

Após a mística, um Guevara foi evocado em carne e osso. E para os sem-terra a sua presença se fez na imagem de sua filha, Aleita Guevara March, uma convidada vinda da Argentina que é aplaudida por todos. Gritos: "Che vive". Aleita fala, e faz calar a multidao. "Mais importante que ser filha de Che, é ser filha de uma revoluçao", profere. Aclamaçao. "O MST é a esperança desse continente. Nao parem jamais", pede a filha do revolucionário.

A organizaçao é uma das marcas do MST, que divide entre os componentes todo o tipo de atividade, desde a montagem das barracas que abrigaram cerca de 11 mil pessoas, à montagem dos banheiros coletivos para banho, o serviço de limpeza e os espetáculos. E o envolvimento dos participantes também. Fernando Júnior, o Pintinho, é um dos jovens que participam de um dos comitês organizadores. Aos 21 anos, está no MST há cinco. Viaja todo país para animar os encontros. Pintinho quer "fazer a revoluçao."




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