Economia Titulo
Alta da inadimplência induz comércio a rejeitar cheques
Por Hugo Cilo
Do Diário do Grande ABC
17/07/2005 | 07:54
Compartilhar notícia


O crescimento explosivo de 35,7% no total de cheques devolvidos em junho no país - em comparação com o mesmo mês do ano passado, segundo dados da Equifax, empresa de pesquisas de inadimplência - reforça a tendência de rejeição dessa modalidade de pagamento no comércio do Grande ABC. O aumento no calote cria clima de tensão no varejo, e empresários já tratam com reservas clientes que sacam o talão. Poucos são os que aceitam sem burocracia.

O aumento das devoluções de cheques no país praticamente acompanhou o ritmo da inadimplência no Estado. De acordo com a Fecomercio (Federação do Comércio do Estado de São Paulo), o calote em junho - incluídas todas as modalidades de crédito - cresceu 31% em relação ao mesmo mês de 2004.

As estatísticas traduzem a dimensão do receio do comércio. Segundo a Equifax, nos seis primeiros meses deste ano foram emitidos 570 mil cheques sem fundos a mais que no primeiro semestre de 2004 no país. O total saltou de 2,4 milhões para pouco mais de 3,3 milhões de devoluções - o maior volume no período desde 1995 (ver gráfico ao lado).

Levantamento da Telecheque, instituto de proteção ao crédito no comércio, mostra que enquanto o volume de devoluções no país aumentou 4,4% em junho, na comparação com maio, disparou 31,8% no confronto com junho do ano passado.

A rápida expansão das perdas no comércio aumentou o medo de vendas com cheques - principalmente a prazo - e levou muitos estabelecimentos a abolir de vez essa forma de pagamento. Outros definiram regras mais rígidas para aceitação, em especial contra o grande vilão, o pré-datado.

"Simplesmente decidimos não pegar cheques, nem à vista nem a prazo. Perdemos clientes, mas deixamos de perder dinheiro. A economia que fizemos com a extinção do cheque compensou a fuga de algumas pessoas. Foi o preço do sossego", afirma Wagner Augusto do Nascimento, gerente do Posto Hudson, em Santo André.

Postos de combustíveis são as maiores vítimas dos cheques devolvidos, no ranking da Fecomercio, seguidos por restaurantes e casas de material de construção. Na lista das dez maiores ainda aparecem lojas de roupas e calçados, eletroeletrônicos e supermercados.

O empresário Milton Leal da Cruz, proprietário da casa de material de construção Miranda Center, em Diadema, afirma que para não deixar de trabalhar com cheques fez parceria com financeiras. "Mudamos a política de crédito para não perder os clientes que pagam com cheques. Em vez de consultar o perfil do comprador, deixamos que a financeira faça a triagem. Assim, recebemos no ato o valor total da compra e eliminamos a chance de prejuízo", garante.

Cruz afirma que, em três anos, a medida reduziu as perdas por cheques devolvidos de 4% do total do faturamento (mais de 80 devoluções por mês) para menos de 1%, hoje. "Mesmo assim, às vezes caímos em algum tipo de golpe."




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;