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País tem 60 mi de veículos fabricados
Wagner Oliveira
Do Diário do Grande ABC
25/07/2010 | 07:05
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O Brasil atingiu no fim do primeiro semestre a representativa marca de 60 milhões de veículos fabricados. A Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) começou oficialmente a contagem em 1957.

Berço da indústria automobilística, o Grande ABC tem parcela significativa nesse resultado. A Anfavea não tem a contabilidade, mas pelo menos 47% desses 60 milhões de veículos - carros, comerciais leves, caminhões e ônibus - foram produzidos na região.

A indústria demorou 32 anos para atingir 20 milhões veículos produzidos - marca conquistada em 1989. Foram precisos mais 13 anos para chegar a 40 milhões, número obtido em 2002. Menos de oito anos depois, o Brasil atinge 60 milhões.

Parte dessa produção não existe mais, já que o veículo é objeto de consumo e cerca de 12% foi exportada. A frota circulante do Brasil está atualmente em 27,5 milhões de veículos ,segundo a Anfavea.

"Sessenta milhões é uma marca fantástica, mas poderia ter sido realizada antes", acredita Francisco Satkunas, ex-executivo da General Motors e atual conselheiro do SAE-Brasil (Sociedade dos Engenheiros da Mobilidade). "Tivemos décadas perdidas em razão de crises econômicas. A indústria sofreu diretamente os reflexos."

Quem vê o mercado girando quase próximo das 3,5 milhões de unidades produzidas por ano, talvez não se recorde dos amargos anos 1980, onde a média anual esteve abaixo das 600 mil unidades. O mercado de automóveis era basicamente concentrado em quatro marcas - Volkswagen, General Motors, Ford e Fiat.

Para Satkunas, é "inegável" a contribuição do Grande ABC para que o setor automobilístico superasse as dificuldades, principalmente após a abertura do mercado no início dos anos 1990 comandada pelo governo do então presidente Fernando Collor de Mello.

De lá para cá, o mercado se abriu e conta atualmente com 25 montadoras - incluindo fabricantes de tratores e máquinas agrícolas. "A população aumentou, o poder aquisitivo melhorou, e a indústria se expandiu com muitos produtos - sem contar os importados", afirma Paulo Roberto Garbossa, consultor da ADK.

Mesmo perdendo a hegemonia a partir de 1976 com a inauguração da Fiat, em Betim (MG), o Grande ABC ainda exibe números vigorosos. Atualmente, a região detém 26% da produção nacional, que deve alcançar neste ano 3,4 milhões de unidades. Já o Estado de São Paulo concentra cerca de 46% de todo o País.

Em 2009, as sete fábricas das sete montadoras instaladas na região - Ford, General Motors, Volkswagen, Mercedes-Benz, Scania, Karmann Ghia e Toyota (autopeça) - produziram 1,1 milhão de unidades, das quais 140 mil foram exportadas.

"Além da força produtiva do pólo paulista, onde o Grande ABC se sobressai, quase todas as marcas têm aqui na região seus centros inteligência e desenvolvimento", reforça Garbossa.

Analistas consideram que o carro brasileiro acompanha a tecnologia de ponta aplicada em todo o mundo. Em alguns casos está na dianteira, como é o flexível. Veículos com motores preparados para rodar tanto com álcool quanto gasolina já ultrapassam a barreira de 10 milhões de unidades. A tecnologia está em 90% dos carros feitos no País.

Projeções indicam que o Brasil levará menos de 15 anos para dobrar a marca de 60 milhões. Atualmente, a indústria possui capacidade instalada de 4,2 milhões por ano, mas se estrutura para elevar nos próximos três anos a capacidade instalada acima de 6 milhões anuais.

O presidente da Anfavea, Cledorvino Belini, afirma que o País tem de se modernizar para que o setor aproveite as oportunidades que o crescente mercado brasileiro proporcionará a fabricantes nacionais.

O executivo defende "choque de competitividade" para que gargalos na produção, problemas burocráticos e estruturais do Brasil não prejudiquem o veículo brasileiro na concorrência tanto no mercado interno quanto externo.

"Passamos por momento de decisivo", afirmou Rogelio Golfarb, diretor da Ford para assuntos corporativos e governamentais. Para ele, o Brasil terá definir a estratégia de como irá competir em nível global nos próximos anos.

Suculento mercado nacional está no alvo de todas as marcas
A despeito do crescimento vertiginoso do mercado nacional nos últimos anos, o Brasil continua muito apetitoso. De acordo com dados da Anfavea, o País ainda tem ainda um automóvel para cada 6,9 habitantes.

Só para se ter uma idéia, no México, que tem um perfil parecido com o do Brasil, a média é de um carro para cada quatro habitantes. Nos Estados Unidos, há praticamente um carro por pessoa, com a média de 1,2.

"É esse vasto povo desmotorizado que dá a certeza do crescimento contínuo do mercado nacional para fabricantes de todo o mundo", declara Jackson Schneider, executivo da Mercedes-Benz e ex-presidente da Anfavea.

Outro dado que indica o potencial do crescimento é que o País tem apenas 5,2% da produção mundial de veículos - estimada em cerca de 3,4 milhões de unidades por ano. A América concentra 20,6% da produção, onde a grandeza do mercado norte-americano, de 10 milhões de unidades anuais, garante a maior parte do volume no nosso continente.

Com avanço dos coreanos, japoneses e chineses, a Ásia detém atualmente 50,5% da produção mundial. É esta força de escala que causa arrepio nos concorrentes dos asiáticos.

Prestes a se tornar o quarto maior do mundo, o mercado brasileiro está cada vez mais na mira deles. Por isso, fabricantes locais já se preparam para enfrentar chineses, que prometem trazer para o Brasil carros compactos com preços muitos competitivos.

Grande ABC se reiventou para manter fábricas e empregos
No instante em que o Brasil atinge a produção de 60 milhões de veículos, fica clara a importância no contexto nacional do Grande ABC, que soube se reinventar para sobreviver aos tempos de mudança e acirrada competição global.

Enquanto tradicionais regiões produtoras da indústria automobilística mundial, como Detroit (Estados Unidos), viram sua força ruir diante da crise mundial de 2008, a região soube preservar suas fábricas e seus empregos.

De acordo com o último levantamento da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), o Grande ABC tinha 42.043 pessoas empregadas - 39% da mão de obra do setor - no final de 2009. No primeiro semestre, o emprego só cresceu no segmento - o que certamente refletiu em mais postos de trabalho aqui.

Para o estudioso do setor automobilístico, o engenheiro Francisco Satkunas, a mudança de mentalidade do sindicalismo na região foi fundamental para a sobrevivência da atividade automobilística no Grande ABC.

"Houve flexibilização da mão de obra, que aceitou novas condições para que as montadoras voltassem a investir", conta o presidente da Ford, Marcos de Oliveira.

Ameaçada de fechamento no final da década de 1990, a fábrica da Ford em São Bernardo retomou os investimentos. Renovado, o compacto Ka saiu de produção pouco expressiva para mais de 130 mil unidades anuais.

Oliveira falou também da importância dos incentivos do ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços), que o governo paulista oferece a empresas exportadoras desde que novos investimentos sejam feitos no Estado.

A Ford tem lucro há 24 trimestres consecutivos no Brasil. E, enquanto vive fase mais estável no Grande ABC, a mesma Ford perdeu fábricas e postos de trabalho nos Estados Unidos. "Os sindicalistas norte- americanos mantiveram posição de confronto e só negociaram para valer quando as marcas tradicionais americanas bateram à porta da falência", relembra Satkunas.

A respeitabilidade da mão de obra na região, tradição que passa de pai para filho, foi decisiva para que a General Motors, por exemplo, inaugurasse seu moderno Centro de Desenvolvimento e de Design em São Caetano - um dos melhores do mundo dentro da corporação.

Empresas de engenharia, autopeças e outros negócios da cadeia também têm sede no Grande ABC para atender montadoras aqui instaladas.

"Carro bom e bonito sabemos fazer". Em lágrimas, a frase foi proferida pelo sindicalista José Lopes Feijóo, vice-presidente da CUT (Centrla Única dos Trabalhadores) Nacional, na cerimônia do início da produção do no Ka, três anos atrás. Anos antes, ele havia passado pelo trauma da demissão de 2.800 metalúrgicos pela Ford, às vésperas do Natal de 1998.




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