A lentidão da chegada da assistência a Covington, comunidade ao norte de Nova Orleans afetada pelo furacão Katrina, acirrou o ânimos entre os habitantes, as autoridades locais e as tropas da Guarda Nacional.

Depois de esperar durante três dias a chegada de pacotes de alimentação de emergência no estacionamento repleto de pessoas do Departamento de Serviços Sociais em Covington, e com a data limite desta sexta-feira cada vez mais próxima, muitos se revoltaram.

"A Guarda Nacional gritava como se estivéssemos em um campo de treinamento", disse Bettie James de Abita Springs, uma localidade próxima. "Estiveram tão perto de provocar uma rebelião como de evitá-la", acrescentou Roxie Myers.

Com a maior parte dos meios de comunicação concentrada na inundada Nova Orleans, as pessoas da zona rural de St. Tammany Parish se sentem subestimadas. Muitas estão desesperadas. Perderam suas casas e suas lojas, e subsistem graças a rações de alimentos e água fornecidas pelos militares.

As vítimas tentam ligar para o número de assistência do desastre, mas ele não funciona. Os correios também não funcionam e muitas lojas estão fechadas. O serviço de telefonia móvel é irregular e muitas linhas caíram.

"Estamos tentando fazer tudo o que podemos, mas obviamente há necessidades imprevistas por aqui", disse David Passey, porta-voz da Fema (Agência Federal de Gerenciamento de Emergências).

"Não estou a par de qualquer necessidade específica que estas pessoas tenham e que não seja contemplada, estamos tentando dar uma assistência para suas necessidades imediatas. Obviamente é uma situação muito complicada", acrescentou.

Segundo a organização Chronicle of Philanthropy, os americanos contribuíram com um valor recorde de US$ 587 milhões em ajuda para mais de um milhão de pessoas afetadas pelo Katrina. O Departamento de Estado americano aceitou mais de US$ 1 bilhão em dinheiro e bens materiais oferecidos por 45 países.

Porém, apesar da forte presença de militares e colaboradores civis, fazer com que este material chegue às pessoas necessitadas se tornou extremamente difícil por causa da magnitude do desastre, que deixou áreas alagadas e estradas destruídas.

Após a contagem de todas as vítimas e a apuração do custo da destruição, o Katrina pode se tornar o maior desastre natural da história dos Estados Unidos.

Vítimas- Quando o Katrina tocou o chão em 29 de agosto, arrancando árvores das amplas florestas de pinheiros e transformando as casas em montanhas de escombros, Jay Kleinman perdeu sua residência em Covington e o restaurante que mantinha na próxima Long Beach, Mississippi.

"Desapareceu. Não consegui encontrar nem um prato, nem um cobertor, desapareceu", disse Kleinman sobre o restaurante. "Não sei o que fazer. É como quando você quer chorar. O que se faz?".

Kleinman tinha seguro, mas não consegue entrar em contato com a companhia seguradora, o que explica o motivo de estar sentado em uma cadeira de plástico à espera de ajuda em um canto do estacionamento do Departamento de Serviço Social.

Os funcionários estaduais tentam acelerar o processo de entrega de pacotes de alimentos. Eles ampliaram o horário de trabalho e contrataram 55 novas pessoas. No entanto, afirmam que não conseguem trabalhar sem dor, com milhares de pessoas clamando por ajuda.

"Acreditamos ter identificado a forma mais eficiente de assistir nossos cidadãos, aos quais pedimos desculpas se precisam esperar ao ar livre durante muitas horas para receber a ajuda", afirmou Ann Williamson, secretário dos Serviços Sociais.

Porém, alguns estão completamente insatisfeitos. "Com esta multidão, deveriam ter mais de um centro de distribuição", afirmou Julius Bolton.